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☀️

Todo o tempo que fiquei com os Hanson foi incrivelmente familiar. Agora eram outras crianças, mas todas tinham traços dos irmãos. Sejam físicos ou de personalidades.

Kathryn não parecia se encaixar ali. Acho que Diana e Walker realmente não haviam engolido aquele casamento. Mas ela foi simpática comigo, nada anormal.

Todas as crianças pareceram gostar de mim. Me senti acolhida até mesmo por aqueles que nunca haviam me visto na vida. Porém no meio daquela alegria, bateu a tristeza e a certeza de que não encontraria toda a família completa. Eu não falava mais com o mais velho.

— Pensando muito, né?

Olhei para o lado e vi Diana sorrindo.

— Mais ou menos. — Sorri. — É bom estar com vocês.

— Só tá faltando os meus três meninos. — Ela olhou para frente. — E seus pais? Estão bem?

Ela tinha aquele olhar que poderia segurar o mundo. E eu estava tão cansada de mentir. Eu sabia que ela sabia da minha vida. Ela simplesmente sabia. Ela deveria saber de mim e Ike.

— Na verdade... eu não falo com eles desde quando entrei na faculdade. A última notícia que chegou para mim foi que ela estava doente. Mas... eu não consigo mais pensar neles como meus pais.

— Filha, eu quero que saiba que aqui você sempre terá uma família. Faz tempo que não vejo Walker sorrindo assim.

Olhamos para ele que brincava com um neto na piscina. Sorri. Lembrei de uma época da vida que quis tanto ter filhos, mas...

— Eu agradeço tanto por vocês. Foram tantos anos que eu pensei que jamais teria esse momento aqui.

— Eu não acreditei quando Ike disse que te viu. — Meu estômago embrulhou só de ouvir seu apelido. — Ele procurou tanto por você.

— É, ele disse...

— Uma vez ele achou que tinha te encontrado, sabia?

— Como assim? — Perguntei confusa.

— Foi pela internet. Até hoje não sabemos como essa pessoa conseguiu enganar tão bem. Ela se passou por uma amiga de infância e Ike logo perguntou se era você.

— Ele nunca me disse isso... — Baixei os olhos.

— Não sabemos se era fã ou oportunista. Mas... ele ficou tão decepcionado. Parecia realmente você, não sei... não saberia dizer se era mesmo parecido ou queríamos ver você nela ou nele, sei lá.

— Que doideira tia... honestamente eu nunca consegui entrar em contato.

— Isso que sempre me perguntei, Morgs. Porque não tentou entrar em contato?

— Por que eu achei que vocês não quisessem saber de mim. Sério... — Ri triste. — Como vocês nunca entraram em contato, eu achei que tinha virado página virada.

— Jamais esqueceríamos você. — Ela olhou triste. — Você foi a razão do Ike não ter surtado em um país novo sem ninguém falando em inglês. Ele sempre foi um bom filho, mas tinha medo que se misturasse com pessoas ruins.

— Ele jamais teria feito algo assim, Diana. Por mais que eu olhe para trás, jamais veria Ike envolvido em coisas ruins.

— Ele te ama, sabe?

Olhei para baixo e sorri tristemente:

— Eu também o amo. Mas é complicado.

— Eu não te julgaria jamais por querer distância dele e de todos nós. Eu falei para ele que não saberia se perdoaria o Walker.

— Eu acho que nosso primeiro grande erro foi olhar para isso como algo amoroso. Sempre foi incrível a amizade.

— Mas Morgs... algo assim jamais não cresceria para além da amizade.

— Eu acho que não precisamos conversar sobre isso. — Falei triste. — Como disse, é complicado. E eu vim aqui para vê-lo. — Olhei para Walker que dava um "tchau". Retribuímos com entusiasmo.

— Tudo bem. — Ela sorriu e pegou em minha mão. — independente de qualquer coisa, somos sua família também.

Senti vontade de chorar. Eu sabia que eles eram minha família. Minha única família. E aquilo doía também. Como poderia ter essa família se precisaria sempre separa-los de um de seus filhos para poder estar com eles? Não era justo.

Diana saiu do meu lado quando um dos seus netos pediu para que o acompanhasse até o banheiro. Fiquei observando aquela alegria toda. Eu estava com inveja?

Sim, eu tinha inveja deles. E me sentia PÉSSIMA por isso.

Eu sentia falta do Ike de uma forma descomunal. Cada criança ali tinha algo dele. A forma como Walker falava, me lembrava dele. Eu jamais conseguiria seguir em frente estando ali. Eu estava mesmo sofrendo. Podia não parecer, mas eu estava exausta de tudo aquilo. Inclusive daquela história.

Eu precisava me limpar, precisar sumir do mapa. Precisava mesmo entender que mão seria feliz no amor. Eu não tinha nascido pra isso.

Quando saí da casa dos Hanson naquele dia, tive a plena convicção que eu não poderia voltar a vê-los. Fiz questão de abraçá-los, deixar todos os beijos possíveis e os não possíveis.

De um modo ou de outro, faria aquilo principalmente por eles. E por mim. Definitivamente por mim.

MORGANA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora