XXXVIII - Sequestro

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CASSIE

 Não me lembro de, em qualquer situação da minha vida, ter corrido mais rápido e desesperadamente do que daquela vez – e aparentemente Dylan também não. Praticamente atropelei um grupo de crianças, e nem me dei ao trabalho de gritar desculpas, e quase fui atropelada por um táxi, e, indignada por não ter me visto, gritei "BARBEIRO!" antes de continuar a toda velocidade. Quando chegamos derrapando ao beco, paramos de correr, e nos entreolhamos. Não dissemos uma única palavra, até porque eu não confiava na minha voz. Mordi o lábio e olhei para o chão – por que diabos eu olhei para o chão?! No chão sujo e poeirento, havia pegadas enormes de cachorro, misturadas a um par de pés desnecessariamente grandes – Lycaon, rosnei em pensamento. Com o peito subindo e descendo a mil, e a respiração acelerada e pesada, fizemos a curva do beco... e avistei os outros. A sacola que eu segurava caiu das minhas mãos.

Não liguei para as roupas em frangalhos de Clarisse, ou para os muitos arranhões no seu rosto. Soltei a respiração como se tivessem cancelado a ativação de uma Bomba H. Para a minha surpresa – ou nem tanto – , Clarisse correu na minha direção e quase quebrou as minhas costelas em um abraço de urso – e confesso que fiz o mesmo. Depois que ela me soltou, a próxima pessoa – ou loba – que avistei foi Lupa. A loba soltou um som esganiçado, e veio até mim com a postura, como sempre, altiva, mas lambeu minha mão como um pedido de desculpa por quase ter arrancado a minha cabeça.

– Eu que peço desculpas – murmurei para ela, coçando atrás de suas orelhas.

Quando vi Alyon a primeira coisa que me veio à cabeça foi Por que ele está segurando uma estaca de gelo? A segunda foi a cara péssima dele. O cabelo louro-platinado estava grudado na testa, talvez pela chuva, ou quem sabe fosse suor, e estava pálido.

Fiquei ali, encarando-o, pelo que pareceram minutos, mas na realidade foram cerca de três segundos. Ele levantou uma sobrancelha.

– Vocês recriaram a Segunda Guerra Mundial aqui? – foi o que eu perguntei, porque qualquer outra coisa teria soado ridículo. Por algum motivo eu estava nervosa.

– Ah, que bom que você está viva também! – Alyon ironizou.

– Er... – senti meu rosto ficar rubro. – Você está... bem?

– Então... – ele ficou repentinamente sério. Vi os olhos dele correrem rapidamente para Clarisse, e segui seu olhar: minha amiga estava parada, abraçando os cotovelos, muitíssimo interessada no chão e mordendo o lábio.

– O que aconteceu? – perguntei, séria. – Alyon? O que foi que...

– Onde está o Noah? – Dylan falou do nada. Ele continuava parado na entrada, olhando velozmente em volta. – Onde está o Noah?

Clarisse engoliu em seco e indicou alguns tijolos velhos.

– É melhor se sentarem...

Ah, ela não devia ter dito aquilo. Olhei imediatamente para Dylan, que tinha um olhar mortal e mais irritado do que nunca. Não, não irritado, ele parecia prestes a explodir, pior do que eu. E então ele começou a gritar em francês, o que foi muito pior do que seria se tivesse sido em inglês:

Où est la Noah? – Clarisse fez menção de dizer algo, mas não teve a oportunidade. – Non, je veux que vous nous expliquiez maintenant où il est! C'était simple, vous ne devriez prendre qu'un enfant! Maintenant, qui l'avez-vous?

Todo mundo pareceu repentinamente interessado nos pés, e ninguém disse uma palavra por um minuto.

– Clarisse – falei finalmente, evitando por tudo olhar para Dylan. – Quem foi que esteve aqui?

Em Busca da Origem - As Portas de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora