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☀️

Quando recebemos a notícia de que Zac havia sofrido um acidente, eu perdi meu chão. Lembrei daquele garoto pentelho que vivia correndo, grudava chiclete no meu cabelo e atentava minha vida. Agora ele estava internado em estado grave.

Quando deixei as crianças com a babá de Natalie e encontrei Ike, eu vi o medo em seus olhos.

— E se ele não sobreviver, Morgs? — Ele falava desesperado, com o choro entalado na garganta.

— Ele vai ficar bem. — Eu acreditava naquilo, acreditava mesmo. — Vamos para o hospital que lá eu posso conversar com os médicos.

Mas Juliet havia acabado de chegar. Ike precisou contar para ela. Quando eu a vi desfalecer, corri para ajudá-la.

Se me perguntarem sobre aqueles dias, eu confesso que não saberia dizer muita coisa. Somente de ver o sofrimento da noiva de Zac ao perder um filho que ela, se quer, sabia estar carregando na barriga.

Enquanto ainda estávamos no hospital, conversei com os médicos e a resposta era a mesma: não sabíamos se ele havia ficado com alguma sequela. Eles já haviam feito de tudo.

Foi no hospital também que descobrimos que Kathryn havia levado o filho de Zac para a Inglaterra. Eu sabia que poderia ajudá-los de alguma forma. E foi somente por isso que peguei meu celular naquele dia e disquei o número do meu pai:

— Morgana, filha? — Ele atendeu surpreso.

— Hey, pai... — Fechei os olhos e senti que poderia cair a qualquer momento. — Feliz Natal.

— Feliz Natal, meu amor. Eu estou tão feliz que você tenha ligado...

— Espero que estejam bem. Mas eu liguei pra pedir um favor.

— Pode falar...

— O sobrinho do Isaac foi raptado pela mãe. Soubemos agora que ele está na Inglaterra. Infelizmente não sabemos a cidade, mas chutamos que seja Londres.

— Me passe o nome completo dela e da criança. Eu posso tentar dar um jeito o mais breve possível.

Pedi para Taylor me passar o nome completo dos dois já que Ike estava no quarto com Zac naquele momento.

— Ligo dentro de uma hora. — Ele falou com firmeza.

— Obrigada pai...

— Que tipo de pessoa eu seria se não te ajudasse, filha?

Sorri tristemente. Agradeci novamente e desliguei.

— Vamos dar um jeito. — Falei olhando para Taylor.

Não demorou uma hora pra receber o telefonema de meu pai.

— Resolvido. — Foi a palavra que ele usou quando atendi. Meu coração ficou aliviado. — Ela estava na casa de um homem que ela diz ser seu namorado. E ela também falsificou a assinatura do pai. Já entrei em contato com a polícia de Tulsa e ela deve chegar logo por aí.

— Muito obrigada, pai. Muito obrigada mesmo.

— Eu fiz isso de coração. — Pude ouvir sua voz um pouco mais calma. — Estou indo aos Estados Unidos para passar o Réveillon. Será que podemos nos ver?

Pensei bem naquilo. Ike tinha razão, precisava mesmo me libertar do ódio e da mágoa. Conversar com ele seria um bom passo.

— Tudo bem, pai. Me ligue quando chegar.

Após desligar, chamei todos os Hanson que estavam na sala de espera e falei o que havia acontecido. Disse para entrarem em contato logo com a polícia para acompanhar o transporte dos dois.

Agora só o Zac precisaria melhorar. E tudo estaria nos trilhos novamente.

— Você é incrível, sabia?

Ouvi a voz de Ike enquanto eu pegava um café na recepção do hospital. Zac já estava fora do perigo e tudo ia voltar aos eixos.

Me virei para olhar para Ike que sorria docemente:

— Você que é incrível, Ike.

— Você conduziu tudo de uma forma tão humana... — Ele falou me abraçando. — Até ligar para seu pai...

— Eu acho que você tem razão. Eu preciso conversar com ele. E com minha mãe também. Não tenho mais tempo de guardar esse ódio todo.

— Saiba que estarei aqui para tudo.

— E para se apresentar ao meu pai como meu namorado? — Perguntei sorrindo. — Você está?

— Ao mundo todo se você quiser.

Eu o abracei mais forte deixando que seu perfume invadisse todo meu ser. Deus... Ike não podia ser mesmo real. Mesmo com aquela loucura toda, ainda assim, ele me fazia sentir segura.

Já com todos fora de perigo, pudemos aproveitar mais o tempo. Ajudei Natalie com as crianças e Juliet que ainda não podia fazer muito esforço. Também ajudei Diana a planejar o Réveillon no hospital com Zac. Estávamos animados com a sua melhora, embora o prognóstico fosse de que ele levaria mais ou menos um ano para se recuperar completamente.

— Eu faço em oito. — Ele falou animado depois que os médicos disseram isso. E eu sabia que ele poderia.

Meu pai chegaria no dia 30 de dezembro. Nas vésperas do ano novo. Ele iria direto para Tulsa para nos encontrarmos. Eu agora tinha só que esperar mais um pouco.

As coisas estavam funcionando.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora