CASSIE
Recuei tão depressa que tropecei no meu próprio pé e quase caí. Como se fosse um instinto, senti minhas asas se abrirem, e vi de canto de olho Silena voltando a ser humana. Depois, meu cérebro processou tudo: é Plutão, Cassie, seu pai.
Suspirei, ergui o queixo e encarei ele, ainda com seu perfeito terno preto e prata.
– Você me seguiu desde a papelaria? – indaguei, odiando a idéia de ter sido seguida.
– Não – Plutão respondeu. – ... Desde muito antes da papelaria.
– Ah, fala sério – resmunguei. – Mas, o.k., alguma notícia comovente para dar desta vez? Ao menos foi à luz do dia, não em um beco escuro. É um progresso. Normalmente os filhos não gostam de lugares fantasmagóricos para se encontrarem com os pais.
– Eu preciso falar com você, Cassie, sobre as Portas – ele prosseguiu calmamente, ignorando minha indignação. Ao ver todos olharem atentamente para ele, esclareceu: – A sós, se não for um problema.
Houve uma série de murmúrios, mas logo Clarisse falou:
– Nos encontrem mais adiante. Não demorem.
– Estaremos esperando – Alyon concluiu, e com um último olhar, eles se viraram e seguiram em frente.
– Alyon – Plutão chamou quando o rapaz acabara de se virar. Ele olhou por cima do ombro, com as sobrancelhas arqueadas. – Gostaria de falar com você depois, por favor.
– Hã... Certo – confirmou.
– Então – falei, assim que todos estavam a uma distância boa, e não poderiam nos ouvir. – Qual seria a notícia abaladora de hoje?
– Nada extravagante – Plutão admitiu, com um sorriso torto no rosto. – Apenas alguns conselhos para quando entrarem no Mundo Inferior. Por exemplo, vocês vão achar uma escadaria assim que entrarem pelas Portas, e no final dela Cérbero vai estar montando guarda.
– O canzarrão de três cabeças? Belo bichinho de estimação.
– Ele me reconhece, e a Caronte, o barqueiro que atravessa os mortos até o outro lado do rio Estige para serem julgados. Ah, vocês vão ter que pagá-lo, porque vão precisar atravessar o rio. Aqui – ele me entregou um saco de pano, que tilintou ao cair na minha mão. – São óbulos, a quantia certa para todos entrarem e saírem, e nunca diga a ninguém que lhe dei isso.
– Claro, porque tem uma lei contra contrabandear vivos para o Hades?
– Tem. Mas, bem, voltando a Cérbero, ele não permite que vivos entrem no reino, portanto vai atacar vocês...
– Reconfortante...
-... Se chegarem ao Estige, o cão vai deixá-los. E quando estiverem no barco de Caronte, não caiam na água. Um mergulho no rio errado, e ao menos suas almas estarão do lado certo do rio para serem julgadas.
– A sensibilidade mandou "oi" – resmunguei.
Plutão sorriu.
– Quando chegarem à Entrada, há duas maneiras de chegar às Portas.
– Quais?
– Podem ir pelo vale, mas aviso que é habitado por espíritos de mortos moribundos, monstros e daemons. É o caminho mais rápido, e o mais seguro. Porém, as tentações e desafios são quase irresistíveis. E a segunda opção é fazer a volta pelo Tártaro. O Abismo fica próximo à Entrada, e a Porta liga os dois locais. Os livres podem entrar e sair do Tártaro, mas os que estão condenados só têm a Porta de Hades como recurso. Contornar o vale pelo Tártaro é mais seguro, pois podem seguir o rio Flegetonte, mas ao mesmo tempo muito arriscado, pois algum monstro ou espírito condenado pode achar vocês. Entretanto, vocês teriam que fechar as Portas pelo lado de dentro...
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Em Busca da Origem - As Portas de Hades
Teen FictionNão quero fazer parte desse mundo... Mas acho que não tenho escolha. A história gira em torno de Cassie, uma garota com sérios problemas com a mãe - e com o mundo -, mas, após uma de suas muitas fugas, em uma tarde de estranha tempestade (afinal, é...