Fotografias

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Era dia de jogo mas minha animação era inexistente. Eu não tinha noção nenhuma do que aconteceria naquele dia. Não me reconhecia no espelho, geralmente eu estaria com um sorriso bem grande; ansiosa, no bom sentido, e mega animada. No entanto, minha boca não abria um sorriso nem se eu forçasse. 

O dia anterior foi tão estranhamente difícil. Minha atenção nas aulas era mínima, e para variar, vi o Valentino andar pelos corredores, depois do treino, triste e desanimado. Eu queria tanto ir até ele, falar e abraçar, dizer que tudo ficaria bem. Dizer que eu o amava. Era a parte mais difícil de ficar longe dele: querer apoiar mas não poder fazer.

O ano já estava na metade e logo eu iria para o meu último ano no IAD. Ensino médio normal era uma coisa que eu podia excluir do meu histórico de vida. Meus netos vão perguntar o que eu fazia quando era adolescente e eu vou responder que jogava um jogo idiota com alguém que eu não tinha ideia de quem era. Fazia muito tempo que não iámos ao Hat Trick, nos divertir, cantar, dançar em alguma balada.

Antes de sair do quarto, parei e fiquei vendo umas fotos nos porta-retratos em cima da minha cômoda. Fotos com minha mãe, minha avó, minhas amigas e a que eu mais odiava e amava ao mesmo tempo. Uma foto minha na praça, com a ponta do meu nariz suja com chocolate e meus olhos vesgos, tentando olhar para o chocolate. Era a minha favorita porque o Valentino estava nela, comigo, rindo após ele mesmo ter sujado meu nariz. Tirei a foto do porta-retratos e guardei no meu caderno.

Como sempre, o IAD estava em clima de jogo. Gente por todos os lados carregando ou guardando bandeiras dos Falcões na mochila, alguns até com echarpes nas cores do time. Aquele clima festivo me dava um pouco de alegria, mas não era suficiente para colocar um sorriso no meu rosto. Olhei para os lados e vi os meninos super animados, há alguns meses atrás quem poderia imaginar que eles chegariam até onde chegaram.

Fui até meu armário, pegar minhas coisas já que raramente uso mochilas. Peguei a fotografia em meu caderno e a colei no armário com uma fita. A encarei por um tempinho, dando um leve sorriso. Procurei minhas coisas para a aula de biologia. Olson estava utilizando um aparelho que nem ele sabia usar.

— Amei a foto.— disse. Me virei para ver quem estava atrás de mim.— Quando você faz isso com os olhos consegue juntar toda coisa fofa do mundo em você.— era o Eric, ele sorria para mim. Sorri de volta, um sorriso leve, apenas  algo convidativo.

— Bem, a fofura é uma das minhas qualidades, às vezes.— respondi. Ele soltou uma risada, fazia muito tempo que eu não ouvia o Eric rindo.— Você parece muito bem.

— Porque eu estou. Estou morando com a minha mãe em um apartamento, saí da jurisdição do meu pai, tô fazendo terapia e agora sou um homem livre.— o fitei, franzindo a testa.— Quase livre.

— Fico feliz por você, de verdade.

— Só falta uma coisa para ficar perfeito.— paramos na frente da sala de aula. O aperto que eu tinha no peito toda vez que eu falava com ele, sumiu.— Minha melhor amiga. Eu disse que estaria por perto se você quisesse, e eu estou. Só se você quiser, é claro!

— Eu iria adorar, mas tem tanta coisa que devemos conversar...

— É, eu sei e estou disposto a isso, faço que for.— senti sinceridade no que ele disse. Não falei nada, apenas sorri.— Não podemos voltar a ser o que éramos, eu tô diferente, você não tanto mas, eu só queria poder te chamar de minha melhor amiga de novo.

Entramos e nos sentamos. Se foi quase meia hora de aula e tudo o que fizemos foi observar o Olson tentar ligar o projetor e se recusar a ser ajudado por qualquer um que tentasse. Apostei comigo mesma que ele ainda deixaria aquilo cair — é, sei que parece errado pensar assim mas é o Olson, a pessoa mais desastrada que eu conheço.

O11ZE- Uma nova história  ✔️CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora