Emily
Acordei em uma sala branca, com dor de cabeça e um aperto no coração.
— Ela acordou. – Ouvi uma voz feminina dizer.
— O... o q-que que aconteceu? – Consegui me sentar devagar com a mão na cabeça, que parecia que ia explodir.
— Você desmaiou. Provavelmente por um choque de emoção muito forte. – A enfermeira me disse com um sorriso reconfortante. – Ele ficou aqui o tempo todo te esperando acordar.
Ela apontou para o lado e assim que me virei vi o Zack sorrindo docemente para mim.
— Oi amor. – Ele disse se aproximando de mim.
Zack tinha um olhar preocupado mas não parecia triste ou bravo, o que significa que não contaram a ele o motivo do meu desmaio, isso fez meus olhos encherem de lágrimas e eu rapidamente o puxei para mim, o abraçando forte e derramando todas as lágrimas no peito do garoto que eu mais amo.
— Emily o que foi? O que aconteceu? – Ele segurou minha cintura, tentando olhar para mim, mas eu não suportaria isso, então agarrei a camisa dele com mais força o impedindo, até ele desistir e me abraçar de volta, me deixando chorar o quanto eu quisesse.
Eu não queria deixá-lo, não estava pronta para isso, mas sei que se contasse a ele, ele diria que é o melhor para mim, todos diriam isso, mas não entendiam como isso me destruiria. Além disso tem toda a minha família, minha amigas, até Ross e Elliot eram motivos para eu não querer ir e isso só me fez chorar mais.
— Ei, lembra que foi aqui? – Zack disse baixinho no meu ouvido, acariciando meu cabelo. – Foi aqui nosso primeiro beijo lembra? Lá no baile... Na verdade foi o segundo beijo né? Por que o primeiro foi quando a gente era pequenininho. Eu nem sabia que aquilo era um beijo na época, mas foi bom...
Ele estava tentando me distrair, para eu parar de chorar e me acalmar, imagino como ele deve estar aflito agora, pensando em todo tipo de coisa ruim, só que o que ele disse me fez lembrar desses momentos, o que fez meu coração ficar ainda mais apertado no peito, como se ele fosse rachar a qualquer momento.
— Eu te amo. – Disse no ouvido dele, desesperada e com a voz tremendo. – Eu te amo muito, muito mesmo.
— Eu também te amo Emily. Você é a coisa mais importante na minha vida.
Me aninhei no peito dele como um bebê, apenas escutando seu coração bater enquanto eu ainda chorava.
— Acho melhor você levá-la para casa, ela precisa descansar. – A enfermeira disse mas eu não sabia se teria forças para levantar agora e como se o Zack lesse minha mente ele passou um braço por baixo das minhas pernas e outro pelas minhas costas me pegando no colo, abraçei o pescoço dele para não cair e senti ele me levar até o carro dele, acho que já tinha passado muito tempo do fim da aula, por que não tinha uma alma viva nos corredores e o sol já estava se pondo.
Ele me pôs no banco e fechou a porta indo até o outro lado e suspirando. Me abracei com medo dele querer conversar e encostei a cabeça na janela. Ele não falou nada, só ligou o carro e saiu.
Eu amava Nova York, e no por do sol ela ficava especialmente linda, eles ainda não haviam ligado às luzes nas ruas o que deixava todas as paredes e muros laranjas e roxos, além daquele céu maravilhoso, parecia surreal. Deixá-la seria impossível.
Quando chegamos a minha casa eu a olhei e suspirei, era a casa que eu cresci e não queria deixá-la de jeito nenhum também. E a lista de motivos para eu não ir só crescia cada vez mais.
— Emily por favor, você está me deixando preocupado. O que aconteceu amor? Por que você parece tão triste? – Ele mexeu no meu cabelo e eu o olhei.
Ele estava visivelmente angustiado e tenso, era maldade da minha parte, eu não podia preocupa-lo tanto.
Mas não conseguia falar, tinha certeza que se tentasse eu apenas choraria de novo e isso seria muito pior. Por isso tive a atitude mais idiota e covarde que eu poderia pensar, abri a porta do carro e sai correndo. Ouvi ele me chamar, mas apenas entrei em casa com visão embaçada pelas lágrimas que insistiam em voltar.
Eu não parei até chegar no meu quarto e bater a porta, mas eu não voltei a chorar, respirei fundo e decidi pensar racionalmente agora.
Sentei na minha escrivaninha pegando um papel qualquer e um lápis e escrevi: “Prós e contras de morar na Austrália. Prós: estudar em uma das melhores faculdades do mundo, ter um futuro brilhante. Contras: Deixar o Zack, toda minha família, meus amigos, Nova York, morar sozinha...”
Estava tão absorvida naquilo que eu digitava que nem ouvi a porta abrir, mas eu deveria saber que ele não desistiria tão fácil.
— Emily por que... – Me virei vendo o Zack parado atrás de mim, mas ele não me olhava, olhava para o papel. – Morar na Austrália? O que é isso?
Pensei em inventar alguma coisa, por que eu não queria ter que contar agora, mas ai eu me lembrei de como ele ficou quando descobriu o primeiro intercâmbio, ficou magoado e com raiva por eu não ter contado antes e eu não cometeria esse erro de novo.
— Eu ganhei uma bolsa... Uma bolsa de estudos para fazer faculdade na Austrália. – Disse tão baixo que nem sei se ele ouviu.
