XVII - Poder Vindo do Lugar Mais Inesperado

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CASSIE

- Um conselho: não desçam - Clarisse falou. - É uma loucura lá em baixo.

- É Las Vegas - falei. - O que mais esperava?

Ela largou as sacolas no chão.

- Talvez um povo que soubesse que não devem atropelar garotas? Ou um mercado vazio? Quem sabe uma rua que dê para atravessar? Não achei nada disso.

Eu ri, e ajudei ela apegar novamente as sacolas.

- Alguma informação sobre onde estamos? - perguntei. - O prédio, quero dizer.

- É um apartamento - ela informou. - Mas ninguém mora no último andar. Ninguém vai nos incomodar, então. É um lugar bem bom. A porta daqui debaixo estava fechada.

- Ela arrombou - Noah falou. - Com um clipes.

Encarei ela.

- O.k...

- Falei que morávamos no penúltimo andar, o décimo. Eles acreditaram. A gerência é um lixo, aliás.

- Tipo esse lugar - Noah olhou em volta, para as plantas crescendo desgovernadas, o balcão caindo aos pedaços e o piso rachado. - Parece que paramos em Jumanji.

- É - concordei, bagunçando o cabelo dele. - Para sair desse pesadelo, temos que achar umas portas sinistras, tipo o chefão da última fase.

Ele riu. Me sentei novamente no tijolo, e comecei a pegar as coisas das sacolas. Achei umas sete bandejas de carne crua.

- Por que...?

- Lupa - Clarisse explicou. - A carne estava barata. Imaginei que Lupa estivesse com fome. E está.

Realmente, ela já estava com a cabeça em cima de mim, cheirando a bandeja de carne. Abri todas e coloquei no chão. Sem demorar, a loba atacou.

- Nossa - falei. - Isso é fome.

Alyon riu.

- Você não viu nada.

- Acho que esse nada já está de bom tamanho.

E, sim, Clarisse havia achado morangos. E, também, Alyon comeu todas as nove bandejas. Ninguém se importou. Tínhamos a relíquia dos cereais, maçãs, pães e alguns pães de queijo.

- Não sabia que a gente tinha tanto dinheiro - comentei, entre uma mordida e outra na maçã.

- Não tínhamos - Clarisse concordou. Ela puxou um cartão do bolso. - Achei isso no carro.

Quase engasguei com a fruta.

- O que? - indaguei, num tom esgoelado. - Como você sabia a senha?

- Mas eu não sabia. Noah sim.

Olhei para o garotinho. Ele estava bem concentrado na caixa de cereais, mas colocou a mão em uma planta que eu não sabia o nome, e se concentrou.

- É hortelã - ele informou, com a boca cheia. - Foi plantada no dia 21 de janeiro de 2010, às 2:47, por uma mulher chamada Marisa, de vinte e sete anos, e...

- Certo - interrompi. - É assustador, Noah.

Ele pareceu gostar de ser assustador.

- Eu tenho boa memória.

- Isso não é memória - Alyon falou. - É tipo como se você soubesse os dados de tudo.

- Não os dados. Não posso dizer de quê algo foi feito. Sei apenas datas, nomes... essas coisas.

Em Busca da Origem - As Portas de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora