She

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¨I built a little boat

With a sail from the memories I've been collecting¨

Cold - James Blunt

Alfie P.O.V

Aquele desgraçado estava vivo.

É.

Bem vivo mesmo.

O calafrio que percorreu minha espinha ao vê-lo parado no meio daquela sala foi absurdamente forte. O ar de prepotência e arrogância não fez nem questão de desaparecer do seu rosto, mesmo após ter abandonado a esposa e o filho por dois anos, agora ele volta e quer que as coisas estejam bem, bate o pé por ser eu quem está ao lado dela e por que o filho me chama de pai.

Mas o que é que ele queria? Esperava que Amélie fosse chorar em prantos todo santo dia até que ele resolvesse aparecer de novo? Que o filho ficaria na barriga dela até a sua chegada? 

Porra eles são pessoas, tem sentimentos.

Apesar de parecer um homem mais duro do que pedra, a primeira vez que botei meus olhos naquelas duas esmeraldas cintilantes, os cabelos vivos pegando fogo, simplesmente derreti. Ela era demais pra mim, eu sabia disso, então a admirei de longe, e a cada vez que chegava perto de mim, comigo sentindo seu perfume, era como se meu coração fosse explodir no peito de nervoso.

Eu jamais poderia conquistá-la. 

Mesmo Michael sendo alguém desprezível, que traia sua confiança e união em todas as oportunidades possíveis, ele ainda sim era o dono do seu coração, tão dono que foi à ele que ela deu um filho.

Como o nosso criador podia permitir que um homem tão vil tocasse algo tão puro? Eu sei que ele a destruiu, mas com muito carinho e dedicação eu finalmente tinha terminado de juntar seus pedaços. 

Nunca me esqueci do único dia em que lhe elevei a voz, da sua reação. Seus olhos se encheram de medo e era como se ela esperasse que eu lhe fizesse mal, a postura carcomida partiu meu coração.

Na noite em que Amélie passou por aquela porta, bebeu comigo e tocou meus lábios pela primeira vez, naquela noite eu soube que talvez ela estivesse pronta para me dar uma chance, e eu só precisava de uma para poder mostrar toda a minha devoção por sua alma. Eu lhe beijaria os pés e o chão por onde passassem, a amaria como a verdadeira deusa que ela é, e cuidaria do garoto como se fosse meu.

E nada foi diferente depois dessa promessa.

Com todo fogo e paixão, dediquei cada minuto do meu tempo para ambos, nunca sendo o suficiente, eu queria mais, muito mais, mas tinha medo de apressar as coisas. Deus, eu queria tanto ter outro filho com ela, dar um irmão para o nosso bebê. Então deitei todos os dias na cama entoando um mantra silencioso de autocontrole para não foder com tudo. 

Passei tanto tempo desejando aquilo que quase me esqueci de como se respirava.

- Querida? 

Ela se vira, me olhando com um semblante de pesar estampado no lindo rosto. 

Eu vejo uma lágrima entristecida cair pelo canto, solitária.

- Por favor minha rainha, não chore. - digo, tomando-a em meus braços. - Você merece muito mais do que isso meu amor. Por favor, não chore.

Sinto que sou um urso abraçando um coelho, Amélie sempre foi mais baixa que eu, mas nesse estado parece que irá sumir, cada vez mais encolhida e diminuta. 

O medo de apertá-la forte demais e quebrar algo me faz afrouxar um pouco o abraço.

- Será que podemos ir pra cama? - pede ela, levando a mão em direção ao rosto.

- Claro que podemos. - sou mais rápido que ela, secando com o polegar, de forma suave, as gotas que transbordavam em silêncio. 

Beijo sua testa com carinho, acariciando os cabelos. 

Depois de nos deitarmos e ainda mais  depois que ela aparentemente tinha dormido, me levantei e fui até o quarto do garoto, dando de cara com ele sentado e de olhos acesos dentro do berço.

- Papai. - chama ele com os bracinhos estendidos.

- Oi filho. - sorrio ao pegá-lo no colo e me sentar na cadeira de balanço que ficava ao lado da janela.

Coloco sua cabeça em meu peito nu, abraçando o pequeno corpinho ao niná-lo. Dou leves tapinhas em seu bumbum conforme faço algum som desconexo que parece ser efetivo na hora de acalmar o bebê, embalando seu sono com o balanço tranquilo da cadeira.

Muito tempo depois de ele já ter dormido, continuo ali, tentando agarrar aquele momento para sempre na memória. O medo de que eu fosse perder minha família é tão real quanto a chuva que caí do lado de fora da janela. 

Me estico para trás a fim de pegar uma manta e um travesseiro, recostando uma atrás de minha cabeça e outro para nos cobrir, encontrando uma posição em que ele ficasse seguro e confortável e eu pudesse dormir sem problemas com ele em meus braços. 

Naquela noite, eu senti que perderia tudo, então desejei nunca mais acordar.

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