A carta de Alfie

1.3K 67 70
                                    

Foi a primeira carta, das três, que chegou.

De todas elas, aquela era a primeira, em uma manhã fria de Dezembro.

Alfie tomava café e olhava através da janela pela qual vira sua amada uma última vez, o pensamento disparado em como poderia ele ter deixado-a sozinha? Ele deveria de ter sido mais atento, deveria de ter prestado mais apoio, não ir em uma viagem de negócios estúpida, dinheiro jamais faria tanta falta quanto ela.

Ainda sim, aqui estava ele, sozinho.

O grande casarão sem uma risada, sem seu perfume inebriante, sem seus passos graciosos pelo lugar, nenhum sorriso, nenhuma palavra. Era um mausoléu.

- Senhor Solomons. - o mordomo entra no ambiente, recebendo nada menos do que um olhar apático e perdido. - Isso chegou para o senhor.

Uma carta é estendida, mas ele não tinha interesse em ler cartas nesse momento, talvez nunca mais. O mordomo percebeu aquilo.

- É da sua esposa senhor. - completa ele, humilde.

Em um piscar de olhos a carta fora arrancada das mãos do homem, sendo aberta com um cuidado de outro mundo, parecendo-se com um tesouro extremamente valioso.

Alfie se senta naquele mesmo lugar, onde uma vez antes ela se sentou, as mãos tremendo em ansiedade e nervosismo.

¨ Alfie,

Como vão as coisas por aí?

Eu sei que o que eu fiz foi imperdoável, mas você precisa saber dessas coisas as quais não consegui tirar do peito antes de partir, será que sabe o quanto foi importante pra mim?

Pois bem, sente-se por favor querido.

Apesar das coisas terem terminado de uma forma feia, saiba que a minha vida foi linda. Antes de você eu só sabia lutar por mais um dia, mais um momento, cega em sombras e amarrada em correntes das quais eu não era capaz de me libertar, aquela sua presença determinada, as flores, foi aos poucos...

Você chegou e quis algo que não podia ser seu naquela hora, esperou com calma e paciência para que o tempo pudesse passar e curar aquilo que uma hora esteve ferido, e como foi bom. Aprendi com você o respeito, o amor paciente e tranquilo, embora nunca fomos uma tempestade de verão, éramos o porto seguro que todos almejavam.

Alfie, meu amor... como eu te amei.

Se você soubesse o quanto me conquistou, o quanto me fez feliz, jamais passaria um dia lamentando pelo meu erro. Sim, eu errei, e me arrependi tenho certeza, veja tudo que deixei para trás, um filho lindo e amado, um marido dedicado e caloroso, seria esse o tipo de amor que toda mulher procura?

Aquele que nós tivemos? Não sei dizer.

Querido veja bem, eu me envergonho de quem fui antes de você e do que fiz depois de você, eu te traí. Assim que Michael pareceu mais flexível, disposto à negociar, eu fui até ele, quis meu filho de volta, mas não foi bem assim que aconteceu. Nós consumamos uma traição e eu me odiei depois daquilo, me senti suja, indigna, envergonhada.

Como poderia merecê-lo sendo uma infiel? Me perdoe por ainda magoá-lo meu amor, vou pagar por todo sofrimento que causei nessa vida, se não agora na próxima.

Saiba que podes ter saudade de todas as coisas, o aroma das frutas maduras, do frescor do orvalho da manhã, um beijo da pessoa amada, o abraço após uma infindável saudade, o calor do sol em seu rosto, mas não de mim. Nunca de mim. Eu sou quem te fez sofrer mesmo não estando mais aqui para aguentar as consequências.

Nunca pense que foi culpa sua, não existe um culpado.

Fiz o que fiz simplesmente por decisão minha, ninguém me influenciou, ninguém me pressionou, eu só estava cansada.

Se puder, se quiser... só se lembre dos momentos bons, das risadas, do nosso menino. Cuide dele, mesmo que ele não mais se lembre de nós dois, ainda será o nosso bebê.

Eu tenho tanto orgulho de você.

Agora e sempre,

Amélie. ¨

Ao fim daquela carta, uma lágrima solitária caiu dos olhos de quem não achava possível chorar depois de tudo.

Ele pensou em mandar matá-lo, aquele moleque filho de uma puta, ah sim. Torturá-lo dias por tê-la seduzido em sua fragilidade, fazendo com que se sentisse suja e menos merecedora de seu amor.

Depois releu mais uma dúzia de vezes a carta.

Queria ele se juntar à ela.

Mais uma vez os olhos brincaram por sobre a tinta na folha.

Pensou que era melhor deixar pra lá. O que já foi feito não tem mais como ser desfeito, que fique no passado, já não sofremos todos demais? A vingança só serviria de momento, traria ódio, tristeza. Não, Alfie não queria nada daquilo.

Fez o que foi pedido.

Viu o garotinho crescer de longe, enviou cartões que certamente nunca foram lidos, presentes que nunca foram recebidos. Estava lá em seu primeiro dia na escola e no último da faculdade, nunca na primeira fileira e ao seu lado, mas sempre presente no anonimato.

Um dia ele apareceu em sua porta e é claro que foi bem recebido.

Naquele meio abraço apertado, uma figura se escorava no pilar da varanda, pálida e ainda sim linda, observando tudo que jamais poderia fazer por si mesma outra vez.

Naquele meio abraço apertado, uma figura se escorava no pilar da varanda, pálida e ainda sim linda, observando tudo que jamais poderia fazer por si mesma outra vez

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O que acham?

Peço um biscoitinho para minhas outras histórias, que logo entrarão em revisão também! Fiquem ligadinhos.

Beijinhos dourados!

Forced Marriage ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora