XV - A Filha do Mundo Inferior

48 10 0
                                    

CASSIE

 A Porta de Hades.

 Eu não poderia descrevê-la se quisesse. A neblina se acumulava em volta dela, criando um tipo de barreira.

 Pousei no chão, mas mantive minhas asas abertas. Eu podia sentir tudo me observar... Esperando por mim. Esperando, olhando para ver o que eu faria. A Porta estava bem na minha frente; sete metros de distância, uma pequena corrida, e minhas mãos tocariam...

 – Você não tocará neste lugar sagrado, filha do Mundo Inferior.

 Me virei nos calcanhares, e me deparei com uma mulher alta, com uma postura altiva, cabelos cor de açafrão e longos. Ela vestia um vestido branco, tão branco que reluzia. Os olhos cinzentos e tempestuosos da mulher pareciam me assomar. Os pés da mulher não tocavam o chão, a visão dela parecia oscilar, como um holograma.

 – Eu vou fechar as Portas – falei, num tom de confiança que me surpreendeu. Aquela quase não era eu.

 A mulher riu com desdém.

 – Sabe quem eu sou, criança? Eu sou Melinoe – a voz dela ecoou, poderosa e confiante. – Tão poderosa quanto Perséfone, rainha do Hades. Os deuses demonstram respeito a mim – ela me olhou com repulsa, quase nojo. – E quanto a você, filha do Mundo Inferior? Se for sábia, ajoelhe-se e renda-se. Voltará derrotada, mas com vida.

 – Não me ajoelho diante deuses – falei, tão venenosa quanto uma cascavel. – Não tem poder sobre mim.

 Melinoe riu.

 – Garota tola.

 Ela puxou da cintura uma espada negra, enorme. Ela estava me desafiando. Peguei a única coisa que tinha: uma adaga de prata, embora eu não soubesse direito como a conseguira.

 Sobrevivi a Lycaon, pensei. A Cérbero e ao Hades. Cheguei, estou de frente para a Porta de Hades. Melinoe não vai me impedir. Não ela.

 Abri os olhos subitamente. Eu estava começando a realmente odiar sonhos. Ainda mais quando eles vêm como a Parte II do meu sonho anterior

 Estava, como já imaginava, num caminhão. Era noite lá fora, e o sol demoraria a nascer. Tentei mexer as mãos, mas percebi que algo forte as estava segurando. Olhei para frente. Alyon estava segurando meus punhos serrados, me encarando. Apesar de ainda ser frio, ele havia tirado o moletom, ficando apenas com a camiseta. Eu não havia notado antes, mas ele de fato tinha alguns músculos.

 – Fique quieta – sussurrou. Ele apontou com o queixo lá para fora. Eu conseguia ver lobos ao longe. Mordi o lábio para não gritar, os lobos estavam se aproximando. Tínhamos alguns minutos. Talvez menos.

 – Por que estamos parados? – notei.

 – Dylan e Clarisse devem ter dormido.

 Ele soltou meus punhos, e continuou olhando para fora, como se, com o olhar, ele tivesse o poder de espantar Lycaon.

 Abri as mãos lentamente, e vi as marcas das minhas unhas nas palmas das minhas mãos.

 – Você está bem? – Alyon perguntou, mas não estava olhando para mim.

 – Estou – respondi. – Eu acho.

 – Você teve outro sonho, não foi? – quando ele virou o olhar para mim os olhos azuis estavam brilhando na noite, reluzentes.

 Demorei um tempo para responder. Era uma coisa delicada, embora eu não tivesse total certeza do porque não gostava de falar daquilo. Era mais como um instinto, um pressentimento.

Em Busca da Origem - As Portas de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora