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Era como constatar um fato: eu não era para relacionamentos. Eu havia perdido absolutamente todos ao longo daqueles 37 anos.
Eu superava. Eu sempre superava.
Mas acontece é que doía mais do que eu gostaria de admitir. E não tive coragem de mandar nada para o Ike enquanto ele estivesse em NYC ou diria que estava apaixonada e tudo ia piorar. Só me restava uma coisa: seguir a vida. Voltar ao trabalho e esquecer aquele sentimento ruim.
Tentaria fazer aquilo sem me afastar de Ike. Eu precisava ser forte. Eu havia passado tanto tempo me lamentando por não tê-lo perto de mim e agora teria que aceita-lo da forma que ele era. Eu não sentia isso quando ele estava com a esposa, não poderia sentir agora.
Os dias no trabalho foram intensos e cansativos. Mas era bom, eu ocupava minha cabeça com algo e quando chegava em casa, eu somente dormia. Agora eu conseguia dormir. Na verdade difícil mesmo era acordar.
Ike, claro, voltou a me ligar e mandar mensagens. A gente conversava tranquilamente, ele mal falava de Arabella e eu fingia que ela não existia.
Em uma dessas nossas conversas aleatórias, perguntei:
— Ike, você achou mesmo que gostava de mim?
— Achei. Achei mesmo. Não sei bem como aconteceu mas... Morgs, você sempre foi linda. Você é linda hoje. Era óbvio que eu iria me apaixonar. Ou achar, sei lá...
— Quando você viu que não era apaixonado?
Ele ficou em silêncio alguns segundos.
— Eu não sei... só não senti mais isso dentro de mim. E Arabella... bom, ela me mostrou que eu podia tá só com medo da solidão.
Sorri tristemente.
— Porque está perguntando isso?
— Na verdade eu não sei. — Mentira. — É que eu não imaginei que pudesse sentir algo assim.
— Morgs, eu sei que somos amigos e eu faria isso de qualquer forma mas... eu reuni toda a família para fazer um aniversário pra você. Mesmo você a milhares de quilômetros. Claro que eu estava confuso, mas fiz mesmo assim.
Ele tinha razão.
— Meu aniversário está chegando e eu não quero menos do que aquela festa, ok?
Ele riu alto do outro lado.
— Claro, Morgs. É só você chegar em Tulsa. Já fiz esse convite várias vezes.
— Você faz todo dia.
— Faço. Venha me ver em Tulsa, por favor.
Ri novamente.
— Eu já disse: vai rolar.
— Eu deveria parar de ir a NYC até você decidir vir aqui.
— Você sabe que é injusto.
— Eu sei que é.
Ficamos em silêncio novamente.
— Eu fiquei pensando, Morgs. Acho que eu agi errado com você.
— Como assim?
— Eu achei que seria uma boa ideia chegar de uma vez e pedir pra você provar a minha namorada que éramos apenas amigos.
Namorada. Ela era agora a sua namorada.
— Foi constrangedor, Ike. E eu confesso que se fosse qualquer outra pessoa, eu jamais teria aceitado. Somos amigos, não tenho que ficar provando nada.
— Eu sei. E eu peço desculpas. Mas você causou boa impressão. Ela gosta de você.
— Ela é uma boa pessoa. — Eu não havia mentido. Ela era, ou parecia ser. Mas eu não poderia dizer que gostava dela.
— Mas Morgs.
— Hum...
— É tão absurdo assim ter ciúme de nós dois?
Pensei um pouco.
— Como assim?
— Eu vou te visitar em NYC, a gente troca carta e SMS o dia todo, eu te ligo a noite. Eu gravo fita dizendo que te amo e eu realmente te amo. É claro que qualquer namorada teria ciúmes.
— Você não disse que éramos apenas amigos? Ela deveria acreditar em você.
— É difícil ser segura quando você é maravilhosa.
Meu rosto ficou vermelho. Com certeza ele havia ficado vermelho.
— Não importa. Você tem palavra e também caráter. Você jamais a trairia por mais maravilhosa que a pessoa fosse.
— Sim, isso é verdade.
Ficamos em silêncio novamente e ele cortou:
— Eu queria te ver agora.
— Seria bom dividirmos um sanduíche de pasta de amendoim com geleia.
— Seria. — Ele riu. — Já está tarde, eu preciso desligar.
— Tudo bem, Ike. Eu preciso ir dormir também. Boa noite.
— Te amo, ok? Jamais esqueça disso.
— Eu também te amo, Sr. Hanson.
Quando desliguei, senti tudo dentro de mim. E foi isso que aconteceu. Eu deitei na cama querendo dormir, mas ouvi a voz de Ike em meu ouvido.
— Eu te amo...
Senti suas mãos em minhas pernas, subindo pelo meu corpo, passando pelo meu cabelo, respirando em meu ouvido.
— O que está fazendo?
— Te fazendo minha.
— Mas eu já sou sua, Ike. Sempre fui.
Então eu apaguei.
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MORGANA (CONCLUÍDA)
RomanceSerá que um amor duraria uma vida? Morgana tivera a infância muito atordoada. Como seu pai era um diplomata, viveu boa parte da vida se mudando de país e tendo que fazer novas amizades sem ao menos saber a língua. Ao se mudar para Venezuela, Morgan...