— Por quanto tempo? – Ele perguntou depois de um tempo em silêncio.
— Seis anos. – Disse ainda mais baixo.
— Uau. – Ele sentou na minha cama e me olhou, os olhos dele começaram a encher de lágrimas também mas ele desviou o olhar. – E quando você vai dessa vez? Depois do último ano?
— Eles querem me formar um ano antes. – Ele fechou os olhos e eu continuei. – E-eu nem sei se vou mesmo Zack. Eu preciso fazer uma prova, se eu não passar...
— O que? Mas por que você não passaria?
Apenas abaixei a cabeça, sabia que ele odiaria o que eu estava pensando em fazer.
— Você vai errar de propósito? Pode parar com isso Emily, essa é uma chance única, sabe quantos alunos recebem propostas assim? E mesmo se receberem aposto que não são nem de longe tão incríveis quanto a que você recebeu. Afinal, você é minha gêniazinha... – Ele disse triste.
— Você não está entendendo, eu tenho tantos motivos para não ir...
— E eu sou um deles? – Ele perguntou vindo até mim e segurando meu rosto. – Eu não quero isso Emily, não quero que você tenha que escolher entre a faculdade dos seus sonhos e eu. Não quero ser seu empecilio para ir.
— E se eu não quiser ir de qualquer jeito? – Me soltei dele quase chorando de novo.
— Não pode estar falando sério. É a faculdade Emily, é coisa séria e bolsas não surgem do nada desse jeito. – Ele tentou se aproximar de novo mas eu me afastei.
— Por que está fazendo isso? Por que não pode ser aquele Zack que ficou todo irado quando soube do meu primeiro intercâmbio? Que me implorou para ficar?
— Por que agora eu sou seu namorado e sei o quanto isso tudo é importante para você. Eu me odiaria pelo resto da vida se você desistisse do seu maior sonho por causa de mim!
— Sabe o quanto isso me mataria? Deixar tudo, todos? Deixar você? Namoro a distância nunca dura Zack! Ainda mais na faculdade!
— Se isso acontecer eu sei que você é forte Emily, tenho certeza que vai superar. – Ele se afastou indo até a porta.
— Não acredito que disse isso. – Ele suspirou e se virou para mim, mas eu sabia que ele estava se segurando para não desabar.
— Sei que você precisa pensar e entendo tudo o que disse, mas ir é a melhor escolha Emily. – E ele saiu sem nem me olhar.
Deitei na cama só querendo ficar sozinha até pensar em algo que resolvesse tudo a minha volta. Mas assim que encostei a cabeça no travesseiro, bateram na porta.
— Querida? – Era minha mãe, o que me fez lembrar que também teria de contar a ela, sentei na cama a olhando.
— Mãe eu... – Tinha medo de tentar falar e voltar a chorar.
— Eu sei, sua diretora me ligou. E eu vi o Zack sair daqui. – E foi o bastante para eu correr e abraça-la.
— Mãe por favor, eu não sei o que fazer. Eu não quero ir. – Dizia em meio às lágrimas.
— Shh, calma...
Ela apenas me abraçou enquanto eu derramava tudo e assim que parei de chorar ela me levou até a cama e segurou meu rosto me dando um sorriso reconfortante.
— Querida, sei que não quer falar disso agora, mas precisamos conversar sobre essa viagem.
— Mãe...
— Filha, tudo muda, toda hora, e as vezes são mudanças boas, outras ruins, mas também tem aquelas que são boas e ruins ao mesmo tempo, e você não pode evita-las Emily, não dá para tudo ficar sempre igual, se não que graça teria? É uma oportunidade única sim querida e se eu fosse você, eu iria. Mas não pense que é fácil para mim dizer isso e ver minha menininha crescer, sair de casa dessa maneira para ir morar do outro lado do mundo. – Ela deixou uma lágrima cair. – É a coisa mais difícil que eu já disse, mas te criei para ser uma mulher forte e independente, e sei que você está pronta, mesmo que pense o contrário. Só que você não sou eu meu amor, então não importa o que decidir, eu sempre estarei do seu lado.
— É só que, é tão difícil decidir mãe.
— Sempre é difícil filha. Mas é isso que nos faz amadurecer com sabedoria. – Ela beijou minha testa sorrindo para mim.
— Obrigada por todos os conselhos mãe, te amo. – A Abraçei.
— Mamãe vai sempre estar aqui para isso querida, mesmo se for apenas por ligação. – Ela sorriu, se levantando e limpou as lágrimas. – Mas acho que agora você precisa pensar sozinha não é? E eu tenho que descer logo por que deixei seu pai cozinhando sozinho.
Dei uma leve risadinha e a vi me dar mais um sorriso caloroso antes de fechar a porta.
Eu fiquei o resto do dia pensando, não desci para nada, nem para jantar, afinal estava sem fome e quando vi já era de madrugada mas eu finalmente tinha decidido o que fazer.
Levantei da cama e fui até minha mesa pegando aquela lista e a jogando no lixo.
Mesmo com aquela sensação de que meu coração fosse quebrar a qualquer momento mais forte do que nunca, eu iria para a Austrália.
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When we fell in love...
Teen FictionEu sempre fui apaixonada por ele. Desde criança, desde que ele me protegeu naquele primeiro dia de aula. Só tem um problema, a partir daquele dia Zack me trata como uma gatinha indefesa, pequenininha e que precisa de ajuda para tudo, e não me leve a...