Em Busca da Origem - As Portas de Hades

XXXIII - Submissão

CASSIE

 – O que vamos fazer? – perguntei, deixando de lado os pensamentos. – Nós até podemos caminhar, com muito cuidado, por Las Vegas, e quanto mais rápido sumirmos daqui melhor, mas tem a questão de Lupa... – encarei ela, que me olhava com um olhar desafiador, como se dissesse Escolha muitíssimo bem as próximas palavras, reles mortal. Ignorei o olhar. – Ela talvez se passasse por um cachorro muito grande, mas... esse pêlo não ajuda...

Encarei novamente a loba. Ela tinha o pêlo expeço e anormalmente macio, com malhas de branco e cinza, sobre o pêlo negro. Os olhos de um azul antinatural e escuro cintilavam na pouca iluminação. As pernas eram compridas, o corpo esbelto, porém musculoso, e as orelhas estavam sempre para cima. Ela se passaria bem por uma mestiça de fila e dog-alemão... mas as duas espécies tinham o pêlo curto... Uma lâmpada se acendeu na minha cabeça.

– E se...

Lupa me interrompeu, se levantando em um salto, entendendo minha idéia, rosnando, a cauda para cima, as orelhas para trás e os dentes a mostra, e em uma posição ameaçadora.

– Lupa – Alyon falou, em tom de aviso, a voz estranhamente mais grave do que o habitual, e ameaçando se levantar. – Já chega.

A loba rosnou mais alto, e aquilo claramente tinha um significado que eu não podia ouvir. Os olhos estavam quase cem por cento negros agora, cravados em Alyon de uma maneira que poderia ser capaz de perfurar paredes. Ele retribuía o olhar, a testa franzida. Mas Lupa não se rendeu, ela virou-se para mim depois da conversa silenciosa com Alyon, e sua boca espumava. Seu rosto estava perto do meu, perto demais...

– Eu disse já chega, Lupa! – Alyon vociferou, e a loba soltou um ganido repentino, e se afastou com a cauda entre as pernas. O olhar passara de predador a acuado em segundos, e suas orelhas estavam quase coladas na cabeça. A Loba se virou, submetida, e praticamente se jogou em um canto, afastada.

– Como foi que você...? – a frase morreu enquanto eu balançava a cabeça. Eu posso jurar que prendi uma exclamação de surpresa quando de fato olhei para Alyon. Digo, eu já havia visto, claro, quando os olhos dele tinham aquele tom de verde-mato com borrões amarelos – talvez um tom puxado a açafrão –, o que parecia a imagem tirada em alta-velocidade de uma floresta, mas... havia um brilho estranho neles, um brilho diferente que eu nunca vira... Mesmo naquele beco escuro, parecia que uma lanterna se acendia na frente dos olhos dele... Poderia ser intimidador e hipnotizante ao mesmo tempo. Mas eu podia dizer que eles realmente prendiam as pessoas, porque eu não era a única – graças a Deus! – a encarar: Clarisse e Noah mantinham o olhar também. Meus instintos me mandavam me afastar como Lupa, mas meus músculos, meu cérebro e meu corpo me mantinham parada no lugar... Apesar de meu foco – contra a maior parte da minha vontade – fosse nos olhos, eu podia notar o que não tinha notado antes – ou, talvez, apenas não tivesse realmente parado e olhado. Alyon, apesar de ser bem alto – lamentavelmente alto comparado a minha estatura baixinha –, era esguio, mas não de um jeito magricela, pelo contrário, era musculoso, e não de um jeito bombado, mas discreto. Os cabelos louro-platinados caíam, agora, quase sobre os olhos, com cachos se desfazendo conforme chegavam nas pontas. Os lábios eram finos e bem pálidos, ao contrário da pele bem levemente bronzeada. A expressão era serena, calma, e graças a Deus, Júpiter e qualquer deidade da sorte ele não sentiu meu olhar. Porque o momento em que eu encarara durara cerca de logos nove segundos – não que eu tenha contado –, e consegui desviar o olhar, me livrando da possibilidade nem tão remota de fazer cosplay de tomate – porque eu já sentia meu rosto ficar levemente rubro. Digo, não que eu tivesse tido escolha! Deuses olimpianos... Argh.