Destino

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Eu ri, mas foi de completo e absoluto nervoso. Quando me apresentei pela primeira vez em público com o Seventeen havia pouquíssima platéia. Os meninos acabaram por se sentir decepcionados consigo mesmo por ter ido mal na tarefa que nosso CEO havia nos dado, mas foi nesse dia que eu descobri que ser artista vai muito além de fazer aquilo que gosta. 
Ser artista é entregar-se. É sangrar pela sua arte e não esperar nada em troca mas se sentir incrivelmente recompensado quando vê uma única pessoa feliz com sua expressão. E eu vi alguém aquele dia. Com toda certeza eu vi. E não era um simples alguém, era uma garota sorridente e que aplaudiu entusiasmada ao fim da pior apresentação de toda a minha vida.

A jovem tinha o cabelo partido em duas tranças e um cachecol vermelho no pescoço, da mesma cor que a touca. Seus olhos escuros brilhavam em meio à confusão de poucos fãs, câmeras e turistas completamente perdidos diante de um palco improvisado ao ar livre.
Suas amigas estavam mais animadas que ela, com lágrimas nos olhos enquanto seguravam cartazes de apoio. Com certeza eram da fanbase, mas isso não me prendeu nelas e sim na garota do gorro vermelho. 
Ela não estava lá porquê nos conhecia. Era perceptível que só estava ali para acompanhar suas colegas, o que tornou sua presença ainda mais especial, uma vez que a jovem realmente gostou do que viu e ouviu, mesmo não estando na perfeição que desejávamos entregar para os espectadores.

E era por isso que eu desejava ser idol. Era por reações como essa que cantar e dançar me davam tanto prazer.

Demorou para que eu reconhecesse a moça do cachecol vermelho, mas rever o DVD do Seventeen Project com a minha família foi crucial. Depois de todos esses anos, descobri que era Hee Ji a garota que me mais me apoiou mesmo sem saber. 

Sempre me questionei se aquela garota tinha continuado a acompanhar o grupo e gargalhei com lágrimas nos olhos quando pausei o vídeo bem na parte que aparece o rosto dela. Essa imagem agora tem até uma moldura, que está devidamente embrulhada para presente no banco do passageiro do meu SUV alugado.

Se fosse Hee Ji na minha posição ela com certeza diria: "nota mental: comprar um carro". Pensar nisso me fez rir novamente e o ato me fez pensar que ultimamente eu realmente estou rindo demais. Era ótimo.

Descobrir isso foi como um sinal do universo. Eu eu Hee Ji sempre estivemos destinados à nos conhecer, pois mesmo sem saber que era ela, a garota do cachecol vermelho sempre esteve na minha mente me apoiando quando eu acreditava ter chegado no meu limite. Era ela que me fazia ir além.

A neve caía, o que deixou a paisagem no tom de branco mais pacífico que pode existir. A rua que os pais de Hee Ji moravam estava silenciosa e vazia e as duas fileiras de Pinheiros transformavam o beco num lugar fora do comum.

As casas antigas se dispunham em fileiras, com grandes portões de carvalho negro e tetos no estilo imperial, o que me levava de volta à era colonial, tanto pela arquitetura quanto pela monotonia de cores, que se baseavam numa paleta insacavelmente nude. 

A única cor da rua era o cachecol vermelho pendurado no pescoço de Hee Ji. O ítem finalmente tinha ganhado companhia no mesmo tom: toucas e luvas (que foram presentes de natal dela mesma). O carro vermelho também estava lá, já com o motor e os faróis acessos e eu me abaixei para que minha garota não me visse.

Fitei enquanto ela abraçava os pais e o irmão e esperei até que ela partisse. Até recebi uma mensagem antes: "Estou voltando, Mingyu. Vou para o hotel. Onde está?"

Eu ri outra vez. Ela ficaria me esperando dessa vez.

Depois de mais ou menos dez minutos de sua partida eu desci do carro e logo assoprei minhas mãos para aquece-las. Tinha me esquecido como ficava mais frio na costa da Coréia.

Without You (Kim Mingyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora