Um Jantar desagradável

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Olhei em volta e percebi que não tinha absolutamente ninguém na casa dele. Achei muito estranho já que todas as vezes que fui até a casa dele após o acidente, todos estavam em casa.

- Você está sozinho?- perguntei.

- Sim. Meus pais fazem aniversário de casamento hoje e eu pedi pra eles saírem.- ele me explicou e voltou a olhar para o tablet com as anotações que eu havia enviado.- Putz, tem muita coisa.

"Izzy, quando você volta pra casa. Preciso que me ajude com a janta. -Papai"

Vi a mensagem e suspirei,  e sem querer, chamando a atenção do Valentino que ainda estava concentrado nos conteúdos.

- Tá tudo bem?- perguntou deixando o tablet na mesa de centro de madeira clara.

- Tá, é só meu pai. Ele quer que eu volte pra casa e ajude ele com o jantar.- revirei os olhos e guardei meu celular na bolsa.

- Você não parece nenhum pouco animada.- ele presumiu e soltou uma risada leve.

- Nenhum pouco. Ele vai me apresentar a noiva dele e a filha. Por mim eu já estaria no Japão só pra não ter que ficar pra esse jantar.  Enfim, vou ter que ajudá-lo a fazer a janta já que ele não sabe cozinhar absolutamente nada.- expliquei me acomodando no sofá branco em que estávamos.- Será que ainda é cedo para ir para o aeroporto pegar um avião pra Tóquio?- ele riu.

- Não deve ser tão ruim vai. Pense que a família vai aumentar e que elas não são tão ruins assim.- sugeriu. Eu adorava como ele era otimista mas não era tão fantasioso.

- Mas e você? Como vai cozinhar algo com esse braço assim?- questionei me levantando para ir embora.

- Eu dou um jeito.- afirmou. Eu não acreditava nele.

- Vem comigo. Certeza de que niguém vai se importar de ter você lá.- sugeri. Olhei para ele fazendo beicinho, um gesto que nunca falhava quando eu queria pedir alguma coisa.

- Tá bom.- ele aceitou e eu comemorei.

No caminho, por diversas vezes, ele mudou de ideia, mas eu não deixei. Meu argumento era de que já estávamos perto de casa e que ele evitaria que eu me mudasse para Tóquio. 

- Papai, cheguei.- disse abrindo a porta. Ele saiu da cozinha com um avental escrito "melhor avó da mundo". Segurei a risada.

- Oi, Izzy. Que bom que você chegou, pode me ajudar com a massa da torta?- ele perguntou. Nem tinha reparado no Valentino, quando o viu, encarou o braço dele com a tipoia.- E aí Valentino. O que aconteceu com o seu braço? 

- Eu me lesionei durante um jogo. Mas estou melhorando.- disse sem graça. Meu pai fez uma careta ruim

- Aconteceu algo parecido comigo mas me recuperei.- comentou. Larguei minha bolsa em uma das mesinhas de canto da sala.- Izzy, a torta.

- Sim, já vou.- as conversar com o meu pai ainda eram estranhas, não era como antes.- Fica a vontade. Só levarei alguns minutos. 

Fui para a cozinha e comecei a fazer o que eu podia. Fiz a massa, depois o recheio de amoras e coloquei no forno. Não disse nada todo o tempo que fiquei na cozinha com o meu pai, trocávamos no máximo umas seis palavra e só.  Quando eu terminei, voltei para a sala e vi o Valentino olhando umas fotos minhas de quando eu ainda era uma criança. Meu pai havia entregado para ele.

- Você não mudou nada, olha isso.- ele mostrou uma foto minha sorrindo com chocolate no nariz. Ri para ele.- Já acabou?

- Ah, sim. Já tá no forno, só esperar uma hora no máximo. É o tempo de jantarmos e ela esfriar.- respondi. Me sentei ao lado dele.

O11ZE- Uma nova história  ✔️CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora