¨And I tend to close my eyes when it hurts sometimes¨
Someone you Loved - Lewis Capaldi
Depois de tudo que viveram, Amélie e Michael se afastaram definitivamente.
O episódio em que se reencontraram e trocaram o primeiro beijo saudoso depois de dois longos anos, ali mesmo na sala onde dividiam tantas lembranças, foi o que a mulher tomou como ponto final.
Como podia ela? Continuar amando um assassino, ter se transformado em algo parecido, senão pior, deitando-se com ele todas as noites, mesmo quando ele a maltratava. Ela nutriu por aquele homem um sentimento maior do que o próprio coração.
Perdera um filho, e o que restou só podia vê-lo na presença da garota que chegou de longe para fazer da sua vida um verdadeiro inferno. Enquanto Michael não estava por perto, ela constantemente se gabava de como o menino estava muito melhor sem a mãe verdadeira.
Parecia que ele realmente quase a esquecera.
Michael não honrou com a promessa de lhe devolver o menino, ele mesmo não sabia dizer o motivo. Quando via o filho e pensava em deixá-lo partir era como se admitisse que Amélie não era mais sua, e aquilo lhe doía mais do que gostaria.
Aos poucos, o que sobrou da pessoa que Amélie, antes le Roux, não mais Gray, e sim Solomons, foi murchando diante dos olhos do atual marido. Ele acompanhou desesperado a queda dela para o grande abismo de si mesma, tentando e falhando miseravelmente recuperá-la, dia após dia.
Depois de um tempo, Alfred percebeu que talvez a esposa jamais fosse voltar a ser feliz, e ele chorou em silêncio durante muitas luas, pedindo por um milagre. Enterraram juntos o pequeno feto que ela perdeu, no quintal da grande mansão, em meio ao seu campo florido.
A vida perfeita do casal estava finalmente arruinada.
Alfred nem conseguia descrever como se sentia, nem mesmo sabia se sentia algo naquele ponto. Era como se toda a sua vida escorresse por entre seus dedos como areia, e ele não conseguisse fazer as coisas pararem de piorar.
Um médico passou a visitá-la semanalmente, três vezes, e ela já tomava tantas coisas que nem se lembrava mais direito do próprio nome.
Em uma tarde de verão, o marido chegou em casa e ouviu um choro horrível vindo do antigo quarto do filho, correndo até lá. A esposa havia surtado, as lágrimas vertiam como as comportas de uma represa aberta, totalmente descontrolada. Tentava tirar de dentro dela toda a dor por ter tido a criança arrancada de si, e começou a acreditar em tudo que Gina Gray havia lhe dito, afinal de contas, ela nem mesmo conseguia abraçar Alfie direito.
Amélie tinha finalmente chegado ao fundo do poço, muito pior do que quando descobrira que estava grávida de Michael. Ela já não tinha mais pensamentos bons, se achava inútil, um peso para todos, solitária, infeliz...
Parou de comer e de sair da cama.
Alfred desesperado, engoliu todo o orgulho que teve durante sua vida e implorou de joelhos aos pés de Michael para que lhes devolvesse o filho, não queria saber de dignidade, queria sua família de volta. Michael entrou no carro no mesmo instante, com a criança em braços, ambos rumando até ela.
Mas chegando lá, ela estava diferente.
Não disse uma palavra. Não olhou para ninguém. Muito menos se moveu. Só continuou ali, deitada e imóvel. Eles trocaram confidências, e Alfred disse ao dito cujo culpado que nem mesmo banho ela tomava mais, e era ele quem vinha, junto de uma esponja todas as noites, tentar deixá-la limpa.
Amélie só queria dormir.
Na semana seguinte, Alfred teve que ir viajar à trabalho, deixando-a com os criados, sempre atentos a qualquer uma de suas necessidades. Pensou que fosse fazê-la feliz, pelo menos um pouco, se todos que um dia foram sua família fossem visitá-la, e todos os Shelby's concordaram sem hesitar.
Ele ainda se lembrava do momento em que teve que sair, ela havia finalmente saído da cama, tocava a janela suavemente enquanto observava-o partir, as gotas de uma passageira tempestade de verão correndo preguiçosas por tudo onde caíam.
Seu olhar? Indecifrável.
Amélie esperou alguns dias. Aquela sensação difícil no peito crescendo e tomando conta de tudo, mas ela ainda não sentia a certeza que precisava.
Até que passou pela frente do quarto do filho, parou cinco segundos na porta e se decidiu. Ela não conseguia mais lidar com tudo aquilo, por mais que queria, por mais que tentava, sentia que já nada mais era seu, nem mesmo ela mesma.
Escrevera algumas cartas, e as colocou na caixa de correio para que fossem entregues aos respectivos donos. Então pegou a corda, fez a forca, amarrou na viga da sala de estar, empurrou o banco e esperou.
Ouviu quanto todos chegaram, mas nem tinha forças para lutar, mesmo que doesse muito, mesmo que quisesse chorar, ela já não conseguia mais fazer nada. Sentiu o toque saudoso de John contra sua pele já fria, ouviu o choro do menino e partiu ainda mais seu coração ao ver os dois homens que amava se desesperarem por ela.
Quando fechou os olhos pela última vez, arrependimento era o que mais sentia.
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Forced Marriage ✔️
RomanceRomance, tragédia e vingança. Essa é a vida de Amélie hoje. No final, as coisas sempre fogem do controle de quem mais o deseja ter. Peaky Blinders e seus personagens não me pertence, porém a ideia e todos os personagens originais sim. - Iniciada no...