XXXVII - Audrey McConnel

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CASSIE

 Eu estava me saindo bem com Anaideia. Digo, em um lugar onde metade das coisas são feitas de metal, eu tenho gigantesca vantagem. Embora não soubesse como estava fazendo aquilo, tesouras, compassos e grampeadores voavam em direção à daemon. Dylan ainda estava, eu esperava, apenas desmaiado. Mas Anaideia não me dava folga para pensar em outra coisa senão a luta. Mas francamente, para o espírito da crueldade ela era, no máximo, malvada e baixa. Isso ficou claro quando jogou potinhos abertos de purpurina nos meus olhos, me fazendo cambalear e cair no chão feito uma jaca.

– É só isso que sabe fazer? – indaguei. Cada vez que eu fazia um movimento com a adaga meus braços deixavam uma cortina de glitter.

– Isso não é nada! – Anaideia retumbou. – Você imploraria misericórdia se presenciasse meus poderes, semideusa tola!

– Veremos – resmunguei, lançando de alguma maneira telepática latas de tinta em Anaideia. – Estou achando que você é apenas fraca!

– Mortal insolente... Se arrependerá do momento que conjurou meus poderes!

Ela parou, e eu também. Levantou os braços para cima e proferiu palavras no que pareceu grego arcaico, e o que parecia um enorme furacão começou a se formar em volta dela, levantando folhas de papel e tudo o que fosse leve demais. Logo, o vento ficou tão forte que meus cabelos ameaçavam ser arrancados da minha cabeça. Agora um brilho intenso se formava no olho do furacão, um brilho que cegava. E então, tudo parou abruptamente, me fazendo cair no chão, e instintivamente levar os braços ao rosto, protegendo-o. Tudo estava em silêncio.

Me sentei, ainda de olhos bem fechados, e apertei com força o cabo da adaga.

– Cassie, solte essa faca – ordenou uma voz assustadoramente conhecida.

Eu congelei. A voz era a mesma, mas... Não podia ser. Não podia, não. Eu estava longe demais... Não teria como me encontrar... Mas abri os olhos aos poucos, temendo o que veria... E eu estava certa. Para a poucos metros de mim, estava uma mulher alta, com uma cascata de cabelos loiros com cachos perfeitos e bem arrumados, roupas casuais e uma expressão severa no rosto. E, mesmo com Audrey McConnel na minha frente, a única coisa que saiu da minha boca foi um rebelde comentário:

– Não é uma faca, é uma gladium hispanicus.

– Não importa o tipo de adaga é, solte-a!

Me levantei, estudando cada centímetro do rosto da mulher... da minha mãe...

– Você me ouviu? – Audrey tornou a vociferar. – Solte agora essa lâmina, Cassie McConnel...

– Esse não é meu nome! – gritei repentinamente, com a raiva crescendo desgovernada no meu peito. – Meu nome é Cassie Selíni!

– Não diga bobagens, garota! Quem lhe deu isso? Não foi para isso que te criei, para andar por aí armada...

ME CRIOU? – explodi, e senti cada objeto de metal à minha volta vibrar esperando minhas ordens. – Você nunca olhou para mim! Para você eu só servia para... para ser sua empregada submissa! E você vem dizer que me criou? Eu só servia para você quando te convinha! Nunca pensou em perguntar como eu me sentia? Como eu estava? Você nunca se importou comigo! Você só se importa consigo mesma! Se eu era presa, fugia ou passava noites fora de casa... Você só me chamava quando precisava de uma ladra boa o bastante!

– A porta sempre esteve aberta, poderia sair à hora que quisesse...

– É claro que sim! Para ser ameaçada aos berros depois, não é? Para ser escoltada por malditos policiais de volta ao inferno que era aquela casa? É CLARO QUE EU PODIA IR E VIR, NÃO É?!

Em Busca da Origem - As Portas de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora