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— É simples, perdoa ele.
— Como eu vou conseguir perdoar? Eu nem sei mais o que eu sinto em relação a tudo isso!
— Morgana, olha aqui pra mim.
Avie me olhou seriamente. Eu não sabia mais o que fazer. Estava cansada, com sono, meio bêbada mas nada tirava Ike da minha cabeça. Eu precisava mesmo de respostas.
—Para de surtar. Já são mais de meia noite e você não precisa decidir nada agora. Eu só quero que você me diga o que sente com tudo isso.
— Mas eu não sei...
— Sabe. Você não está com raiva, mas está feliz?
— Muito sentimento envolvido, eu te entendo que fique assim.
Fechei os olhos e balancei a cabeça.
— Eu sinto isso há tanto tempo... eu só queria entender esse sentimento.
— Eu quero que você entenda uma coisa: essa será a última vez que ele fará isso pra você. Segundo essa carta, você sempre terá um amigo, claro. Mas disponível? Amiga... ele também pode cansar de esperar.
— Eu não queria que ele esperasse...
— Sério? Sério mesmo Morgana? Então porque diabos você está se martirizando feito uma doida? E se ele conseguisse uma mulher hoje?
Não respondi, mas um ciúme cresceu dentro de mim. Eu perderia Ike? Eu estava tão acostumada com as chances e reviravoltas de nossa história que nem percebi que sonhava mesmo com um reencontro.
— Eu só quero que você seja feliz, Morgana. — Ela levantou do sofá e foi em direção à minha cozinha. Fiquei olhando para as paredes. Era injusto pensar que ele me esperaria por tanto tempo. Ele não precisava me esperar. Eu já estava surpresa por ter ficado tanto tempo.
Peguei o celular e sabia que me arrependeria logo em seguida, mas não sei se foi o álcool ou a emoção da hora, mas eu digitei seu número e liguei.
— Alô? Morgs? — Eu ouvi sua voz do outro lado e toda minha coragem se dissipou. — Morgs, você tá aí?
— Você conhece aquela música do Pink Floyd?
— Qual, Morgs?
— Wish you were here? Você conhece?
— Conheço. — Ele pareceu sorrir do outro lado.
— How I wish, how I wish you were here. We're just two lost souls swimming in a fish bowl year after year... Running over the same old ground what have we found?The same old fears, wish you were here...
Cantei desafinada enquanto ria. Pude ouvi-lo rindo do outro lado.
— Eu adoro essa música, Morgs.
— Eu também. Sabia que eu fui no show do Gilmour em 2009?
— Foi mesmo?
— Foi. — Sorri bobamente. Mas lembrei o motivo da ligação e limpei a garganta. — Obrigada pela carta.
— Ora, não agradeça.
— Eu sei que nós somos melhores juntos do que separados. Sempre foi assim. Minha vida virou uma bagunça quando você saiu dela.
— É... a minha também.
— Mas Ike... eu nunca me dei bem no amor. Eu não casei ou tive três filhos como você e sua ex. Eu estraguei tudo. Eu sempre estrago tudo.
— Não é verdade...
— É sim, Ike. Eu sou um verdadeiro perigo e você não merece alguém como eu. Você merece alguém que consegue... sei lá, lidar com a vida sem viver o passado ou que tenha uma boa relação com os pais, ou... que saiba apreciar um bom vinho sem se embriagar...
— Morgana, me deixa falar. Por favor. Eu sei que está tudo confuso, sei que são muitos anos para recuperar e que esperamos muito um do outro. Mas não precisa ser assim. Você não precisa me responder agora ou cantar uma música linda do Pink Floyd agora. Embora eu ame isso em você. Mas não vamos morrer amanhã e não precisamos correr. Eu não quero que me dê o seu "sim" ou o seu "não" enquanto está bêbada e sozinha.
— Avie tá aqui...
— Então mais um motivo. Eu não quero que você decida tudo agora e na pressa.
— Você a ama? A Nicole... você a ama?
— Não. Eu não amo nem a Nicole e nem ninguém além de você.
— Ok. — Virei e vi Avie me olhando curiosa. — Vou desligar já que a Avie está me julgando com o olhar.
— Tudo bem. Durma bem, ok? Nos falamos quando você estiver melhor.
Desliguei o celular e comecei a rir.
— Deus! Eu cantei Pink Floyd pra ele!
— Vocês se acertaram?
— Não, ele quer ouvir minha resposta quando eu tiver sóbria.
Ela me abraçou.
— Agora vamos pra cama que amanhã você ainda terá um dia corrido.
Sem reclamar, fui para a cama sorrindo que nem uma boba.
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MORGANA (CONCLUÍDA)
Roman d'amourSerá que um amor duraria uma vida? Morgana tivera a infância muito atordoada. Como seu pai era um diplomata, viveu boa parte da vida se mudando de país e tendo que fazer novas amizades sem ao menos saber a língua. Ao se mudar para Venezuela, Morgan...