Tubarões vs Falcões

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Lá estava ela, Amélia. Olhava para o seu celular e parecia estar esperando alguém. Mesmo com a peruca escura e os óculos, a reconheci. Eu achei que ela tinha voltado para Nova York no dia em que foi falar comigo na casa da minha mãe, mas essa não era a parte estranha, ela é uma mulher adulta, poderia estar tirando umas férias ou algo do tipo. A pergunta realmente relevante era: por que estava disfarçada? 

Sem hesitar, esperei o sinal abrir e atravessei a rua movimentada até ela. Amélia não me viu, ou fingiu que não me viu. Se eu ainda tinha alguma dúvida, quando fiquei frente a frente com ela, a incerteza passou imediatamente. 

― Amélia? O que faz aqui?― perguntei. Tentei soar animada para que a minha desconfiança passasse por despercebida.― Amada, eu amei o visual novo!

― Obrigada! Aquele dia o voo foi cancelado por conta de uma tempestade em Nova York, aí resolvi ficar alguns meses e aproveitar o clima quente daqui.

― Cuidado para não se apaixonar, Buenos Aires é incrível!― olhei meu relógio rapidamente e me lembrei do meu pai.― Tô atrasada, me liga, tenho muitas coisas pra te mostrar aqui. 

― Eu ligo.― embaraçada, essa era a palavra que a definia no momento. Era de mim que ela estava se escondendo. 

― Aliás, amei as botas.― atravessei a rua novamente e entrei no carro. 

Eu descobri sua mentira. Estávamos em setembro, tempestades que faziam voos serem cancelados só aconteciam em abril. Agora eu me perguntava porque ela estava na Argentina, era suspeito; num dia ia me avisar sobre JM e depois mentiu para mim dizendo que ia embora, e o disfarce com aquela peruca preta falsa horrível.

Parei de pensar na Amélia e comecei a pensar no que fazer quando chegasse na empresa do meu pai. Eduardo Castellano, o do meio de sete filhos e o mais rico deles, infelizmente, dinheiro não mede caráter. Eu achava que o conhecia até chegar aqui e descobrir todas as mentiras e planos.

O secretário dele me deixou entrar e pediu que eu ficasse sentada na cadeira a frente da mesa. A sala era moderna, o que não me surpreendeu muito. Pinturas abstratas, um tapete vermelho embaixo da sua mesa de vidro com pés metálicos; do lado esquerdo do ambiente, uma estante com alguns livros e decorações. Sentar naquela mesa devia fazê-lo parecer o poderoso chefão em uma cadeira de couro, de costas para uma enorme janela de vidro.

― Ele está em uma reunião, vai demorar uns vinte minutos.― mais tempo do que o suficiente. Eu sabia exatamente onde procurar.

Assim que ele saiu, me levantei e fui até a estante do lado direito da sala. Eu sabia que uma delas era falsa e escondi documentos que não eram para ser descobertos, olhei para cada parte rapidamente e bati meus olhos em uma foto dele com a esposa e a enteada, não tinha uma foto minha ou do Jon naquela sala. 

Consegui achar uma fresta do móvel que não estava encaixada direito na parede. Sem muita força, empurrei silenciosamente para que o homem do lado de fora não pudesse ouvir. Ao invés de uma parede comum, haviam três gavetas empilhadas. Eu não tinha tempo o suficiente para ver todas então me apressei. As pastas estavam organizadas por data e isso facilitava muito minha vida. 

Dez minutos tinham se passado e eu já estava na última gaveta, nada me interessava nas duas primeiras, eram dívidas pagas e recebidas de pessoas que eu nem conhecia, exceto por Matthew Andrews, pai da Madison. Ele devia meu pai e eu nem tinha ideia.

Encontrei algo interessante, não deu tempo de ler tudo, eu tinha que colocar a estante no lugar. Era algo que foi pago, mas não tinha nome, só data e ocorreu um ano antes do desaparecimento do meu irmão. Guardei na bolsa e corri para a cadeira, coloquei minha cara de paisagem e esperei os cinco minutos restantes. Eles passaram voando e eu desejei muito que não passassem. Meu pai entrou na sala, usando seu terno habitual com os mesmos sapatos sociais de trezentos dólares de sempre.

O11ZE- Uma nova história  ✔️CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora