XXIV - Brincadeiras do Destino

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ALYON

Depois que Clarisse já estava distante, Cassie suspirou e se sentou na janela inacabada, com os pés balançando para fora, como se não tivesse medo de cair. As asas estavam um pouco abertas, meio caídas, mas ninguém poderia ver. Estavam bem acima, e estavam cercados de prédios mais baixos com telhados que se tocavam. E Cassie não parecia muito importada com quem a visse, ela parecia apenas esgotada e cansada.

Alyon se sentou na janela, mas deixou uma certa distância entre eles.

– Você fez a coisa certa – ele falou. – A respeito de Dylan, quero dizer.

– Será? – ela continuava olhando para os prédios, apesar de estar falando com ele. – Quero dizer, eu sei que Clarisse e Noah gostam dele, e, às vezes... eu tenho medo de ser fria demais com as pessoas.

– O.k., você é um pouco mal-humorada às vezes, mas e daí? Ninguém pode dizer que você não é justa. Nós quase morremos naquele beco, porque Melinoe estava procurando por Dylan. E ela ainda está procurando, acredite, eu sei. Você fez o que era melhor para nós.

– Por que eu?

– O quê?

Dessa vez, ela olhou para Alyon, os olhos brilhando em dourado, como se fossem ouro derretido.

– Eu... dou ordens, tomo decisões, são meio que involuntárias, mas... as pessoas obedecem. Como se eu fosse a líder. Eu não entendo. De todos aqui, eu sou a última pessoa que alguém quereria para dar ordens e tomar as decisões.

– É aí que você se engana. Todos confiam em você, porque está no seu sangue o instinto de proteger as pessoas, e confie em mim, eu conheço Plutão e ele é igual. Justo, fiel, eu acho que você acabou herdando os melhores traços dele.

– E os piores da minha mãe – ela sussurrou.

– É a primeira vez que eu a vejo chamar Audrey de mãe.

– É o que ela é, não é? Não posso fingir que ela não existe, apesar de querer do fundo da minha alma. O universo conspira contra mim, aposto que vou dar de cara com ela em uma... uma lanchonete de cachorro quente.

Alyon tentou segurar a risada, mas foi muito mal sucedido. Depois de um olhar mortal, Cassie começou a rir também.

Ela encarou Alyon, com uma sobrancelha levantada.

– Por que ainda está nos ajudando?

– Como assim?

– Sabe, eu sei que temos que fechar as Portas, mas é que... Você é um deus. Eu sempre pensei que... Não, eu nunca pensei. Nunca achei que deuses gregos existissem, na verdade. Mas eu sempre achei que eles fossem superiores a “mortais”. Talvez você tenha meio que ficar com a gente porque precisa de ajuda, mas... Você não parece um deus. Você poderia muito bem nem dirigir a palavra a nós, mas você não se mostra indiferente.

– Vocês, mortais, não são tão ruins assim. Alguns são perigosamente irritantes – ele olhou para Cassie –, mas dá pra conviver. Com muita paciência.

– Ah, vai se catar – ela empurrou ele de brincadeira, apesar de ter tido o esforço de se esticar. – Você também é irritantemente insuportável. Eu é que sou tolerante.

Os lábios de Alyon se curvaram em um meio sorriso, embora fosse involuntário, como se fosse algo que estivesse acostumado a fazer cada vez que Cassie falava algo. Ele franziu o rosto com esse pensamento.

– Alyon – Cassie começou. – Você se lembra dos lobos de Lycaon? Silena e Luke?

– Os gêmeos? – ele perguntou. – Sim. Os conheço faz tempo.

Em Busca da Origem - As Portas de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora