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Queridos, peço que vocês relevem alguns espaços de tempo e música. A música Lost Without You foi lançada em 2013. Para a história, vou mudar a data dela, ok?

⚡️

Quando olhei para o meu relógio, já passava das dez da noite. Ike e Taylor já haviam ido para casa. Fiquei sozinho no estúdio trabalhando em uma música nova.

Eu tinha a música, ela era perfeita, mas não conseguia terminá-la justamente por causa do meu bloqueio criativo. E ele já estava demorando o bastante.

Ouvi o toque do celular e li no visor que era Kate:

— Oi Kate... — Atendi sentindo todo o peso do cansaço.

— Oi, meu bem. Você ainda está no estúdio? Está tarde.

— Eu estava trabalhando em uma música e perdi a hora. Vou fechar tudo e voltar para casa.

— Tudo bem. Venha com cuidado.

Desliguei o celular e voltei para o piano.

"Stay here in my arms tonight
There's nothing that I wouldn't do
I just wanna be the one you're holding onto..."

Não conseguia completar a música. Eu havia ganhado aquele verso em um sonho e havia criado a melodia.

Fiquei tocando as teclas sem nenhum sentido e deixei que meus pensamentos me levassem pelos locais proibidos.

Nova Iorque...

Ela...

Ela estava em Nova Iorque. E tudo indicava que estava lá havia dois anos já. Mas eu não sabia mais nada. Nem sei endereço, nem como estava e nem tinha o direito de saber.

Eu ainda guardava seus e-mails e as mensagens, embora tenha mudado de número. Mas todos estavam salvos em meu ICloud.

Kate nunca soube de Juliet. E achava melhor assim. Havíamos feito aquele acordo de começar tudo do zero. Precisamos fazer aquilo em nome do nosso filho.

Minha mente estava me levando novamente para lugares proibidos. Eu estava tão cansado de me forçar a não pensar nela e em como devo ter acabado com seu coração. Saber que ela estava bem era, de certa forma, um alívio para mim.

Peguei o meu celular e procurei pela sua conta no Instagram. Eu sempre ia atrás de saber como ela estava, porém tudo seu era fechado. Eu não sabia absolutamente nada sobre ela. A notícia que ela estava fora de Tulsa era a primeira notícia que recebia em dois anos. Além, claro, de saber que ela não trabalhava mais na Table.

Só depois descobri que o "chefe" dela era Orlando. E inclusive parte de mim se sentia muito mais culpado por ter feito ela largar seu trabalho.

Respirei fundo e guardei o celular. Estava mesmo precisando parar de pensar naquilo tudo. Eu agora tinha um filho, uma esposa, uma família. Abri mão dela e não posso jamais me lamentar por isso.

Saí do estúdio fechando tudo. A rua estava vazia, era iluminada apenas pelos poucos postes ali. Havia chovido muito a tarde, então o clima estava frio.

Pedi um uber e fiquei esperando em frente ao estúdio. Enquanto o carro não chegava, entrei no e-mail me permitir ler um dos nossos antigos e-mails:

De: oieusouajulieta@gmail.com
Para: zacnosnah@icloud.com
Assunto: Sobre vida e coisas que você não acredita

eu queria muito conversar com alguém sobre isso mas não confio mesmo em ninguém. Você não sabe, mas tive uma tia que se suicidou em meados de 2003. Eu sofri muito, muito mesmo. Eu era novinha de mais para entender todas as coisas, só sabia que tinha perdido uma das minhas melhores amigas. De lá pra cá perdi mais uma pessoa pelo mesmo problema.

Seu nome era Leni, ela era linda, cheia de vida e havia conhecido um rapaz que não era muito legal.

Eu a vi pela última vez em janeiro daquele mesmo ano. Ela morava em outro estado. Dias antes eu havia feito um aniversário surpresa para ela e cantei em sua homenagem.

Hoje senti tanta falta que não consegui me expressar de outra forma a não ser escrevendo sobre ela. Então eu escrevi um poema. Ficou tão ruim, mas achei que talvez você quisesse ler:

Antes que pudesse reler aquele poema que finalizava seu e-mail, meu carro chegou. Me amaldiçoei por estar lendo esses e-mails novamente. Eu já havia lido e relido tantas vezes. Sempre prometia que seria a última vez. Mas nunca era a última.

Eu estava enlouquecendo aos poucos. Primeiro com medo de andar pela cidade e encontrar com ela, depois querendo saber seus motivos para irem embora e agora relendo esses e-mails antigos que nem faziam mais sentido.

Entrei no carro e coloquei o fone de ouvido e imediatamente começou a tocar uma música que ela havia me apresentado. Era ridículo, eu iria enlouquecer.

"Looking up the hill tonight
When you have closed your eyes
I wish I didn't have to make all those mistakes and be wise
Please try to be patient and know that I'm still learning
I'm sorry that you have to see the strength inside me burning"

Eu jamais me perdoaria por ter feito o que fiz com ela.

Deitado na cama, só conseguia pensar em como teria sido diferente se eu tivesse feito outra escolha. E embora eu saiba que a melhor foi mesmo ter ficado com Kate.

— O que está te incomodando? — Kate perguntou ainda de olhos fechados.

— Uma música nova... — Menti descaradamente.

— Você pode ficar com John amanhã? Preciso resolver alguns problemas no banco.

— Claro...

Ela voltou a dormir. Algo realmente me incomodava, e eu sabia que era esse tempo todo me escondendo atrás das minhas escolhas.

Levantei para beber uma água. Aquela casa era imensa. Para chegar na cozinha demoraria pelo menos uns dois minutos.

Caminhando em direção à cozinha, tive uma epifania. E se eu tentasse entrar em contato novamente? Talvez seu e-mail fosse o mesmo. E se eu contasse tudo por e-mail? Será que ela me perdoaria?

Enquanto arquitetava tudo em minha mente, fui até a varanda do segundo andar. A lua estava tão linda, o céu estrelado também. Não era tão lindo quanto o céu do Kentucky ou o sorriso de Juliet.

Sorri lembrando de como me sentia feliz e livre com ela.

JULIETOnde histórias criam vida. Descubra agora