0|26

728 67 16
                                    

☀️

Morgs, por favor, me atende.
Conversa comigo.

Por sorte do destino, ainda havia um voo vago para NYC ainda naquele dia. Desembolsei muita grana, mas não conseguiria passar um dia a mais em Tulsa.

Não queria saber dele, não queria ler sobre ele, não queira olhar pra ele. Nada no mundo aquilo seria aceitável ou justificado. E, enquanto ainda estava esperando o voo decolar, recebi outra mensagem:

Eu te procurei a vida toda, Morgana.
Eu não posso te perder, me deixa eu te explicar.
Eu te amo.

Aquilo me quebrou. Não consegui mais segurar e comecei a chorar dentro do avião. Como eu poderia passar por aquilo sem enlouquecer? Eu não conseguia mais, eu estava cansada, eu não queria mais tentar. Eu não queria mais amar ninguém. Nem mesmo em sonho.

Voos noturnos podem ser solitários, aquele meu foi o pior de todos.

Quando cheguei em NYC, não tirei meu celular do modo avião. Não queria mais receber nada dele ou de quem quer que fosse. Eu só queria minha casa.

Ali mesmo peguei um táxi e cheguei em casa perto do amanhecer. Paguei o motorista e, quando entrei em casa, já não tinha mais nem lágrimas para colocar pra fora. Só sentia dor. Uma dor inimaginável que não me deixava fazer nada, nem mesmo respirar direito.

Do jeito que estava, deitei no sofá e, sem perceber, apaguei em meio aquele sentimento terrível.

Não sonhei, simplesmente apaguei. E só acordei no outro dia com a campainha tocando insistentemente. Olhei para o relógio em cima da mesinha da sala e vi que já passavam de uma da manhã.

A campainha não parava por um minuto.

— Já vai... — Consegui pronunciar alto o bastante para que, quem estivesse ali, me ouvisse.

Ainda estava com a mesma roupa da noite anterior. Dormi, inclusive, com a maquiagem também. Mas aquilo não fazia diferença.

Quando abri a porta e vi Ike parado ali, senti tudo voltar de uma vez. Não sabia como ou quando, mas algo dentro de mim rasgava causando dor. E, mesmo assim, tive vontade de abraçá-lo ao vê-lo com os olhos vermelhos e olheiras profundas.

— Morgana...

O que você quer de mim, Ike? — Foi uma pergunta cansada. Eu não sabia mais o que sentir naquele momento.

— Eu quero... quero que você me ouça. Quero que você ouça tudo e, se depois de ouvir você me mandar embora, eu juro que vou entender. E nunca mais apareço em sua vida.

Aquilo doeu pra caramba. E eu talvez tenha deixado ele entrar somente por causa daquilo. Ele entrou acanhado enquanto eu dava passagem. Deixei que ele sentasse no sofá e fechei a porta.

— Eu não sabia que iria à Tulsa.

— Não era para saber, era surpresa.

— Morgana, eu fui um tonto.

Senti meu estômago revirar. Eu não queria ouvir aquilo, mas precisava.

— Nicole foi me procurar. Estávamos em um impasse com as crianças. Finalmente nos falamos depois de meses. Ela apareceu no show com eles e aquilo me surpreendeu.

— Então você agradeceu com um beijo?

— Não. — Ele fechou os olhos. — Ela foi ao camarim e pediu para conversar em particular. E eu fui. Morgana, não espero que compreenda isso. Mas eu fui casado muitos anos com ela. Doze anos. Quando ela pediu divórcio, eu ainda a amava como esposa. Eu jamais negaria seu pedido.

Fechei os olhos e balancei a cabeça. Um turbilhão de coisas passaram pela minha mente. Todas elas me fizeram crer que eu já sabia o que ele diria.

— Ela disse que se orgulhava de mim como pai, como profissional e marido. Que eu havia sido sua escolha certa por doze anos. E que sabia que havia feito besteira. Eu falei de você para ela. Falei que, finalmente, havia te encontrado. E que era você quem eu amava.

— E então vocês se beijaram?

— Não foi planejado. Acontece que... eu não vou mentir dizendo que não retribuí ou... ou que não quis aquilo por um momento.

Era isso. Eu havia mesmo acertado em minhas suposições. Ele havia beijado ela e gostado daquilo. Senti uma repulsa quase que imediata.

— Eu sou totalmente culpado e sei que você tem todo direito de me querer fora da sua vida. Mas Morgana... eu... isso só mostrou como eu te amo. Como eu quero que minha vida seja você.

— Era isso que você tinha para falar, Ike? — Perguntei sem demonstrar expressão.

— Morgana... — Ele levantou e tentou se aproximar. Dei um passo para trás e olhei para baixo. — Morgs...

Acabou.

O quê?

— Isto aqui... — Apontei para nós dois — acabou de vez e definitivamente.

— Morgs... — Podia ouvir sua voz embargando.

— Não existe palavra que define o que sinto agora, mas se tiver que escolher algum, Ike, é que eu sinto muito. Sinto muito que as coisas tenham que terminar assim justamente por que eu te amo. Mas eu estou cansada de amar a todos enquanto a mim mesma eu desprezo.

Por favor, Morgana...

— Nos separamos na infância por um motivo. — Fechei os olhos para tentar falar o que viria a seguir. — Talvez fosse justamente por isso que o mundo gostaria que ficássemos separados.

Em um gesto rápido, tirei o meu cordão do pescoço e o entreguei. Ele não recebeu.

— É seu... é presente.

— Eu não o quero. Eu não quero mais nada que não seja meu. Eu não quero mais guardar nada que me recorde de momentos como esses. Momentos do passado. Você é meu passado Ike.

Ele pegou o cordão e fechou os olhos. Vi que lágrimas saiam de seus olhos. Eu queria voltar atrás, dizer que o amava mesmo. Mas aquilo era só mais uma prova de que eu não poderia mais insistir naquilo.

— Morgs, eu te amo. E eu errei nisso tudo. Eu fui mesmo um idiota. Eu não concordo com você. Eu não acho que foi um erro ter te reencontrado.

Eu não queria ter te reencontrado. — Falei secamente. Isso o assustou. Abri a porta e não olhei em seu rosto. — Agora, por favor, vai embora.

Esperei alguns bons segundos até ele passar pela porta e sumir pelo corredor. Passei minutos olhando para onde ele havia passado.

Então aquele era o fim. O fim de todas as lembranças guardadas com carinho em meu coração. A pessoa que jamais imaginei que me magoaria daquela forma, havia feito aquilo.

Se Ike não era mais o mesmo, eu também não era.

__

Não foi revisado, galere.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora