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Cartas que nunca chegariam
1992

É natal!
E já faz quase um ano que não consigo falar com você, Ike. Estou muito chateada por não ter me escrito quando estava no México.
Você não faz ideia de quantas coisas eu ganhei e o tanto de comida que mamãe fez para somente eu, ela é papai.
Sinto muito sua falta, de Tia Diana, Tio Walker, do Tay e até do chato do Zac.

Merry Christmas!
Morgs.

☀️
2017

Querida Morgs, esse mixtape é para comemorar sua passagem de ano mesmo sem saber nada de espanhol. Ike.

— EU NÃO LEMBRAVA DESSE! — Ele falou ao ouvir sua voz de criança saindo do som.

— Foi o que você fez com músicas do Guns. Eu nem gostava muito desse.

— Eu coloquei Extreme. E você gostava deles.

— Eu gosto ainda. — Falei colocando mais vinho em minha taça. — Faz tanto tempo que não os ouço.

— Como pudemos nos perder assim. Eu me lembro que a gente queria fugir de casa para não nos separarem.

— Eu também lembro disso. — Falei rindo. — A gente era meio doido.

— Nem parece que faz tanto tempo quando penso, sabe?

— Encare, Ike. Estamos ficando velhos. — Falei um pouco tristonha. — Mas parte da vida né?

Ficamos ouvindo o solo inicial de November Rain. Não parecia certo falar algo naquela hora.

— Foram dias felizes. — Ele disse abrindo um sorriso sincero. Seus olhinhos se fecharam um pouco. Lembrava bem daquilo. — Posso te perguntar porque você guarda tudo isso, Morgs?

— Bom... — Eu estava envergonhada. — Eu não consigo me livrar de coisas sentimentais. Eu noivei alguns anos atrás e até hoje guardo a aliança. — Falei rindo. — Eu até quis devolver, mas ele não aceitou...

— Noivou? Você não casou?

— Não. É uma longa história. Talvez te conte outro dia. Não queremos lágrimas de tristeza e sim de nostalgia. — Peguei uma das fotos que estavam jogadas por cima dos álbuns. — Você lembra disso?

Na foto estavam eu, Ike, Tay e Zac vestidos a caráter. Havia sido a apresentação de Queen.

— Lembro do Laquê e de como foi difícil tirar aquela porcaria!

— Vocês me ajudaram na apresentação.

— Você passou mal no dia, não foi?

— Só de lembrar já sinto uma dor no estômago. Nunca aprendi a falar em público.

Ele então pegou outra foto onde estávamos nós dois dividindo um fone.

— Eu lembro disso! Foi quando sua mãe fez um bolo de aniversário pra mim. — Ele sorriu e depois pareceu pensar em alguma coisa. — Baunilha. O bolo era de baunilha. E eu fiquei feliz por ter dois bolos.

— E não ficou triste por nenhum dos meninos da escola terem ido pro seu aniversário. — Peguei a foto e sorri.

— Eles eram uns babacas. Inclusive aquele Juan alguma coisa.

— Eu gostava dele. — Disse rindo. — Mas nunca confessaria isso pra ninguém. Negaria até a morte.

Começou a tocar Extreme e senti meu coração bater mais forte.

— Você amava essa musica, né? — Ele perguntou quando viu minha reação.

— Fazem anos que não a escuto.

Levantei da sala com a desculpa para pegar mais uma garrafa de vinho e quando estava na cozinha, comecei a chorar. Nem sabia direito o que era. Foi tão difícil ficar sem ele. Aquele foi o pior ano da minha vida.

— Morgs, talvez fosse melhor... Você está chorando?

Limpei rapidamente as lágrimas e me virei.

— Quem? Eu? Claro que não. — E me forcei um sorriso.

— Você continua péssima quando tenta mentir.

Soltei um riso sincero.

— Você deseja o quê mesmo?

— Bom... — Ele coçou a cabeça. — Agora eu me esqueci.

— Como sempre né, Ike?

A campainha tocou.

— Deve ser a pizza! — Falei quase que gritando e saí da cozinha. Queria fugir daquele diálogo.

— Foi ótimo, Ike! Hoje eu realmente fiquei muito feliz em te rever.

Ele estava em minha porta e chamava um uber.

— Eu sei que foi difícil pra você ficar sem notícias. Também foi o pior ano da minha vida. Eu me sentia culpado por ter perdido o seu endereço.

— Teve que acontecer isso, né? — Sorri. — Vamos repetir isso outras vezes.

— Com certeza! Quando vier a Boston, precisamos desencaixar mais coisas. Aposto que tem mais coisa.

— Sempre tem, Ike.

— Eu vou indo. Nos falamos qualquer dia.

Nos abraçamos e ele se foi. Senti meu coração partir em mil pedaços. Eu estava feliz por tê-lo reencontrado, claro. Mas minha tristeza vinha pelo tempo que havíamos perdido. Tudo isso por pequeno erro bobo. Isso jamais aconteceria se tivéssemos internet naquela época.

Ike fazia parte da minha história. A parte mais alegre, mais feliz, mais pura. Com ele nunca foi mais que amizade e nem menos que amor.

Fui até a janela para ver se ele já havia ido embora, então eu o vi entrando dentro do uber e olhando para cima, mas ele com certeza não me viu.

Morgana voltava à realidade novamente

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora