They

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"If my pillow could talk
Imagine what it would have said
Could it be a river of tears I cried in bed am a stranger"

Cry me a River - Ella Fitzgerald

Ser ou não ser? Eis a questão.

Quem escreveu isso foi Shakespeare, tipo um milhão de anos atrás.

Quando eu era criança, tive um sonho. Nesse sonho, eu corria por campos repletos de flores, quilômetros e quilômetros de um jardim paradisíaco colorido. Às vezes sinto que foi real, algo assim não teria ficado gravado tanto tempo na minha memória.

Penso nisso pois estamos sentados em um piquenique no parque da cidade, curtindo o clima primaveril que chegou finalmente.

Alfie e Michael Jr. brincam despreocupados enquanto aceno sorridente para eles.

- Papai, vem! - grita o menino, puxando-o para ver os patos nadando na lagoa.

Ele completara dois anos no final de semana passado. Alfie lhe deu todas as doçuras do mundo, juntando com um pedido de noivado. Eu aceitara, queria muito ser feliz. E nós estávamos desde então. 

Abandonei a antiga mansão, por mais que fosse o lar perfeito, ela representava tudo aquilo que eu havia ganhado e perdido tão rápido. Como eu poderia seguir em frente me deitando na cama de meu ex marido com outro homem? Aquilo me fazia pesar a consciência e ele sabia disso.

Nossa nova casa era também próxima ao bairro antigo, mais afastada da cidade, o bom gosto de Alfie me surpreendeu, ele também era um homem culto e situado no mundo moderno.

As flores estavam tão coloridas quanto naquele dia, seja ele sonho ou não. 

Olho para o céu, experimentando de leve a soda italiana. Os pássaros voavam sem pressa acima de nós. As coisas estão tão diferentes desde que eu e Alfie decidimos juntar nossas vidas, são tranquilas e leves. Eu não tenho mais pesadelos durante o sono, parei de relembrar as coisas que me aconteceram o tempo todo, até mesmo deixei de me sentir triste.

Sim, por muito tempo eu fui triste.

E era uma tristeza esmagadora, que não dava espaço para nada além dela. Eu simplesmente perambulava pela vida, perdida e solitária. Parecia que as coisas finalmente tinham ido para o seu devido lugar, não havia mais nenhuma sensação ruim, nenhum dia nublado, era como se ali fosse o meu lugar de verdade.

- Dá uma lambida pra mamãe. - diz Alfie, apontando para Michael Jr. trazer o sorvete recém adquirido para mim.

- É de azul! - fala meu filho, sorrindo de orelha a orelha.

- Huuum, é simplesmente deliciosa a cor azul. - dou risada, lhe devolvendo o sorvete.

- Papai disse que hoje pode. 

Olho para Alfie, que sorri de lado.

- Só hoje. Mas nada de ficar acordado até tarde desenhando com os gizes de cera que ganhou do tio Arthur. - digo, vendo seu rostinho fazer uma expressão murcha.

- Mas mamãe, é meu aniversário.

Alfie se senta ao meu lado, puxando-o para se sentar em seu colo.

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