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Quando eu a vi, me senti péssima. Estávamos em um restaurante bacana em Manhattan. Ela era jornalista, mas poderia facilmente ser modelo ou atriz.
— Meu Deus, finalmente eu pude conhecer a Morgs!
Levantei da cadeira e a cumprimentei. Ela me abraçou, achei muito estranho aquilo. Ela parecia... simpática.
— Eu precisava apresentar ela a você logo, Morgs. — Ike sorriu.
Ele poderia ter me abraçado, mas não o fez.
— É um prazer enorme conhecê-la, Arabella. Ike me falou muito sobre você.
Não, não falou. Na verdade ele só falou naquele dia depois que eu tinha enfrentado um dos piores plantões da minha vida. Ike sorriu sem graça como uma forma de agradecimento.
— Claro, claro. Foi sim. — Sorri balançando a cabeça.
— Você é muito bonita, principalmente pessoalmente. Confesso que fiquei um pouco preocupada com Ike ter uma amizade feminina e tão linda.
— Bondade sua. Eu e Ike somos amigos de longas datas. Nada mais.
— É, eu sei... — Ela sorriu. — Quando vai à Tulsa? Iríamos adorar recebê-la.
Ela já falava em plural. Como se eles fossem um apenas. Aquilo me deixou um pouco enjoada.
— Eu estava me planejando para ir agora depois do Réveillon, porém acredito que não vou poder... por causa do trabalho.
— Ah, o Ike disse que você é médica. Estou maravilhada! Sabe, cuidar das pessoas, ser útil, salvar vidas.
— É tipo isso, só que com a rotina bem mais cansativa. Insônia e horas sem comer. Olheiras. Mas de fato, é bom saber que você pode fazer alguma diferença na vida das pessoas.
— Eu queria ser médica, mas daí pensei que jamais seria feliz em abrir mão de tanta coisa. Claro, é uma profissão incrível, mas quanto tempo você perde não é?
— É... — Sorri tristemente lembrando do show que havia perdido. — Mas e você? Jornalista?
— Sim. — Ela, nitidamente, gostava mesmo do seu trabalho. — Adoro meu trabalho.
— Sem você, estaríamos perdidos. — Ike falou olhando para ela com um sorriso tão bonito. Um sorriso que ele dava para mim. O sorriso de encanto, o sorriso que eu tinha e... perdi.
— Que mentira! — Ela também sorriu para ele. — Vocês são talentosos. Eu só ajudo com algumas coisas.
Ela também estava apaixonada. Gostava mesmo dele. O sorriso dela não era de alguém que estava se aproveitando. Era isso que doía. Eu achei que conheceria alguém ruim, eu queria conhecer alguém ruim. Mas ela não era. Ela era perfeita.
— Ele é tão bobo, Morgana. — Ela olhou para mim e sorriu. — Vamos pedir?
— Claro...
Olhei para o menu e e procurei "macarrão com queijo", pelo menos tentaria comer meu prato preferido.
— Não tem macarrão com queijo aqui? — Perguntei ao garçom quando ele chegou.
— Não, senhora.
Decepcionada, pedi qualquer massa que estava no menu.
∞
— Obrigado, Morgs. Você foi incrível.
Ike havia ido me deixar em casa logo depois de deixar Arabella no hotel. Ela tinha um trabalho urgente.
— Por nada, Ike. Você sempre faz mais por mim.
— Isso não é uma competição.
— Eu sei que não. — Sorri. — Ela é uma boa moça. Parece mesmo gostar de você.
— Você acha?
— Acho. — Sorri honestamente. — Estou feliz que você está ficando bem.
— E você? Não vai mesmo para Tulsa?
— Infelizmente não. — Falei tentando parecer convincente. Não queria mais ir, não aguentaria vê-la como namorada na frente de sua família. — Mas vai rolar qualquer dia.
— Eu queria poder ficar e conversar, mas...
— Tudo bem, Ike. Obrigada pelo almoço.
Eu o abracei e queria que ele falasse que tudo aquilo era uma pegadinha, uma grande pegadinha. Queria que ele falasse que na verdade ele me amava. Era isso. Eu o amava. O amava mesmo, e não somente como amiga.
— Tudo bem com você?
— Cansaço... eu não dormi nada.
— Eu deveria ter marcado um jantar.
— Não, foi ótimo mesmo. Eu vou... eu vou entrar, tá?
— Tudo bem. — Ele sorriu. — Estaremos aqui até amanhã. Se quiser nos encontrar...
— Eu ligo.
Sorri nervosa, mas acho que eu disfarcei bem já que ele não estranhou. Então saí do carro. Esperei que ele desse a partida no carro e então entrei no apartamento.
Chorei.
Chorei muito.
Deus, o que era aquilo? O que era aquele sentimento? Ele corroía, doía, queimada. Rasgava.
Eu o amava. Era claro e nítido. Eu estava morrendo de ciúmes. Morrendo.
Quando eu ia ter minha chance? Quando eu poderia, finalmente amar? Quando eu poderia viver meu amor? Quando Ike notaria que eu o esperava há tanto tempo?
Eu o odiei por meio segundo. Como ele não saberia que aquilo me machucaria mais do que mil facadas? Como ele se dizia meu amigo e não percebia que eu estava acabada?
Sentei no chão da minha sala e deixei que tudo aquilo saísse. Eu queria que aquilo saísse de mim. Queria que todo o ciúme e raiva saísse. Queria que o meu coração me obedecesse.
Era isso.
Eu havia perdido Ike.
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MORGANA (CONCLUÍDA)
RomansaSerá que um amor duraria uma vida? Morgana tivera a infância muito atordoada. Como seu pai era um diplomata, viveu boa parte da vida se mudando de país e tendo que fazer novas amizades sem ao menos saber a língua. Ao se mudar para Venezuela, Morgan...