XXXV - Daemon

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CASSIE

 Eu simplesmente fiquei ali, paralisada, e sentindo minha boca formar um "o" cada vez maior. Dylan não parecia muito melhor, no contrário que Ana sorria como nunca. Meu cérebro trabalhava a mil, mas eu não conseguia me concentrar em nada... Aquela mulher não era humana... Então o que estaria fazendo, tocando uma papelaria? Encarei novamente aqueles olhos anormalmente amarelos, como os de um gato. E por que aquele nome me parecia tão... familiar? Ana... Não, eu tinha certeza que jamais estudara sobre aquilo, nem nunca ouvira... Mas era como uma lembrança antiga, mas aquela lembrança não era minha. Não podia ser. Porque eu não conhecia a mitologia grega e romana; jamais ouvira falar. Mas eu sabia de tantas coisas... Balancei a cabeça e voltei a mim quando senti uma mão segurando meu braço com firmeza, me empurrando devagarzinho para trás. Depois que percebi que era Dylan, encarei-o, embora ele não tenha notado. Seus olhos claros estavam vidrados em Ana, com uma mistura de horror e alerta. Entretanto, Ana tampouco desfizera o sorriso.

– Me desculpe – Dylan gaguejou, as palavras se atropelando. – Não sabemos do que a senhora está falando. Temos que ir. Cassie.

Ele fez menção de se virar, ainda segurando meu braço, como se temesse que eu evaporasse (eu queria fazer mais ou menos isso.)

– Espere aí, querido – Ana chamou, quando Dylan deu o primeiro passo na direção oposta, fazendo o garoto congelar. Um arrepio passou pela minha espinha, e tive a sensação de que estava engolindo um iceberg. – Já vão indo, tão cedo? – a voz de Ana era quase magoada. – Nem compraram o que vieram para comprar... – quando nos viramos, vimos que ela tinha uma tesoura reluzente na mão. – Hum... Esta aqui deve aguentar o pêlo da loba, creio eu. Ferramentas mortais raramente suportam o divino, sabem? Tem que ser um material realmente bom... Acredito que este seja. Inox.

– Como você sabe... – comecei, mas Ana me cortou:

– Oh, querida, tenho meus meios de ficar sabendo das coisas. O Tártaro está em um rebuliço por sua causa, filha de Plutão – a voz dela agora era fria. – Tenho desgosto em dizer que Melinoe seja irmã de algo tão... tão indigno. Tão mundano.

Do quê foi que você me chamou? – perguntei, e a mão de Dylan apertou mais o meu braço, me impedindo de avançar em Ana.

– Ah, não leve assim tão para o pessoal, querida. Acostume-se às críticas. Vai ter muitas delas no Mundo Inferior. O reino de seu pai não está feliz com a sua existência. Eles levam como uma afronta; seu rei, o grande e renomado deus do Hades... tendo algo com uma mortal desprezível. Gerando uma criança, por Júpiter, é inaceitável!

Meus dentes estavam cerrados de raiva, e – embora não fosse de propósito – , a mão de Dylan que me segurava estava começando a machucar. Olhei para ele, e o rosto estava ilegível: uma mistura tão grande de algo entre desprezo e ódio que era difícil discernir.

– Oh, meu bem, se está se perguntando, sim, Melinoe também não está feliz – Ana informou. Ela sorriu, cheia de malícia, quando viu a cara de espanto de Dylan. – Ora, querido, não pensou que fosse o único alvo, pensou? Por que alguém como Melinoe gastaria tanto tempo com... alguém como você?

– Eu adoraria responder – Dylan rosnou.

Os olhos de Ana correram de Dylan para mim, seu sorriso se alargando. Ela definitivamente perdera a graça e delicadeza.

A risada dela ecoou pelo lugar, fazendo até minha alma tremer.

– Dylan Baron, protetor dos mortais... – Ana ponderou, como se pensasse no nome de um livro. – É claro. O fraco de sempre, não é? Não teve coragem de contar aos seus queridos amiguinhos? Medo do desprezo? – ela gargalhou novamente, com vontade. Meio atrás de Dylan, tive que serrar os punhos para evitar que tremessem. – Bela e sábia escolha, querido. Não ache que vai ficar aqui muito mais tempo se...

Em Busca da Origem - As Portas de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora