Um soju e uma amiga louca

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Se existe uma pessoa preguiçosa pelas manhãs, essa pessoa sou eu.
Sempre gostei de acordar tarde. Não tem nada melhor do que despertar sozinha, sem nenhum aparelho barulhento te chamando.
Acordar e enrolar na cama então... não tem preço!
Mas essa vida acaba quando você se torna um assalariado e depende disso para sobreviver.

O maldito despertador soou as seis em ponto.
Kayo já tinha saído rumo ao aeroporto e, numa hora dessas, já devia estar voando.
Eu enrolei cinco minutos. Era o que minha rotina permitia.

Também não costumava comer pelas manhãs. Meu estômago era tão preguiçoso quanto eu, demorava a entender que estava acordado, portanto apenas me arrumei e sai para cumprir meus deveres de adulta.

Aos 22 anos eu ainda não tinha carta. Gastei todo meu tempo e dinheiro na faculdade, colocando toda e qualquer outra coisa em segundo plano.
Erro meu, porquê agora eu tinha que depender de ônibus e metrô para chegar até o escritório.
Uma vez que me conformei em pegar a condução pública, que ia abarrotada naquele horário, passei a usar a música para imaginar que estava em um lugar muito melhor.

"A imaginação é a maior arma de uma escritora", já dizia minha mãe.
Ela sim era escritora. Ela inventava estórias infantis. Eu sou jornalista, conto histórias que estão mais para um fato.
No fim, o intuito é o mesmo: usar a narrativa para entreter e expressar suas emoções e, nesse aspecto, a imaginação é mesmo uma grande arma.

Eu não tinha músicas no celular, então me acostumei a escutar a rádio.
Eu já estava próxima ao ponto que iria descer quando começou uma música bem animada.

"Com vocês, 'Clap', do Seventeen!"

Assim que ouvi o nome do grupo fiquei presa na música.
Desci do ônibus e andei em passos lentos, tentando absorver cada pedacinho e cada voz, tentando adivinhar qual parte pertencia a Kim Mingyu.
Foi inconscientemente. Opa, Kim Mingyu dominou o meu inconsciente bem rápido, não é mesmo?

Ao perceber esse fato, desliguei o rádio. Não fazia sentido eu ficar intrigada com um artista de K-Pop.

Chae Young estava rodando na cadeira enquanto mordia a tampa da caneta e possuía o olhar completamente distante. Me aproximei já rindo da minha veterana, sabia que ela estava com algum bloqueio.

- Do que você precisa hoje? - perguntei colocando minha bolsa no cantinho debaixo da mesa.

- Ahn? - ela me encarou e tirou a caneta da boca

- Para o seu bloqueio. Tem dias que é café, porquê você não dormiu. Nos outros é um doce, geralmente donut, porquê você teve um encontro ruim.

- Você já percebeu tudo isso?

- Pois é. Eu já criei um arquivo no meu cérebro: "Manias da Chae Young". Sempre adiciono coisas lá. Você é uma caixinha de surpresas.

- Não sei se me sinto grata ou não...

- Enfim. Opção 1 ou 2?

- Opção 2. - suspirou.

- Ok. Então antes do donut tenho que te escutar desabafar. O que foi dessa vez?

- Ah, Hee Ji... - ela suspirou - Quando vou ter alguém na minha vida, hã? Sinto que a idade está me deixando cada vez mais desesperada e carente. Cansei desses encontros.

Without You (Kim Mingyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora