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Quando estava com Ike eu não tinha medo de nada. O problema sempre acontecia quando ele não estava. E encontrar Patrice em minha porta naquele dia, me causou pavor. Um pavor há muito adormecido, até então.
— O que faz aqui, Patrice?
— Não vai me convidar para entrar nessa... — Ela olhou ao redor. — espelunca?
— Se veio para falar mal do meu apartamento, é melhor voltar para sua vidinha medíocre.
— Eu estou Lisa. Peguei um ônibus para vir até aqui e gastei todo o dinheiro que eu tinha.
— Eu pago seu ônibus de volta. Só vai embora, por favor.
— Eu estou encrencada, Morgana. Realmente encrencada.
Olhei para ela que parecia com fome. Estava magra e suja.
— Entra. E nada de falar do meu apartamento.
Ela entrou e olhou tudo ao redor.
— Vi um homem saindo daqui agora a pouco. Está namorando?
— Isso não lhe interessa, Patrice. — Me escorei na porta e cruzei os braços. — Antes que lhe dê comida ou deixe que entre em meu banheiro, quero saber o que faz aqui.
— Bem... — Ela baixou o olhar. — Eu... Eu estou devendo para umas pessoas.
— Porque isso não é surpresa mesmo? — Falei indignada. — Quando você vai aprender? Toda vez que você você aparece, você está na merda. Eu sempre te ajudo e você volta a fazer merda.
— Agora é muito sério, Morgana... ele estão me ameaçando...
— O que você fez?
Ela baixou os olhos e é balançou a cabeça.
— Foi droga? Sério? De novo? Quanto é dessa vez? 300, 500 dólares?
— Dez mil...
— O quê? — Perguntei incrédula. — Dez mil dólares? Como você ficou devendo tudo isso?
— Eu fui roubada. — Ela falou olhando para mim. — Eu juro que eu fui roubada. Eu peguei pra vender mas...
— Patrice... Eu não tenho esse dinheiro. — Falei rendida. — Eu juro que não tenho. Eu acabei de me arrumar aqui. E aliás, como soube que estava morando aqui?
— Eu sempre sei tudo de você... — Ela virou os olhos. — Eu preciso desse dinheiro.
— Eu não vou poder ajudar dessa vez.
— Morgana, você sabe que eu sei muita coisa... eu posso relavas tudo e vai ser um escândalo.
— Pois é isso que vai acontecer. Patrice, dez mil é mais do que eu posso pagar. Por que diabos você ainda faz isso?
— Eu preciso sobreviver, Morgana.
— Vendendo drogas? Estando sujeita à isso? Você precisa mesmo disso?
— Eu vim aqui pedir ajuda e não ouvir sermão.
— Você veio pedir dez mil dólares, dinheiro que eu não tenho. Se não quisesse ouvir sermão, teria mudado, voltado pra faculdade e trabalhando como uma pessoa comum.
— Eu sei que você tem esse dinheiro, você não gasta com nada.
— Você veio me subornar. Se você quiser abrir a porra da boca, pode abrir. Eu não vou ter como te dar esse dinheiro. E olha, mesmo se eu tivesse, eu não iria entrega-lo assim. Preciso trabalhar muito pra conseguir ganhar dez mil. Você já é adulta e está na hora de parar de depender de mim ou qualquer outra pessoa que você... sei lá, suborna. E antes que peça para dormir aqui, a resposta é não. Não estou preparada para acordar e você ter levado tudo para vender. Eu estou cansada de você. A última vez você tinha dito que ia ser a última.
— Você tem coragem de fazer isso comigo? Sua irmã?
— Não me chama de irmã! Eu não sou sua irmã, nunca fomos irmãs. Você apenas aparece quando quer algo.
— Nosso pai...
— Patrice, olha só, apenas minha cordialidade faz com que eu não te expulse da minha casa agora ou chame a polícia. Eu já cortei relação com aqueles dois, o que você quer que eu faça para me deixar em paz?
Ela ficou em silêncio alguns segundos.
— Eu estou com medo, Patrice...
Então eu a vi chorar. Droga... que merda! As pessoas sabiam que eu me derretia quando elas choravam.
— Porque não foi atrás do seu pai? Ele tem esse dinheiro fácil.
— Eu não quero que ele saiba que eu fracassei. — Ela limpou as lágrimas. — Eu pensei que talvez você pudesse pedir a ele.
— Eu? Eu não falo com ele há anos! De onde tirou essa ideia?
— Bom, você não fala com ele, é justo que ele pense que você está na merda.
Ela era inacreditável. Sem noção, maldosa e uma cobra que eu já estava acostumada com o veneno.
— Você não mudou e nunca vai mudar. Você acha mesmo que eu tenho que te ajudar, não acha? Eu não tenho nenhuma obrigação com você. Volte pra os braços do seu "papai" e peça ajuda. Acabou pra mim.
— Você só pode estar de brincadeira! Você prefere me ver morrendo a vender essas merdas? — Ela apontou para a televisão, sofá e outros móveis.
— Acontece que eu trabalhei para comprar cada uma dessas coisas. Você não sabe o que é isso e por isso está encrencada. Eu cansei de você.
Abri minha porta. Não daria um copo de água para ela.
— Agora vá embora antes que eu realmente chame a polícia.
— Você não faria isso...
— Quer pagar pra ver?
Ela me fuzilou com os olhos e saiu pela porta. Mas logo depois virou pra mim.
— Se você acha que isso vai ficar assim, Morgana, você está muito enganada. Sua vida será um inferno daqui pra frente. Assim como a vida de todos ao seu redor.
E saiu. Eu estava tremendo de ódio. Como ela ainda tinha coragem de aparecer assim? Eu já havia gastado mais do que dez mil para limpar sua barra. Mas ela não podia mais me subornar, eu não tinha o dinheiro. E mesmo que tivesse, seria inútil. Ela voltaria pedindo mais.
Mas agora eu tinha um problema enorme em minhas mãos.

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MORGANA (CONCLUÍDA)
RomanceSerá que um amor duraria uma vida? Morgana tivera a infância muito atordoada. Como seu pai era um diplomata, viveu boa parte da vida se mudando de país e tendo que fazer novas amizades sem ao menos saber a língua. Ao se mudar para Venezuela, Morgan...