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☀️

Eu estava nervosa. Era o primeiro show do Hanson que eu ia em anos. E foi divertido quando Ike ligou dizendo que tinha colocado meu nome na lista de entrada. Por sorte também, não era meu dia de plantão.

Eu assistiria na área VIP onde apenas convidados assistiam e me senti mesmo importante. Eu também ia sozinha já que não tinha feito nenhuma amizade sólida naqueles dois meses trabalhando no hospital. Não consegui identificar ninguém que gostasse da banda.

Me olhei no espelho e estava satisfeita com minha calça jeans e camiseta branca. Não queria me arrumar tanto já que achava que iria suar.

Quando estava saindo de casa, senti meu celular vibrar. Olhei para o visor e sorri:

— Hey Ike!

— Tudo certo pra vir?

— Tudo sim! Estou saindo de casa agora. Volte para seus irmãos. Nos encontramos já!

Ele me mandou um beijo e desligamos. Eu estava ansiosa e feliz. Nossa amizade estava sólida e falávamos sempre sobre nossas vidas sem precisar tanto de recordar o passado.

O celular tocou novamente e pensei ser Ike novamente, mas não era:

— Alô?

— Dra. Parker, boa noite. Aqui é Victoria, da ala de obstetrícia.

— Oi Victoria, em que posso ajudá-la?

— Doutora, estamos em uma emergência agora com uma mulher com pré-eclâmpsia. A médica plantonista está atendendo outra emergência.

— Estou indo agora.

Desliguei o celular e corri para o carro. Liguei várias vezes para Ike tentando avisar, mas ele não atendia. Decidi deixar um recado rápido na caixa de mensagens e depois explicaria a ele:

— Ike, houve um imprevisto agora e eu talvez não chegue a tempo. Me desculpe.

Enquanto dirigia para o hospital, algo dentro de mim tremia. Eu já havia feito o parto assim, mas era sempre muito difícil e cansativo tanto para a mamãe quanto para mim.

Respirei fundo. Eu seria capaz de fazer aquilo.

— Hora da morte?

Ouvia enfermeira perguntando enquanto eu tirava as luvas e olhava para o relógio:

— Meia noite em ponto. Mãe e bebê.

Saí da sala do parto me sentindo a pior das pessoas. Quando havia chegado no hospital, a mãe já tinha tido três convulsões e estava inconsciente. Tentamos de tudo por quatro horas, mas o resultado foi o pior.

Eu nunca havia perdido uma pessoa assim. Eu ouvia na faculdade que uma hora aconteceria. Que iríamos sempre trabalhar o nosso máximo para que nunca acontecesse. E eu sempre fiz meu trabalho para que aquilo nunca acontecesse, para que nunca perdesse um paciente m. Principalmente dois.

Andei pelo corredor e vi um rapaz que estava sentado numa poltrona com as mãos na cabeça. Respirei fundo, precisaria dar a notícia. Eu não sabia como ele reagiria.

— Sr. Evans?

Ele levantou imediatamente ao me ouvir:

— Como está minha esposa, doutora? E o bebê? Ele nasceu? Ele tá bem?

— Sr. Evans, por favor, se acalme. Nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance...

Oh no...

— Infelizmente senhor... — Senti aquele aperto na garganta. — Sua esposa e seu filho não sobreviveram.

— Não... — Ele começou a chorar. Eu o abracei tentando consola-lo, mas absolutamente nada poderia fazer para que aquela dor passasse.

Uma assistente social apareceu e eu pude voltar para minha sala. Quando me tranquei nela, eu chorei. Chorei como jamais havia chorado em minha carreira como médica.

Tirei o jaleco e sentei na poltrona. Eu simplesmente não conseguia raciocinar direito. E se eu estivesse dirigido mais rápido? Talvez tivesse evitado uma das convulsões.

Ouvi meu celular apitando dentro da bolsa. Limpando as lágrimas, tirei o celular de lá e vi varias mensagens de Ike perguntando onde eu estava. A última era:

Deixa pra lá...

Não responderia ele agora. Não responderia ninguém naquela hora. Nem mesmo Ike que deveria estar chateado comigo.

Peguei todos meus pertences e voltei para casa. Mal sabia o caminho que estava tomando. Dirigi sem rumo por umas duas horas até que, finalmente, cheguei em casa.

Depois de um banho demorado, deitei na cama. E em meio a tanta tristeza, chorei madrugada adentro até apagar totalmente.

❄️

Estávamos no camarim quando o produtor pediu para que olhássemos os instrumentos recém organizados. Havíamos tido um pequeno problema de troca de lugares, mas não foi nada tão sério. Quando voltamos para o camarim, vi que tinha dez ligações de Morgs e um recado na caixa de mensagem.

Ike, houve um imprevisto agora e eu talvez não chegue a tempo. Me desculpe.

Fiquei preocupado e tentei ligar novamente. Mas ela não atendeu. Talvez isso quisesse dizer que ela não chegaria a tempo de falar conosco ou bem a tempo do show.

Mas com o tempo, percebi que ela não chegaria mesmo. Quando entramos no palco, não a vi em lugar nenhum. Me desconcentrei em algumas músicas enquanto ainda a procurava pela área VIP.

Recebi olhares indignados dos meninos. E, durante os solos de Zac e Taylor mandei algumas mensagens. Eu estava ansioso, queria que ela ouvisse o meu solo, eu havia feito um especialmente para ela.

— Que diabos se passa com você, Ike? — Taylor apareceu com raiva enquanto Zac fazia seu solo. — Eu nunca te tão desconcentrado assim.

— Não é nada, Taylor.

— Então é melhor você começar a se concentrar que ainda temos meio show pela frente.

Taylor estava certo, eu não podia mesmo me desconcentrar assim. Mandei uma última mensagem para ela. Por algum motivo ela não foi, era óbvio que aquilo me deixava chateado. Mas iria sobreviver.

Naquela mesma noite quando saímos para jantar, Spencer, nosso assessor, nos apresentou Arabella, a nossa nova Relações Públicas. Ela era uma mulher muito bonita e interessante. Conversamos a noite toda. Pelo menos naquele tempo, não pensei em Morgs e em como estava triste por ela não ter aparecido.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora