My child

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¨I hope for better days
And
lightly times are tough¨

Angels - Khalid

John P.O.V

Os tempos ficaram tão difíceis que em certo ponto, creio que até impossíveis. 

Quando Michael e Finn foram levados, uma aura negra se abateu sobre a família. Todos trabalhamos como condenados, e até mesmo nos distanciamos uns dos outros, é como se houvesse uma névoa densa que nos separa, a ausência gritante de algo que nem nós mesmos conseguimos identificar o que é.

Logo quando Orianna e eu estávamos planejando algo mais sério, ela não lidou bem com minha ida para a casa dos Gray, e menos ainda quando foi nos visitar e percebeu que essa brincadeira de casinha podia vir a durar mais tempo do que ela gostaria.

Tivemos uma discussão feia noite passada, mas parece que ela se recusa a compreender a gravidade da situação. 

Amélie está excessivamente abatida, é a sombra da pessoa que costumava ser, vagando pela casa triste e sem vida. Os poucos momentos de alegria dela são quando pensa no filho, mas logo que cai na realidade, que Michael talvez não esteja aqui para ver seu nascimento, tudo volta a ser como antes.

Ela se queixa que não consegue dormir direito, a barriga agora grande demais a impede de encontrar uma posição confortável, e quando a encontra, pesadelos penetram seus sonhos, fazendo-a urrar como um animal noite a dentro.

Suas olheiras são assustadoras, a pele pálida em nada faz lembrar quem ela era quando todos a conheceram.

Nós fomos na última consulta e ter que tomar a frente para registrar o filho do Michael como se fosse meu foi como se a saliva virasse cacos de vidro em minha garganta. Eu odeio a sensação de estar vivendo algo que não é meu, e também é injusto tomar o lugar dele nesse momento tão importante. 

Hoje acordei cedo, deixei que dormisse mais, parecia descansar como um anjo, com os cabelos fogosos espalhados pelo travesseiro, um ressoar calmo e tranquilo.

Me sento na cozinha, servindo café e comendo algumas torradas e frutas, lendo o jornal, abstraindo uma ou outra informação importante aqui e ali. A criada trás a correspondência, e agradeço por isso, conferindo se estavam todas lacradas. Abro algumas, levantando para colocar mais açúcar na xícara quente, mas quando leio o conteúdo da carta, inevitavelmente deixo com que o objeto caia, se estilhaçando em mil pedaços no chão, era sobre ele, e era terrível. 

A criada vem até mim e vê minha expressão, mas tudo isso parece não importar, pois minha mente é uma máquina que não para de pensar em como tudo seria agora.

Amélie logo desce, pega as cartas endereçadas à ela, eu vejo tudo de longe, e decido esperar até terminar de ler todas para lhe dar esta. 

Quando entrego, ela lê, ávida, o rosto cada vez mais contorcido, algo medonho, até que termina e chora, como nunca vi uma mulher chorar antes, o barrigão enorme parecia nem existir para ela, apenas a dor de perder o marido.

- Aí meu Deus, não, por favor. - diz, balançando as mãos trêmulas enquanto andava de um lado para o outro de forma frenética. - Não, meu Deus, não, isso não, por favor. - repete inúmeras vezes.

Tento acalmá-la, mas ela se nega, gritando para que saia, vira as mesinhas de canto, quebra abajures e revira as estantes, jogando tudo que é possível pela sala, furiosa e descontrolada. Ao fim, abraço firme, pensando que logo se machucaria, e por consequência, o bebê também. 

Ela agarra meus braços, desesperada, e estou sem saber como agir direito.

- John, é a dor mais terrível que eu já senti. - fala Amélie, soluçando. - É horrível, horrível.

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