O único herdeiro

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09/05

Como eu tinha dito antes, a expectativa com a chegada de meu primo trouxe um reboliço tremendo e seu e-mail foi lido mais de uma vez em voz alta.

Minha mãe estava curiosa para saber o tipo de proposta que ele estava disposto a fazer, enquanto também se perguntava, assim como Kitty e Lydia, ao menos a princípio, como ele se parecia, mas como a busca online tinha falhado, elas tiveram que apelar para a imaginação.

Quanto a imaginação, havia grande disparidade de opiniões a esse respeito e todos tinha uma coisa a dizer, inclusive meu próprio pai.

Essa conversa se passou no domingo, antes da chegada de meu primo, e embora eu não tivesse tempo para anotar no dia, ainda bem me lembro dela e acho que vale a pena colocar aqui agora:

Estávamos sentados na sala e minha mãe tinha finalmente desistido da busca de informação do Sr. Collins. Mary tinha lido o e-mail, outra vez em voz alta e meu pai voltou ao seu charuto enquanto todos nós a ouvíamos.

- Eu acho que ele foi bem gentil – disse Jane. – Ele poderia ter guardado mágoa de nós, como fizera seu pai, mas ele ao invés está buscando reparação, eu acho isso uma atitude nobre e devemos a ele um agradecimento ou no mínimo dar a ele o benefício da dúvida.

- Não sou contra isso – concordou meu pai. – Ele parece ser um rapaz correto e gentil, responsável até, estou muito disposto a recebe-lo por quanto tempo ele quiser ficar.

- A missiva foi muito bem escrita, um tanto previsível eu suponho – concordou Mary pensativa. – Mas me pareceu sincera e de bom gosto.

Eu pouco me importei com o estilo do e-mail, mas com a deferência que ele fez a essa tal Lady Catherine, e fiquei a perguntar que tipo de mulher iria ficar tão dependente do seu economista para que ele ache necessário mencionar que a "distinta dama" o tinha liberado?

- Eu o achei pomposo e formal demais – disse. – além disso, ele se desculpa demoradamente com o fato sólido de ser o herdeiro masculino mais próximo, ora, que culpa ele tem disso?

- Ele pode se sentir culpado por ser responsável por arrancar seus reais moradores de seu lar – disse minha mãe de forma ferina.

- Sinceramente, não sei que opinião formar dele, só de que parece um sujeito muito estranho. Acha mesmo, papai, que ele é um sujeito sensato?

Meu pai deu um leve sorrisinho.

- Tenho certeza de que é o oposto, filha. Você tem razão, ele é pomposo e humilde demais e minha intuição me diz que ele é simplesmente um idiota. Estou muito ansioso para vê-lo.

Para Kitty e Lydia, essas discussões lhe foram em vão e elas fizeram pouco caso da vinda de nosso primo, embora estivessem, a princípio, curiosas para conhecê-lo, assim como o resto de nós, era muito pouco provável que nosso primo fosse um jovem atleta e bonitão trabalhando como contador de uma rica e viúva senhora em São Francisco, portanto, elas tiveram pouco interesse.

Mas enfim, o dia chegou em que meu primo nos visitaria. Por duas semanas. Duas! Duas semanas!

Por onde eu posso começar?

Bem, primeiro acho justo começar por sua aparência, mas antes de mais nada, para que o que eu diga tenha um sentido amplo para qualquer um que por acaso esteja lendo, é preciso afirmar que hoje, particularmente, fazia trinta e três graus.

Dito isso, vamos aos fatos:

O que me foi dito, principalmente por Kitty e Lydia que tinham estado o dia inteiro na casa para recepcionar o nosso primo, foi que William Collins tinha chegado pontualmente de seu voo de São Francisco a Redding e pegou um taxi que o levou até a porta de casa.

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