Dia triste

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Quinta feira, 22 de Novembro de 2018

Querida Kitty,

Há dias que eu não ia à escola. E isso estava me incomodando muito.

Quarta feira da semana passada foi o último dia que pisei na escola. Depois disso veio os feriados. Isso, claro, acarretou em consequências para o meu psicológico. Primeiro porque ficar em casa para mim é entediante. Morar num interior como o meu onde nada tem ou acontece é muito difícil para mim. Mas eu já me acostumei com isso. Mas só que agora isso já se tornou um saco. No sábado eu fiquei no meu total desespero. Não sabia mais o que fazer. Estava tudo chato. A vontade era grande de chorar. Para completar, à noite, assistir um filme de temática dramática. O nome do filme era 12 anos de escravidão. Após ter terminado de assisti-lo, eu queria chorar. Deitado com os fones de ouvidos no ouvido, comecei a me chatear. Fui de volta no YouTube procurar músicas como Coldplay The Scietist o que não me fez ficar triste assim. Procurei mais. E achei Lourd Huron The Night We Met. Pronto. Foi de vez. Fiquei no meu mais desespero. Só não conseguir chorar. Mas a tristeza por dentro de mim era extensa. Procurei por frases bad. Postei no meus stories do Whatsapp.

No dia seguinte continuou a mesma coisa. Resolvi sair das rede sociais. Ninguém me mandava mensagem. E eu também não me importava de fazer isso. Fiquei o dia todo longe do celular. Como eu não tava mais aguentando de tanto tédio. Resolvi ler um dos muitos livros que comprei que ainda não li. Peguei um interessante. Se chama "Com amor, Simon." A tarde toda eu li 60 páginas. Impressionante como logo me sentir legal. Não totalmente. Mas estabilizado.

Os dias se passaram. E finalmente, hoje, fui pra escola.

Kitty, não sei até quando poderei aguentar tudo isso que estou passando. É demais para mim. Nunca mais tinha me sentido assim, não lembrava mais nem como era ficar triste.

Acho que, em toda as vez que ficássemos triste, tentasse lembrar os dias em que a gente foi feliz. Mas eu sei que não funciona assim.

Cheguei na sala de aula sendo o segundo a chegar. Mas logo alunos foram chegando. Quando voltei pra sala, Alice já estava lá. Ela me perguntou o porquê de eu ter faltado aula.

Depois Ana, Rafaela e Gustavo chegaram. Comemorando de eu ter ido para a escola. "Olha quanto tempo!". Eu retruquei "Eita, vocês tão tão diferentes". Falei isso com certo sarcasmo e ironia.  Logo a sala fora ficando cheia. Alunos chegando. Ana, Alice e eu ficamos em círculo conversando coisas paralelas. Catarina chegou, dando um grito. "Edson, quanto tempo, que saudades"!!! Os meninos de trás urraram. Estava sentado, ela veio onde eu estava e me abraçou.

Logo a professora insuportável que estou odiando chegou para dar aula. E para completar é física. É incrível como o nível de antipatia é grande. Além de chata tem 3 matérias com nós. Ela começou a escrever a aula no quadro. Enquanto escrevo, não entendo nada daquela doidice. Nem os meus amigos. Estou ao lado de Rafaela. Gustavo na frente dela. E Ana à frente dele.

Estava muito animadinho hoje. Falando muito. Coisas. Falei que tô sem fazer sexo há um bom tempo. Gustavo falou assim de um modo engraçado "Edson, tá tão viado hoje" Rafaela assentiu. E eu sorrio. Eita!! Tô tão assim. Ana começou a me contar da aula de biologia de ontem. Que o professor passou para eles verem um vídeo de como a mulher tem filho. Normal ou cesariano. Ela começaou a falar que é muito nojento. E sinto que ela só estava sendo legal comigo. Rafaela e Gustavo começaram a me dizer que ficaram com nojo também.

A professora de física estava explicando a aula durante nossas conversas. Aliás, praticamente toda a sala estava conversando. E nem prestando atenção na professora. Eu digo "não consigo entender nada que essa professora tá falando". Rafaela assente e diz "nem eu".

O dia estava sendo bem legal e feliz hoje. Mas isso foi somente nos primeiros minutos da primeira aula, isso porque viria um notícia abaladora que iria estragar tudo isso que estávamos vivendo.

Uma menina vem e fala pra Gustavo sobre alguma coisa. Mas eu não entendo nada do que ela falava, apesar de ela está falando isso bem na minha frente para Gustavo. Gustavo pede para eu ligar o roteador da minha internet para ele. Meu celular estava no carregador no fundo da sala. Ele insiste. Vou lá e ligo meu celular que está desligado. Ligo o roteador para ele. E eu que já tava meio que entendendo tudo que tava acontencendo. Ele conecta o celular dele à internet do meu celular. E sim. É verdade. As mensagens comprovaram. As mãos dele estavam tremendo. Ele diz que estão tremendo. Eu percebo isso também. Ele diz não acreditar. Ele diz que tudo aquilo está sendo mentira. Ana e Rafaela pedem para ele parar de olhar pro celular. A minha ficha não cai totalmente. Aliás, naquele momento, eu não consigo me abalar em nada. Mas sabemos que tudo aquilo está sendo verdade.

 O pastor da igreja em que ele e sua família se congrega, morreu. Assim como o filho do pastor, o garotinho de 2 anos e meio. Isso num acidente de carro na estrada. O mundo cai para Gustavo. 

Logo a escola fica um caos. Os fatos vão se atualizando. A nossa professora de inglês que está na sala mostra as mensagens de um grupo de Whatsapp  sobre a morte do pastor. Gustavo ver. Ele se desespera. Ele abaixa a cabeça e começa a chorar. Nunca tinha visto Gustavo chorar. Eu fiquei sem reação. Catarina começou a confortá-lo. Ana chora. Eu me sinto incomodado. Ana me disse que ela era vizinho dela. E que ele e a família dele era muito legal. 

Vou para fora da sala. E vejo alunos para lá e para cá. Ouço soluços de choro no banheiro das meninas. Vou ao banheiro masculino que é ao lado e vejo a garota chorando. É Erika. E ela está muito desesperada. Assim como a garota da minha sala. Quando volto do banheiro, levam as duas para um lugar mais calmo. Começo a perceber o quanto o pastor é querido e aquilo vai me deixando triste. 

Gustavo já está mais calmo. Mas por dentro ele está despedaçado. O horário de inglês vai embora e ela não dá aula. Mas não tinha como. Ninguém iria se concentrar.

A tia de Gustavo liga para ele. Ele nos diz que confirma a notícia é verdadeira. O pastor morreu assim como o seu filho de 2 anos. Isso vem como uma batida no meu peito. A lágrima dos meus olhos fica para sair mas eu a seguro. É muito triste tudo isso.

O terceiro horário também não tem nada. Após o intervalo, Gustavo e Ana falam com o diretor para liberá-los. Eu aproveito e vou junto.

Eles vão embora. Me sento no banco da parada. Começo a ler meu livro "Com amor, Simon" para passar o tempo.

Na volta para casa meu ônibus passou no local do acidente. E foi arrepiante. O pau de arara que se chocou com o carro do pastor, está revirado. Tinha gente dentro. 6 pessoas se feriram grave. 3 morreram, o pastor, o filho e a passageira do pau de arara. A mulher do pastor está em estado grave no hospital, assim como o seu outro filho de 4 anos. E é isso.

Amanhã estarei indo para a capital novamente. Espero poder contar coisas boas para você.

Quero deixar uma música que marca esse dia fadítico que foi hoje. É D'Black Sem ar.

Com amor, Edso

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