ALYON
O pedaço longo de metal que Carisse jogara acertou o alvo: as telhas. Só que elas apenas tremeram, mas nada aconteceu. A "flecha" caiu no chão com um som metálico horrível. Alyon já esperava que desse errado, mas ele não achava que fosse ser tão rápido. Os fantasmas os estavam encarando, caminhando lentamente na direção deles.
– Não dá – Noah reclamou. – Esses caras não têm cérebro, não dá pra... sei lá, confundir eles.
Um pouco contra a vontade, Alyon cedeu, e fez a única coisa que talvez salvasse a pele deles. Ele tinha herdado alguns poderes da mãe, mas, estranhamente, esses o esgotavam mais. Obviamente, não eram exatamente iguais. Aura podia virar brisa, Alyon controlava os ventos. A mãe dele podia conjurar uma avalanche. Ele podia congelar coisas. Eram coisas úteis, mas que, agora que era mortal, acabavam com ele. Mas não tinha muita escolha.
Não foi preciso muito esforço para derrubar as telhas, que iriam cair de qualquer jeito dali alguns segundos. Alyon ouviu o barulho de telha estilhaçando, e todos – inclusive os fantasmas – olharam para cima.
Bum!
Tudo desabou em cima dos monstros, fazendo Noah se encolher.
– Corram! – Alyon mandou.
Cassie colocou rapidamente a adaga na cintura e todos correram para a saída do beco. Lupa pegou Noah pelo colarinho da camisa e o jogou em suas costas. O garotinho se agarrou aos pêlos da loba, e Alyon pôde ver os mortais ao redor encarando-os. Principalmente a Cassie: a garota com asas. Ela olhava desesperadamente em volta, e apontou para um prédio alto, um pouco distante. Ele estava inacabado, e era grande – cerca de trinta andares. As paredes eram quase completamente de vidro; vidro azul escuro. O topo, o último andar, estava cheio de andaimes, e não tinha teto, e apenas duas paredes de vidro haviam sido colocadas.
Cassie apontou com a cabeça lá para cima. Alyon entendeu o recado.
– Não tem problema voar aqui? – ele perguntou.
– Bastante – ela respondeu com um sorriso. – Só mais um dia no paraíso.
– E você – Alyon lançou um olhar assassino a Dylan. – Teletransporte Lupa, Clarisse e Noah lá para cima. E nem ouse tentar alguma gracinha. Vai se arrepender.
Alyon viu que Dylan estava louco para revirar os olhos, mas sabiamente não o fez.
Cassie levantou vôo primeiro, abrindo as enormes asas negras, e se impulsionando para cima, deixando muitos mortais paralisados, e exclamando "ooh", "aah" e "ahhh!". Alyon, particularmente, achava fascinante – embora já tivesse visto muitos deuses e deusas com asas, Cassie era diferente. Ela era uma mistura de graciosidade e poder, batendo as asas poucas vezes, com os cabelos voando com o vento. Era um pouco hipnotizante, mas Alyon rapidamente abriu as próprias asas – sim, ele tinha asas. Era motivo de inveja para alguns deuses do Olimpo – Ares, Hermes, Dionísio. Novamente, muitos mortais gritam e exclamaram frases em idiomas estranhos. Cassie olhou para trás – para ele –, com uma expressão assustada e fascinada no rosto.
– Essa é nova! – ela exclamou. – Uau!
Alyon sorriu, olhou para as próprias asas: grandes, talvez alguns centímetros maiores que a de Cassie, brancas como neve, com pontos pretos em algumas penas, como as de uma coruja da neve – embora as asas fossem diferentes que as de uma coruja, menos arredondadas, mais parecidas com as de águias e aves de rapina. As asas em si eram fortes e velozes, o que dava uma sensação de contentamento em Alyon, e de certa liberdade.
Ele virou em direção ao prédio e pousou primeiro. O chão irregular de concreto sustentou o peso dele – graças a Júpiter. Cassie, ao contrário de Alyon, não fez uma aterrissagem muito suave. Ela bateu muito as asas, e teria caído de cara no chão se Alyon não tivesse a ajudado a se equilibrar. Quando percebeu que a estava segurando pela cintura, soltou-a rapidamente e olhou em volta, procurando distraidamente por Dylan e os outros. Seus punhos cerraram automaticamente.
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Em Busca da Origem - As Portas de Hades
Ficção AdolescenteNão quero fazer parte desse mundo... Mas acho que não tenho escolha. A história gira em torno de Cassie, uma garota com sérios problemas com a mãe - e com o mundo -, mas, após uma de suas muitas fugas, em uma tarde de estranha tempestade (afinal, é...