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Soltei o celular como se dele passasse doença.

— Tudo bem, Julie? — Abgail tirou sua atenção do notebook e me olhou.

— Tudo, tudo sim. — Falei nervosa. — O celular só escorregou.

Peguei a porcaria daquele celular e li novamente para ver se aquilo era mesmo real. Abri rapidamente e constatei ser um e-mail novo mesmo. Mas não consegui parar para ler.

Será que se eu apagasse iria me perdoar? Ele não havia falado nada em dois anos. Será que sabia que eu estava em Tulsa?

Precisei levantar e ir tomar um ar. Menti para Ab dizendo que ia a cozinha. Estava difícil até respirar. O que ele queria comigo?

Andei embrulhada com o edredom até a cozinha e bebi mesmo a água. Saí de casa e fui para a varanda. Precisava de um ar fresco, mesmo que fosse frio.

Ainda sem acreditar, peguei o celular e li o e-mail:

De: hanson.zac3@icloud.com
Para: oieusouajulieta@gmail.com
Assunto: Leia esse e-mail

Julieta, eu pensei milhares de vezes antes de mandar esse e-mail. Se realmente deveria te contar tudo mesmo depois de dois anos ou deveria deixar você seguir sua vida feliz aí em NYC. Quando Taylor me falou que você estava morando fora de Tulsa, eu me senti responsável por isso. O que eu fiz não tem perdão e, eu juro pra você que, essa não é uma forma de me aproximar. Mas eu carrego esse peso de ter sido desonesto e covarde com você todo esse tempo.

Eu fui covarde. Eu não soube lidar. Eu fui fraco e eu não estou pedindo seu perdão. Eu não o mereço. Eu só quero que você saiba o que aconteceu.

Dois dias antes de te conhecer, eu fui a casa de Kathryn entregar suas coisas. Eu estava machucado, Juliet. Eu demorei para me livrar de tudo dela. E foi quando fui fraco. Fomos para cama e... bom, três meses depois ela apareceu no Brazil dizendo que queria conversar comigo.

Eu não queria saber dela, eu finalmente havia me desintoxicado. Eu finalmente me sentia livre.

Mas daí ela falou falou aquelas três palavras que mudaram toda minha vida. Ela estava grávida. E de mim.

Eu não fui criado para abandonar alguém que eu havia mudado a vida. Ainda mais com uma criança à caminho. Um filho meu. Eu precisei pensar nele. Precisei ter certeza que ele teria a vida que sempre sonhei para um filho.

Por isso voltei com ela. Eu não queria uma criança criada para lá e pra cá. E eu preciso dizer que não me arrependo do que fiz. Só me arrependo da forma como lidei, Juliet. Eu pensei tantas vezes em te contar. Pensei tantas vezes em largar tudo e ir te ver, me explicar, fazer com que você não me odiasse, fazer com que você entendesse que eu precisava ser pai dessa criança. Um pai completo.

Ele é tudo que mais amo, ele é parte de mim. Eu o amei tanto que engoli o orgulho ferido de ser traído e engoli todo o amor que eu tinha por você. Eu abri mão da minha vida, da vida feliz que teria com você.

Eu queria tanto poder não dizer que, embora tenha passado todo esse tempo, eu ainda espero encontrar você pelos lugares que fomos. Mas eu não posso pois estaria mentindo e isso não é um direito meu.

JULIETOnde histórias criam vida. Descubra agora