0|36

686 62 21
                                    

❄️

Quando percebi, o sol já havia invadido meu quarto. Eu havia bebido mais do que deveria e sabia disso. Não era mais um rapaz de vinte anos. E pior, deveria ter dado um trabalho desgraçado para Juliet.

Ouvi um som vindo da sala, provavelmente era Zac tocando no teclado. Sentei na cama sentindo a tontura da irresponsabilidade. Precisava pedir desculpas a Juliet, mas eu só queria mesmo morrer.

Com um esforço imenso, levantei da cama. No relógio já marcava onze da manhã, certamente não seria um dia que eu iria na casa dos meus pais. Seria lamentável aparecer neles daquela forma. Ligaria para minha mãe e resolveria isso o mais breve possível.

— Hey! — Falei ao chegar na sala e vê Zac concentrado.

— Hey, bela adormecida! — Ele falou tão animado e sorridente que fiquei curioso. — Você deu um trabalhão pra mim e Juliet ontem.

— Você não parece tá com raiva. — Falei rindo e indo em direção à geladeira. — Desculpa mesmo.

— Tudo bem. Eu só ganhei com isso. Eu acho que dessa vez vou me entender com ela, sabe?

Me escorei no balcão enquanto abria a tampa da garrafinha. Aquilo me pegou de surpresa:

— Como assim?

— Ontem conversamos muito depois te colocamos na cama. Eu dei uma carona pra ela, então...

— Sério, Zac? Caramba, eu realmente fico muito feliz que isso esteja acontecendo. Ela é uma ótima garota.

— Ela é sim. — Ele sorriu olhando para o nada. — Ela também canta divinamente bem. Fiquei mesmo impressionado já que ela está tendo aulas de violão.

— Wow! Que máximo! O que você está fazendo agora?

— Terminando uma música pra ela, quer ouvir?

Assenti com a cabeça e ele começou a tocar uma música muito, muito, muito boa. Taylor piraria com toda certeza.

— Cara... com certeza a teremos em nossos próximos cds. — Falei honestamente.

— Sério? — Ele parecia empolgado. — Eu fiquei quase q noite toda trabalhando nela. Eu quero que a Juliet ouça.

— Ela vai adorar.

— Bom, eu tô saindo aqui. Mais tarde nos encontramos lá em casa com todo mundo?

— Eu acho que sim. — Não diria que queria faltar, inventaria uma desculpa.

Quando Zac saiu, percebi a sujeira que estava a casa. Tudo bagunçado, latas de cerveja por todos os lugares e também bitucas de cigarro.

Li em algum lugar que "Se você quer mudar o mundo, comece arrumando sua cama". E foi isso que eu fiz. Comecei a arrumar a casa. Era o que me restava.

Eu estava mesmo feliz por Zac. Ele era um homem muito bom, embora lento pra caramba. Mas isso não tornava ele uma má pessoa. E Juliet era mesmo uma grande mulher. Tão grande como Morgana...

Oh, Deus... era ela. Sempre ela. Eu me sentia tão burro. É com razão. Não havia possibilidade dela me perdoar. Não havia chances dela entender que, na verdade, eu só queria saber se ela estava bem.

Não queria mesmo que meus pensamentos fossem para ela, mas era pra onde eles iam.

Senti que se eu continuasse ali daquela forma, eu iria acabar abrindo a geladeira e pegando a primeira cerveja que eu visse. Eu precisava mesmo me atentar para isso.

Arrumei mais ou menos a casa. Precisaria de ajuda, claro, mas não estava uma zona de guerra como antes.

Voltando pro quarto, tomei um banho de ducha mesmo, queria espantar a preguiça. Peguei o celular e mandei uma mensagem para Juliet pedindo desculpas pela bebedeira e pedindo pra deixá-la no aeroporto no dia seguinte.

Deitei na cama e fiquei olhando o teto. Não tinha ânimo para compor ou mesmo fazer algo além daquilo. Enquanto ouvia o som das máquinas trabalhando na rua, ouvi o apito do celular.

Tudo certo pra segunda?

Era Nicole. Eu ficaria com as crianças aquela semana. Mais um motivo para ajeitar a casa para receber meus filhos.

Sim.

Não estávamos nos entendendo muito. Agora ela namorava um figurão britânico e faria uma viagem para lá naquela semana. Depois que disse que jamais voltaríamos, ela endureceu as regras com as crianças. Eu não podia mais visita-los a qualquer hora. Talvez fosse seu orgulho ferido. Falei sobre como me sentia com relação a outra pessoa e... bem... não adiantava muito agora.

Ouvi o celular tocar e vi o nome do Taylor aparecer em tela:

— Ei man, Natalie estava fazendo o almoço e queria te chamar.

— Assim? Do nada? — Perguntei rindo.

— É.

Pensei um pouco. Não faria mal ir almoçar com eles. Ao menos iria me divertir com eles. Confirmei e disse que chegaria logo.

— Oi. — Natalie sentou ao meu lado no sofá. Eu tomava um vinho tinto. Já havíamos almoçado e as crianças corriam brincando pela casa. — Como você está?

— Estou péssimo. — Foi tão sincero que até eu mesmo me assustei.

— É, dá pra ver pelas suas olheiras. — Ela colocou o dedo embaixo do meu olho.

— Outch! — Falei tirando o dedo dela do meu olho. — Porque fez isso?

— Você é burro ou o quê?

— Do que está falando?

— Porque você ainda não foi atrás dela? Porque não está beijando ela agora enquanto está na casa do seu irmão observando crianças loucas correndo por aí?

— É complicado...

— Não, não é. Você fez uma merda e se arrependeu. Você acha que Morgana não quer te dar uma segunda chance?

— Você não sabe como Morgana é, eu já fiz muita bosta...

— Não, não sei. Mas ela é uma mulher como eu. E eu vi como ela ficou quando você beijou aquela Nikki-empata-foda. Você precisa PARAR de se martirizar por isso. Precisa parar dessa culpa eterna.

— Você não entende...

— O que eu entendo é que você está morrendo, Ike. Você não larga o copo de bebida, não consegue ficar um dia sem beber e está naquele muquifo com Zac que também é um idiota.

— Você está uma metralhadora de verdades hoje, né? — Falei tristemente.

— Eu estou cansada de ter que abrir os olhos de vocês. Será possível que só as mulheres e Taylor que tem atitude nessa família? Eu hein. Você passou a sua vida inteira atrás dessa mulher. Faça valer a pena isso. Pare de autopiedade.

Da mesma forma que ela chegou, ela saiu. Fiquei parado tentando absorver tudo aquilo.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora