A sad story

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"There's things that you can't see

You're way to close to me

This ones gonna hurt"

Hurt - Gabrielle Aplin.

Michael P.O.V

Aos beijos apressados, pulamos para o banco traseiro. Ela ofega baixinho quando deslizo para dentro de si, num vai e vem lento a princípio, mas que se torna gradualmente intenso, era urgente. Eu amassava seu corpo contra o banco de couro, sentindo a temperatura subir dentro daquele espaço fechado. Quando termino, me jogo para o lado, exausto, fechando a braguilha. Amélie se deita em meu colo e arfa, prazerosa.

Acaricio seus cabelos com uma mão, buscando o maço de cigarros com outra. Depois de acender, pulo para fora do carro e me sento de pernas esticadas à beira do lago, a noite estava linda, cheia de estrelas. Se juntando a mim, na mesma posição, dividimos o cigarro em silêncio, até que decido iniciar uma conversa.

- Como era lá? 

- Lá? - franze o cenho, confusa, tossindo de leve ao me devolver o cigarro. Não deveria de ter o hábito de fumar com frequência.

-Na sua casa, sua vida antiga.

- Hm. - com o canto do olho, vejo que pensa sobre algo, observando um sapo preguiçoso na outra margem. - Era bom, não adianta mentir. Mas agora, depois de tudo isso, há coisas que nunca pude dizer com certeza o que eram e posso talvez saber o que são, momentos sabe, uma conversa, a tristeza da minha mãe, o jeito que os empregados me olhavam, como se soubessem de tudo e, de fato, sabem, é a verdade.

- Como assim?

Vejo sua mão ir de encontro às estrelas, ligando-as e fazendo desenhos imaginários. Sinto que mesmo depois desse tempo juntos, eu não sei nada além do seu nome, e era algo que me incomodava muito.

- Sabe, eu tive um amor antes. 

" O nome dele era Viktor Abernathy, cabelos tão negros quanto o céu que está acima de nós, olhos igualmente obscuros, a pele branca como porcelana. Nós crescemos juntos e éramos inseparáveis, o pai de Viktor era um poderoso advogado na época, em ascensão, estava fazendo negócios com meu pai, me lembro disso... 

Enfim, Vik e eu ficamos mais velhos, e foi dele o meu primeiro beijo, me levou para um piquenique ao entardecer em um vinhedo. Aiden, o homem com quem me viu na noite do nosso casamento, foi por ordem nos acompanhar. Pedimos que ele ficasse mais distante, na época nem imaginava mas agora não há outra explicação. Foi a melhor tarde da minha vida, fui cortejada e Vik pediu minha mão, e eu aceitei. Aquele gesto confirmava que ele sentia o mesmo por mim. Selamos nosso compromisso com um beijo, foi maravilhoso .

Amélie se aproxima da margem do lago, tirando os sapatos e colocando a ponta dos pés na água, era inverno e eu estava quase congelando, mas ela parecia não ligar muito para aquilo, pelo contrário.

" Planejamos contar tudo para nossas famílias quando fizéssemos dezoito anos, na época tínhamos quinze, mas seis meses antes do meu aniversário de dezoito, Viktor desapareceu.

Encontramos seu corpo em uma floresta, com um tiro bem no meio da testa, fui eu quem o vi primeiro. O corpo sem vida, pálido, aquele sangue, seus olhos vidrados. Mal coloquei os olhos nele logo vomitei, não consegui encará-lo de novo, era horrível e a imagem está gravada na minha cabeça. Fui amparada por meu pai, ele parecia tranquilo e me consolou. 

Aquilo foi terrível, uma semana depois sua família foi embora da França e nunca mais ouvi falar de nenhum deles. Meu pai nunca tocou no assunto, nem se importou, pra ele foi como se os Abernathy nunca tivessem cruzado nossas vidas. Haviam rumores pela casa, sussurros, palavras carregadas de medo, todas elas eram sobre como Viktor foi tolo em querer se casar comigo,  que meu pai jamais permitiria. "

Absorvo lentamente suas palavras, vendo ela arrancar pequenos tufos de grama com a mão, deito por completo e coloco um braço atrás da cabeça, para servir de travesseiro.

- Sinto muito.

- Já faz muito tempo... 

- Por que disse que não tem outra explicação quando falou do segurança acompanhando vocês?- franzo o cenho, curioso, acendendo mais um cigarro.

Ela bufa, agora está irritada, e esse jeito dela eu conhecia bem para poder afirmar com certeza.

- Aiden sempre foi explícito ao demonstrar seus sentimentos por mim, foi ele quem contou pro meu pai sobre mim e Vik, teve ciúmes. Na época, ele parecia não dar bola para nossas brincadeiras de criança e nem dos cortejos bobos de Viktor quando estávamos todos juntos, não passavam disso, brincadeiras. Acho que por isso não era uma ameaça, no fim das contas, ele nunca iria permitir que nos casássemos, Vik não era importante o suficiente para fazerem um laço, e ele pagou o preço de me amar com a própria vida. 

Me sinto mal.

Pensar que tomei o lugar desse homem que realmente amava ela, mesmo que agora já não tenha como ficarem juntos, e saber que Pierre era tão frio ao ponto de matar alguém que viu crescer só para não atrapalhar seus planos.

Amélie funga, e lágrimas silenciosas de mágoa estão rolando por sua face, a dor de perder alguém que ama e se sentir culpado por isso é eterna, mas ela não deveria se sentir assim.

Me levanto e a abraço de lado, desajeitado.

- Você não teve culpa de nada. 

Deposito um beijo suave no topo de sua cabeça.

Ela fita o lago, soluçando, e as gordas gotas d'água continuam a descer.

- A culpa é toda minha, fui eu quem assinou a sentença de morte dele. Se eu tivesse sido menos tola, ah ... - aquela lamúria sofrida que escapa da sua boca dói, é horrível de se ouvir. - Deveria de ter rejeitado todo sentimento que nasceu em mim, não há espaço pra alegria em uma existência maldita.

Apenas aperto-a mais forte, sem saber o que dizer.

Depois de um tempo, sinto que se acalma, e enxuga o rosto com as mãos.

- Desculpe, é difícil falar de Viktor, isso tudo nunca saiu da minha mente, você é o primeiro com quem converso, mesmo depois de quase três anos, ainda dói.

Assinto, dando um meio sorriso.

- Tudo bem, maridos são pra isso... eu acho. Desculpe se não sou tão fácil de lidar, mas saiba que tem em mim um amigo para sempre. Paz?

Ela sorri também. Me levanto e pego sua mão, ajudando para que levantasse também. 

- Paz! - ela ri, rolando os olhos. - Mas eu ainda odeio você.

Entramos no carro e voltamos para casa.

Na chegada, não parecia mais um lugar onde moravam pessoas que viviam em conflito e tristeza eterna, mas sim, só uma casa, com pessoas dentro, que pudessem vir a ficar juntas por querer, construindo um futuro. 

Ao deitar na cama e nos abraçarmos, veio um sono cheio de tranquilidade e aconchego. Uma existência pacífica parecia mais próxima do que o esperado.

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