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☀️

Aquela ligação me deixou louca. Quando acordei no dia seguinte, Ike foi o meu primeiro pensamento. Deus, eu precisava mesmo me decidir pelo bem da minha própria cabeça.

Peguei o celular e não vi nenhuma mensagem, o que me deixou um pouco triste. Mas eu ia querer o quê, né? Resolvi não me preocupar e ir para o banho. Era o que me restava. Tinha ainda muito trabalho no dia.

Quando abri a porta para sair de casa, percebi que eu realmente estava aérea. Uma nevasca havia caído em toda NYC. Os caminhões estavam tirando a neve da rua. Não havia nem como sair no carro.

Voltei para o apartamento e fiquei acompanhando pela janela. Aproveitei para fazer um café preto e forte para tentar me recompor do álcool. E, enquanto tomava o café quente e olhava pela janela, pensei sobre tudo, sobre a carta e sobre a ligação. Eu era terrível, eu não era uma pessoa "amável" romanticamente. Eu mal conseguia levar minha vida. Nem uma relação com os meus mais próximos eu conseguia ter. Eu não o jogaria em minha vida atordoada.

Eu faria Ike sofrer.

Eu sabia que jamais iria me perdoar se ele sofresse em minhas mãos. Eu preferia mesmo que ele achasse outra pessoa para amar. Talvez essa era a maior verdade em tempos. Eu o amava.

Eu também havia perdoado ele. Não sei como, mas a mágoa havia partido de forma definitiva. Talvez com aquela carta ou ao ouvir sua voz. Mas eu sabia que jamais teria ele para mim da forma que eu gostaria.

Peguei o celular e fiquei decidindo por uma mensagem ou ligar.

Eu era covarde, eu desistiria fácil ao ouvir sua voz. Eu precisava ser forte pela última vez. Por ele e por mim.

Oi Isaac.
Eu pensei muito antes de te mandar em mensagem. As palavras que eu escolheria, a forma que falaria, um jeito certo de dizer para seguir em frente. Ike, você foi meu primeiro amor e não tem como superar isso. Eu lamento que estejamos nesse empasse quando o mais óbvio é que cada um siga em frente. Eu já lhe disse que acredito mesmo que existem motivos reais para não continuarmos amigos durante todos esses anos. Eu não sei quais os planos para a vida, mas ela tinha um motivo para nos separar. E está tudo bem.
Então, Ike... eu não queria dizer adeus. Eu não queria que você olhasse para mim como uma oportunidade perdida, mas como uma nova chance. Eu sempre te amarei, por toda minha vida. Mas não creio que eu sou uma pessoa amável, Ike. E por mais que diga algo, eu não nasci pra isso. Não nasci para dormir e acordar todos os dias ao lado de alguém, eu não sirvo pra isso. Eu sou uma loba solitária que procura um lugar ao sol. E você merece alguém que queira construir uma vida com você.
Eu liberto você, Ike. Eu o liberto de mim. Liberto de todas as suas obrigações para comigo, sua grande amiga Morgs. Eu peço para que siga sua vida ao lado de alguém que te mereça. E que essa pessoa sortuda possa te fazer muito feliz.
Obrigada por tudo, Ike. Existe um lugar no céu para pessoas como você. Certamente ele jamais será ocupado por outra pessoa.
Não vou me despedir, ok?

Estava feito. Minha última chance havia ido embora depois daquela mensagem. Meu coração doía mais do que eu podia confessar, mas precisava ser forte, precisava ser inabalável. Ao menos agora tudo tinha um verdadeiro fim.

Então quando todo o excesso de neve foi tirado, peguei meu carro e fui para o trabalho. Limpava as lágrimas que teimavam cair. Seria um dia longo.

A resposta de Ike foi: nenhuma. E por mais que soubesse que essa era a resposta mais apropriada, eu me sentia vazia, me sentia extremamente vazia e sem ânimo para nada. Não liguei para Anie e nem iria ligar. Talvez ela conseguisse me entender quando realmente visse que minha vida estava fadada a solidão.

Eu estava conformada.

Os dias depois daquele foram lentos e cansativos, o inverno havia vindo com tudo. A reposta daquela mensagem não chegou. Olhei as redes sociais deles e vi que eles estavam trabalhando no single de Natal.

Sorri imaginando que Ike poderia mesmo ser feliz sem mim. Aquilo doía, mas eu o amava tanto que parecia tudo certo.

Me escalei para trabalhar no Natal e ano novo daquele ano. As lojas já estavam se enfeitando aos poucos.

Em algum dia no final de novembro, eu decidi que iria em uma cafeteria perto de casa. Estava muito frio e eu estava mesmo com vontade de tomar um daqueles cafés deliciosos que acalmavam o coração.

Marquei com Avie que me encontraria lá para colocarmos o papo em dia antes dela voltar para San Francisco. Estava animada por reencontra-la.

Quando entrei na cafeteria, vi vários casais e famílias sentadas nas mesas. Fui até o balcão e pedi um cappuccino hiper cremoso e maravilhoso que eles tinham. Sentei em uma mesa bem reservada no final e olhei a movimentação. Aquele clima pré-natal era tudo muito agradável. Mesmo que eu sempre ficasse sozinha.

Olhando de canto, pude ver um casal apaixonado. Sorri. O amor era mesmo muito bonito. Eu havia feito uma escolha muito arriscada, mas estava conformada. Meu celular vibrou em cima da mesa e vi o nome de Avie aparecendo:

Morgs, eu não consegui mesmo sair a tempo. Talvez demore para chegar. Melhor nos encontrarmos em sua casa, pode ser?

Sem problemas.

Saí da cafeteria e andei uns dois quarteirões no frio até chegar em frente ao meu prédio. Foi quando eu o vi.

Ele estava parado em frente ao meu prédio. Usava um casaco negro e parecia estar com muito frio. Ele também carregava um violão.

— Ike? O que está fazendo aqui.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora