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❄️

— Oi filho...

Quando meus pais me chamaram para almoçar naquele domingo, eu não pude negar. Eu havia colocado toda minha força no trabalho com os meninos. Era o primeiro a chegar no estúdio e o último a sair. Em minha geladeira não havia outra coisa além de bebidas. Era inegável, eu estava mal.

— Ei mãe... — Sorri ao abraçá-la. Ela sempre sabia quando algo estava acontecendo. Grande parte por causa dos garotos, mas tinha algo que me dizia que ela sempre sabia.

— Fiz ravióli, sei que faz tempo que não come uma comida boa.

— Espero que tenha feito muito.

Entramos em casa e percebi, pela primeira vez, o silêncio que agora habitava nela. Sempre fomos crianças barulhentas e animadas. A casa enorme sempre estava com alguém fazendo algo na sala ou tirando uma música na varanda. Agora havia um silêncio estranho. Com exceção de uma música baixinha que saía do velho som do meu pai.

Encontrei ele sentado no sofá vendo alguns encartes de CDs. Fui abraçá-lo.

— Senti uma vontade enorme de ouvir meus discos antigos. — Ele falou após o abraço. — Sente-se. Diana e Margot ainda estão terminando o almoço.

Sentei na poltrona ao seu lado. Peguei alguns CDs e percebi que ele era mesmo dos clássicos.

— Estou reorganizando a coleção. Temos alguns dobrados, pensei em vender para colecionadores.

— Seria ótimo, dá um bom dinheiro.

— Sim, e agora sua mãe está querendo voltar a Israel. Seria de boa ajuda.

Ele parecia um pouco abatido.

— Tudo bem com o senhor, pai?

— Tudo sim, filho. É a velha indisposição desses dias. Está bem quente e eu não tenho mais quarenta anos.

— O senhor está ótimo, pai! — Peguei em seu ombro.

Ele balançou a cabeça, mas parecia mesmo triste.

— Filho, você ainda tem contato com a Morgana? Faz tempo que não sei notícias suas. Da última vez havíamos marcado um churrasco e ela... bom, ela não apareceu. Taylor disse que ela havia voltado com urgência para casa.

— Não, pai... não tenho mais contato com ela. Na verdade eu acho que... eu acho que não somos mais amigos.

— Sério? — Ele pareceu surpreso. — Poxa, que pena... eu tinha alguns discos do Queen aqui e que queria dar a ela. Aliás, nem sei se ela ainda gosta deles.

— Ela ainda é louca por eles. — Sorri pensando que ela realmente era louca por eles.

Eu não sabia como, mas em algum momento Morgana havia virado tudo para mim. E no momento seguinte, não podia mais procurá-la.

— Mas eu ainda tenho seu número, posso lhe dar, caso queira. — Falei. Eu havia pensando mil vezes se deveria excluir seu número. Mas simplesmente não conseguia. Algo dentro de mim falava para esperar o tempo passar.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora