Bilhetes escondidos

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Buda me amava, porquê aquele era minha sexta de folga da redação.
Quando se trabalha em um jornal você não tem horários e dias muito certos para trabalhar e folgar. Tudo seguia conforme as notícias corriam.
E se as notícias estavam calmas, a gente seguia a planilha do supervisor, que vivia mudando todo mês.

Meu setor era o mais divertido, o de entretenimento, mas algo dentro de mim me fazia ter muita vontade de escrever sobre coisas mais sérias. Talvez ter uma coluna um dia, onde eu pudesse publicar artigos de opinião.

Eu sempre amei esse gênero. Quando começava a escrever me perdia no espaço-tempo e tudo que importava eram as palavras que eu desejava pôr pra fora.
O teclado e a caneta eram extensões do meu braço. Eu realmente amava escrever.

Nos dias de folga sentia falta do cheiro do jornal. Ele cheirava tinta, folhas e café. Tudo que eu mais amava.
E café era realmente algo que eu precisava naquele momento.

Um gosto amargo tomava conta da minha boca. Lambo fundinho eu sentia o álcool da noite passada. Bem na garganta.
Minha cabeça e meu corpo estava pesados e meu estômago estava enjoado o bastante para eu desejar não sair da cama.

Como eu disse, Buda me amava. Além de ser minha folga, meu marido não estava lá para me criticar por ter dormido até tarde e por estar de ressaca.

Obriguei meus pés a levantavam e eu sentia o peso do mundo todo em cima de mim.
Meus pés sempre foram mais gordinhos, mas naquele dia eles pareciam dois pães, de tão inchados.

E essa era a primeira ressaca de Jo Hee Ji! Eba!

O relógio do meu Samsung velho marcava meio dia e quinze. PORRA!
Eu estava me sentindo um tanto quanto perdida.
Cheguei em casa um pouco antes das seis, tomei um banho e cai dura na cama. Se minha mãezinha me visse agora, com certeza iria surtar. Mas eu achei graça. Rindo de nervoso mesmo.

Tinha duas chamadas perdidas no meu celular do Kayo e apenas uma mensagem.

Kayo
O Japão está legal como sempre. Fez o turno da noite de novo? Não me mandou nada.
Volto só na terça.
Saudades.

Meu coração bateu rápido e eu senti as mãos gelarem. Respirei fundo antes de digitar minha resposta.

Hee Ji
Que bom, amor.
Na verdade eu sai pra jantar com o pessoal do escritório e acabei numa festa com. Chae Young. Foi meio sem graça sem você.

Kayo
Numa festa? Numa balada?
A gente sempre foi a festas juntos, é normal que você estranhe. Não aconteceu nada demais, né?

Hee Ji
Não. E eu só conheci uma música que tocou lá. Estou por fora de tudo mesmo.

Kayo
Vou te levar numa balada legal qualquer dia e você pode conhecer umas músicas boas de verdade.

Ufa! Ele não brigou comigo!

Hee Ji
Vou esperar por isso!

Eu estava mesmo aliviada.
Segui arrastando minhas pernas até a cozinha e preparei um café forte, que desceu mais amargo que o álcool no fundo da minha garganta. Eca.

Meu dia não foi muito interessante.
Passei deitada, assistindo dorama e enrolada no meu edredom preferido.
Muitas pessoas gostam de cobertores, mas eu, como boa alérgica, amo ededrom. Daqueles macios e fofinhos que me deixam confortável e relaxada ao me cobrir.

Sim, já era primavera, então o enrolados de teto estava ligado, apenas para gastar energia e permitir que eu me encolhesse mais debaixo do edredom. Era mesmo ótimo!

Without You (Kim Mingyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora