XL - Conselhos

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CASSIE

Recuei tão depressa que tropecei no meu próprio pé e quase caí. Como se fosse um instinto, senti minhas asas se abrirem, e vi de canto de olho Silena voltando a ser humana. Depois, meu cérebro processou tudo: é Plutão, Cassie, seu pai.

Suspirei, ergui o queixo e encarei ele, ainda com seu perfeito terno preto e prata.

– Você me seguiu desde a papelaria? – indaguei, odiando a idéia de ter sido seguida.

– Não – Plutão respondeu. – ... Desde muito antes da papelaria.

– Ah, fala sério – resmunguei. – Mas, o.k., alguma notícia comovente para dar desta vez? Ao menos foi à luz do dia, não em um beco escuro. É um progresso. Normalmente os filhos não gostam de lugares fantasmagóricos para se encontrarem com os pais.

– Eu preciso falar com você, Cassie, sobre as Portas – ele prosseguiu calmamente, ignorando minha indignação. Ao ver todos olharem atentamente para ele, esclareceu: – A sós, se não for um problema.

Houve uma série de murmúrios, mas logo Clarisse falou:

– Nos encontrem mais adiante. Não demorem.

– Estaremos esperando – Alyon concluiu, e com um último olhar, eles se viraram e seguiram em frente.

– Alyon – Plutão chamou quando o rapaz acabara de se virar. Ele olhou por cima do ombro, com as sobrancelhas arqueadas. – Gostaria de falar com você depois, por favor.

– Hã... Certo – confirmou.

– Então – falei, assim que todos estavam a uma distância boa, e não poderiam nos ouvir. – Qual seria a notícia abaladora de hoje?

– Nada extravagante – Plutão admitiu, com um sorriso torto no rosto. – Apenas alguns conselhos para quando entrarem no Mundo Inferior. Por exemplo, vocês vão achar uma escadaria assim que entrarem pelas Portas, e no final dela Cérbero vai estar montando guarda.

– O canzarrão de três cabeças? Belo bichinho de estimação.

– Ele me reconhece, e a Caronte, o barqueiro que atravessa os mortos até o outro lado do rio Estige para serem julgados. Ah, vocês vão ter que pagá-lo, porque vão precisar atravessar o rio. Aqui – ele me entregou um saco de pano, que tilintou ao cair na minha mão. – São óbulos, a quantia certa para todos entrarem e saírem, e nunca diga a ninguém que lhe dei isso.

– Claro, porque tem uma lei contra contrabandear vivos para o Hades?

– Tem. Mas, bem, voltando a Cérbero, ele não permite que vivos entrem no reino, portanto vai atacar vocês...

– Reconfortante...

-... Se chegarem ao Estige, o cão vai deixá-los. E quando estiverem no barco de Caronte, não caiam na água. Um mergulho no rio errado, e ao menos suas almas estarão do lado certo do rio para serem julgadas.

– A sensibilidade mandou "oi" – resmunguei.

Plutão sorriu.

– Quando chegarem à Entrada, há duas maneiras de chegar às Portas.

– Quais?

– Podem ir pelo vale, mas aviso que é habitado por espíritos de mortos moribundos, monstros e daemons. É o caminho mais rápido, e o mais seguro. Porém, as tentações e desafios são quase irresistíveis. E a segunda opção é fazer a volta pelo Tártaro. O Abismo fica próximo à Entrada, e a Porta liga os dois locais. Os livres podem entrar e sair do Tártaro, mas os que estão condenados só têm a Porta de Hades como recurso. Contornar o vale pelo Tártaro é mais seguro, pois podem seguir o rio Flegetonte, mas ao mesmo tempo muito arriscado, pois algum monstro ou espírito condenado pode achar vocês. Entretanto, vocês teriam que fechar as Portas pelo lado de dentro...

Em Busca da Origem - As Portas de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora