Tudo o que eu queria...

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27/08

Eu corri e corri pelo campo da propriedade de Darcy sem ver muito bem para onde eu ia, meio cega pelas lágrimas e pela dor que eu sentia crescer em meu peito.

Minha perna tinha um aspecto de gelatina e eu me sentia desmoronar, razão pelo qual eu tinha tropeçado em meus próprios pés e caído algumas vezes. Mais tarde, muito mais tarde eu iria perceber que eu tinha rasgado meu jeans e ralado meu joelho que tinha sangrado um pouco, encoberto por restos de lama e folha, mas na hora eu não tinha visto nada disso.

Não sei ao certo como cheguei na casa, atravessei o hall de entrada espetacular e voei escada acima passando tão velozmente por Fitz que ele quase foi arremessado para o outro lado do corredor, sem dizer nada, eu fui para o quarto onde eu tinha passado a noite e me tranquei no banheiro, feliz por Darcy não estar lá.

Meus dedos estavam sujos de restos de grama e terra e meu rosto estava vermelho e molhado de lágrimas, sujo aqui e ali por rastos de grama e sujeira das minhas mãos, muitos fios do meu cabelo se desprenderam do rabo de cavalo e agora grudavam em meu rosto e testa e eu fiquei me encarando no espelho enorme, de corpo inteiro, que havia ali no banheiro enquanto eu escorregava para o chão com as costas pregadas na porta trancada atrás de mim. E eu me sentia tão péssima por dentro como minha aparência sugeria.

Fiquei repassando as últimas palavras que Darcy e eu trocamos (ou no caso a falta delas) e embora eu soubesse que aquilo tinha realmente acontecido, que não tinha sido um sonho, eu ainda não podia acreditar em nada disso. É como se aquilo tivesse acontecido à outra pessoa e não a mim.

Mas tinha acontecido comigo. E eu teria que aceitar que aquilo era real. Que aquilo era real...

E então eu cai em prantos. Meu Deus, essa dor é a pior coisa que eu já senti na minha vida, era como se eu estivesse explodindo em milhões de pedaços, me juntado aos poucos só para quebrar em pedaços outra vez, só que cada vez que eu me juntava, parecia que deixava pedaços para trás, como se eu estivesse perdendo partes de mim mesma. Foi horrível. É HORRÍVEL!!!

Fiquei ali no chão, abraçando a mim mesma em busca de algum conforto, mas não havia conforto algum. Eu chorei e talvez tenha gritado, não sei ao certo, caída no chão por tanto tempo até que toda a angustia e dor tenha escapado de mim até não sobrar nada e eu ficar ali... vazia.

Encarei a estranha descabelada, desmazelada e patética olhando para mim do espelho e era como se eu não conseguisse me reconhecer. Era eu mesma e se parecia comigo mesma, mas eu não me sentia eu mesma.

Eu sempre fui uma pessoa forte e sempre achei que eu pudesse superar as coisas, mas naquele momento, parecia que nada iria ficar bem outra vez.

Ele deveria ter ao menos dito que embora achasse que minha família era doida e que ele não os entendia, ele estaria disposta a tentar porque me amava.

Ele deveria ter me impedido de ir embora... ou pelo menos olhado para mim. Mas ele não olhou para mim... e ele não me impediu de ir... eu queria que ele tivesse me impedido... eu não queria ter ido... mas eu estava com medo.

Eu queria ter os braços dele ao meu redor como em tantas as vezes eu tive e a ideia de que ele nunca mais iria colocar seus braços em volta de mim, que eu não sentiria mais o calor de seu corpo ou o toque gentil de seus dedos na minha pele... a sua voz e mesmo o seu sorriso...

Eu poderia chorar com essa percepção, mas não havia mais lágrimas para cair do meu rosto. Não havia mais nada.

*-*-*-*-*-*-*-*-*

Eu me coloquei de pé após algum tempo em que eu estava ali. Eu podia ver o céu escuro lá fora, a lua que brilhava entre as nuvens, mas a noção do passar do tempo parecia irreal para mim.

O Diário de Lizzie BennetOnde histórias criam vida. Descubra agora