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2017

— Eu já disse que se você continuar trocando plantão, você terá grandes problemas.

Anelise era minha chefe de plantão. Eu estava levando outra advertência por trabalhar mais do que permitiam. Mas aconteceram emergências e não tinha como deixar nas mãos de outras pessoas.

— Eu entendo, Sra. Anelise. Vou pegar minhas coisas ineditamente e voltar para casa.

Agradeci e saí de sua sala querendo falar poucas e boas para ela. Eu não estava cansada, eu queria trabalhar. Mas fui barrada. Era melhor mesmo voltar pra casa e dormir.

— Você foi dispensada?

Igor falava comigo em tom de brincadeira, mas eu realmente não estava muito a fim de brincar.

— Vou pra casa. — Falei impaciente. — Que horas são?

— Você fica tanto nesse hospital que nem sabe que horas são!

Resolvi ignora-lo por enquanto. Igor não era minha prioridade naquele momento.

Enquanto caminhava pela área de sutura, vi a outra plantonista. Precisava passar minhas responsabilidades para ela.

— Obrigada, Morgana. Agora vá descansar. — Janette era muito simpática e estava em atendimento.

— Precisamos de alguém para fazer uma sutura. — Uma enfermeira apareceu na sala.

— Já falou com Edward?

— Sim senhora. Não tem ninguém disponível.

— Eu posso ir. — Falei tranquilamente.

— Morgana, não. Você tem que ir pra casa.

— E deixar o paciente esperando? Não, eu posso fazer rapidinho e vou direto pra casa. Anelise nem precisa saber.

Ela pensou um pouco e falou:

— Tudo bem. Mas que seja só isso.

Sorri e pedi para que a enfermeira me levasse ao paciente. Em meio a tantos pacientes, você esquece os rostos e problemas de saúde. Mas aquele rosto eu nunca esqueceria.

Quando li a ficha, na mesma hora senti o estômago embrulhar: Clarke Isaac Hanson.

Boa noite... — Falei entrando na sala e ambos responderam.

A pessoa que o acompanhava era um loirinho barbudo. Eles pareceram não prestar atenção em mim de imediato. Mas estava com medo de Ike não me reconhecer.

— O que temos aqui? — Perguntei me virando para eles.

— Bom, doutora. Eu e meu irmão estávamos... — Ele limpou a garganta. — Brincando no palco quando algo caiu no meu pé.

— Certo.

Olhei o machucado com atenção. Não era muito grande.

— Deve levar só três pontinhos. — Falei por fim.

Enquanto terminava de arrumar o material, pude ouvir:

— Desculpe perguntar, seu nome é qual mesmo?

— Morgana Parker. — Me virei sorrindo e vi que os dois estavam confusos. — O quê? Não lembram mais das tarde que ficávamos ouvindo música enquanto Zac e Tay brigavam?

— NO WAY! — Isaac gritou e deu uma gargalhada logo em seguida. — Você não ia falar nada?

— Achei que não me reconheceriam. — Falei rindo.

— Morgana? Você é a Morgs? — O rapaz que supus ser Taylor perguntou e eu assenti. — Meu Deus, mulher. Há quantos anos!

Ele me abraçou forte.

— Eu não posso levantar, mas vem cá! — Fui até Ike e o abracei.

— Meu Deus... quanto tempo faz? — Ike perguntou rindo.

— Quase vinte anos. — Sorri.

— E você é médica agora! Que doido, Morgana!

— Pois é. Vamos costurar esse pé?

Ele se ajeitou para que eu pudesse fazer i procedimento.

— Então você mora aqui em Boston?

— Sim, desde a faculdade. Ainda rodei um tempo com meus pais até voltar de vez.

— Os Parker... — Ele falou pensativo. — Como eles estão?

— Estão bem. Hoje vivem na Inglaterra. E o Zac? Como está?

— Ele ta bem, casou recentemente. — Taylor falou enquanto me observava fazer a sutura. — Eu e Ike já temos filhos e tudo.

— Que maravilha! Eu estou realmente feliz por ver vocês bem.

Terminei, cortei a linha e estava pronto.

— Pronto, minha gente. Terminei. Agora vou passar alguns remédios para você cuidar desse machucado.

— Estamos em turnê, não sei como vou conseguir me curar.

— A gente dá um jeito. — Pisquei.

— Você sabe que a gente faz o que faz? — Era Taylor curioso.

— Só se eu fosse uma completa alienada para não saber. — Falei rindo. — Eu fui para o primeiro show de vocês em San Francisco. Minha prima era louca por vocês.

— Peraí, em 1997?

— Isso.

— Porque não nos procurou? Deus sabe que naquela época eu queria muito encontrar você!

— Não deu. Não tivemos nem chance. — Falei enquanto terminava de prescrever a receita. — Cheguei a ir em um show aqui em Boston. Em meados em 2000. Eu já tinha entrado na faculdade de Medicina.

— Nossa... Eu nem sei o quê dizer.

— Diga que vai cuidar bem desse pé, Sr. Hanson.

Passei algumas recomendações que foram ouvidas com atenção.

— É estranho você mandando ele tomar conta de um machucado. Uma vez você disse que se passasse xixi na ferida era cicatrizava. — Taylor falou perplexo.

— Taylor... eu só tava tirando onda com sua cara. Eu havia feito uma aposta com seu irmão.

Ike e eu caímos na gargalhada enquanto Tay olhava indignado.

— Não acredito! Vocês são terríveis!

— Foi ótimo te rever, Morgs.

— Também foi ótimo Ike!

— Me passa seu numero! — Ele pediu do nada. — Vai ser ótimo conversar com você, falar sobre os velhos tempos.

— Claro. Anota aí. — Falei meu número rapidamente.

Me despedi dos dois e quando saíram, senti todo o peso do tempo. Mas não tive muito tempo para ficar parada ali. Saí do hospital em direção ao estacionamento. Entrei no carro e, finalmente a ficha caiu: eu estava trabalhando muito.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora