XII - Missão

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CASSIE

 Lupa se levantou num pulo, rosnando, e emitindo uma série de sons que não eram, aos meus ouvidos, exatamente elogios. Ela parecia estar se dirigindo a Alyon.

– Eu sei que é arriscado – Alyon concordou, aparentemente, com Lupa. – Mas você sabe que é o único jeito!

– Hã... Eu perdi alguma coisa? – perguntei.

– Eles podem se comunicar porque ambos são Imortais – Clarisse explicou, mas como ela sabia isso eu não faço idéia.

Dylan a encarou.

– Como sabia disso?

Ela deu de ombros.

– Chutei.

Ele deu de ombros, mas não parecia satisfeito. Algo naquele garoto me incomodava. Ele era silencioso demais, se falara duas frases com mais de três palavras desde que concordamos em não nos matar é exagero. Os olhos brilhavam, calorosos, na luz do dia. Era a única coisa que tirava da minha cabeça a hipótese de ele ser um fantasma.

– E concordo com Alyon – Clarisse prosseguiu, fazendo-me olhar rapidamente para ela, lembrando-me de que ainda estava falando. – Como ele disse, as Portas de Hades são portais. Eles ligam, como vários túneis, os mundos. Acredito que seja por elas que os monstros estejam vindo. E...

– E por elas que invadiram o Olimpo – sussurrei. Um calafrio percorreu minha espinha. – Mas... quantas Portas existem, mais ou menos?

Lupa bufou. Afaguei a cabeça dela.

– Milhares – Alyon falou. – Por todos os mundos.

– Não existe, sei lá, uma porta-mãe? – Clarisse arriscou. – Que seja a fonte de todas elas?

Alyon parou subitamente, pensou, depois olhou para Clarisse, com um sorriso de orelha a orelha; ele segurou os ombros dela.

– Garota, você é a mortal mais genial que eu já conheci! – ele exclamou, soltando ela. As bochechas de Clarisse coraram, e contive os risos. – É claro! – Alyon se virou para mim. – As Portas de Hades são... são ligadas por uma única Porta, que liga tudo. Ela... deve ter sido aberta.

– E qual o problema nisso? – Noah perguntou.

– Significa que é como se tivessem escancarado as portas de uma casa – expliquei. – Com todas as portas dos cômodos, janelas, tudo aberto. Qualquer um pode entrar.

– A hora que quiser – Clarisse adicionou.

– E isso possivelmente inclui um exército de monstros – Dylan falou.

– Ah – Noah concordou lentamente com a cabeça. – Que droga.

Eu quis rir. Mas estava furiosa demais para rir. Furiosa com o quê? Obrigada pelo interesse. Respondendo... ESTOU FURIOSA COM O FATO DE O MEU MUNDO ESTAR SENDO ATACADO POR MALDITOS MONSTROS QUE NEM SÃO DA MESMA DIMENSÃO QUE EU. É mais ou menos com isso.

– E o que vamos fazer a respeito? – perguntei.

– Bem – Alyon me encarou, a expressão determinada. Os olhos estavam com aquela aparência de floresta correndo nas íris, o que me fazia querer desviar o olhar – para não ficar encarando. – Se as Portas estão abertas... Vamos fechá-las.

– É – murmurei. – Nós vamos conseguir.

– Nós também? – Noah me encarou, os olhinhos brilhando.

Olhei para Dylan. Ele ainda me era suspeito, e eu teria que cavar mais fundo essa história depois. No momento qualquer ajuda era bem-vinda.

Dylan assentiu sério. Noah deu um soco no ar e um pulo – como se a noticia de fechar seja lá como são as Portas de Hades fosse boa.

– Lá se vai minha idéia de fim de semana decente – Clarisse exclamou, mais animada que decepcionada. – Vamos nessa!

– Quero ver a gente procurar essas Portas – falei, com a frase carregada de sarcasmo.

– É inacreditável, sabia?

Encarei Alyon.

– O que? – perguntei.

– O fato de agora você falar "nós". Não quer mais que eu "volte para o Olimpo, e leve todos esses problemas junto comigo"?

– Pode me fazer um favor? – pedi.

– Hum?

– Cale a boca.

Ele esboçou um sorriso travesso pelo canto da boca. Eu juro, juro que queria dar um lindo soco naquele deus de araque.

– Para onde vamos? – perguntei impaciente. – Digo, como vamos achar as Portas de Hades? Ou a Porta de Hades. Onde isso fica? Não temos muito dinheiro, aliás.

Alyon me encarou, os olhos um pouco arregalados.

– Uma pergunta de cada vez, sim? – ele interpretou meu silêncio como um sim. – O.k, a Porta de Hades principal, fica, bem, logicamente no Hades, no Mundo Inferior. E a entrada dele, no mundo mortal... bem, não sei exatamente.

– Fica no Arizona – Dylan falou.

Encarei ele, minhas suspeitas crescendo. Percebi que Alyon também não morria de amores pelo garoto, não. Alyon fazia uma pergunta silenciosa a mim: Como ele sabe onde fica?

– Arizona... – Clarisse murmurou, fazendo contas. – Levaria uns dois dias de carro. Mas a pé? Vamos fazer aniversário, e estaremos longe. A menos que consigamos asas... – ela me encarou, e felizmente captou a mensagem: cale a boca. -... coisa que não temos – acrescentou -, vamos demorar dias para chegar lá.

– Tirando as vezes que Lycaon nos encontrar – falei. – Legal, gosto de viagens. Vamos indo.

Em Busca da Origem - As Portas de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora