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❄️

Não lembro bem quando aconteceu. Mas quando iniciou o ano de 2018, eu e Nicole já estávamos afastados. Demorei algum tempo para perceber, mas mal conversávamos dentro de casa. Saíamos com nossos filhos e éramos uma família perfeita. Em casa, entretanto, tudo mudava.

Então não foi uma surpresa tão grande quando ela chegou um dia e disse que queria o divórcio.

Eu fiquei arrasado. Me senti péssimo e achei mesmo que tinha fracassado. Não brigamos, não houve litígio e resolvemos amigavelmente tudo. Quis deixar a casa e o carro para ela além da pensão. Eu queria mesmo que ela fosse muito feliz, mesmo que aquilo me matasse por dentro.

Quando me mudei para o apartamento modesto na área comercial da cidade, soube que havia fracassado.

Em um desses dias estranhos de fevereiro, depois do ensaio longo e cansativo, recebi uma mensagem curiosa.

Hey!
Hoje eu encontrei uma foto divertida.
Lembra quando fomos no "Chorros de Milla Zoo" e aquele avestruz "correu" atrás do Zac?

E na foto havia o Zac correndo e chorando enquanto o avestruz só olhava para ele.

Aquele dia foi primeiro dia que conseguira rir de verdade. Rir até chorar. Peguei o celular e liguei para ela:

— Não acredito que achou essa foto! O Zac era mesmo a mais dramática de todas as pessoas.

— Ele não conseguia passar um dia sem chorar por causa de alguma coisa. — Ela parecia ter rido muito. — Como está, Ike?

Ninguém além de minha família sabia sobre a separação. Eu não queria expor nossos filhos e muito menos Nicole. Eu sabia mesmo que Morgs era confiável, mas não quis contar por um único motivo: não queria que ela me achasse mesmo um fracassado.

— Está tudo bem. E por aí?

— Estou numa loucura. Recebi uma proposta de emprego em NYC, acredita? Você acha que vai dar pra adequar a agenda do Hanson pra lá?

— Faremos o possível. — Falei fingindo estar pensativo. — Que maravilha, Morgs. É por isso que está achando essas pérolas? Está arrumando tudo pra se mudar?

— Isso. Na verdade eu estou arrumando esse monte de tralha aqui e decidindo o que vou me livrar. Novo ano, preciso fazer novas lembranças. Acredita que ainda tenho o vestido que usei nos meus quinze anos?

— Você teve festa de quinze anos?

— Fui obrigada, na verdade. Você sabe como era minha mãe né?

— Não consigo te imaginando de vestido e dançando valsa com algum garoto.

— EI! Eu tinha namoradinho com quinze anos, ok?

— NO WAY! — Eu estava surpreso.

— O quê, Ike? Não foi só sua boca que eu beijei, viu?

— Você se lembra? — Perguntei rindo. — Eu pensei que tinha esquecido!

— Ninguém esquece o primeiro beijo, Ike. Não seja idiota.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora