ESPECIAL WEN JUNHUI: Céu Estrelado

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Fitei o céu. Tóquio não costuma ser estrelado. As cintilantes luzes do céu viviam apagadas embaixo do nevoeiro de gases poluentes da cidade. Eu sentia falta do céu de Shenzhen, que era sempre cheio de pontos brilhantes.
Era nossa última noite no Japão, antes de partirmos para Jacarta e tudo que eu queria era poder visitar a China de novo. Eu queria estar em casa.

Hoje em dia era tudo mais fácil. Eu já sabia falar bem coreano e tinha uma família linda com os garotos. Viajava sempre para a China com o The8, participando de programas de dança e tinha a oportunidade de ver meus pais e meu irmão as vezes. Eu via Sooke crescer (aquela menininha é tudo para mim) e me divertia com amigos artistas, além de receber muito amor dos Carat's. Mas ultimamente, sentia falta de casa.
Não sei explicar exatamente o sentimento, mas era como um grande vazio.

Coloquei as mãos no bolso e sai para caminhar. Me senti um pouco o Seungkwan, que vivia fugindo sozinho para andar à noite. Talvez ele também sentisse esse vazio as vezes.
Meus coturnos pretos deixavam marcas no asfalta ainda molhado da chuva que acabara a pouco tempo. Por sorte, meu casaco era quente o suficiente para o frio da capital japonesa.
Ainda que o clima estivesse um tanto triste (ou talvez fosse a minha aura?), as Sakuras alegravam qualquer coisa. Olhei o relógio. Faltava duas horas para que o Parque Ueno fechasse.

Caminhei tranquilamente até lá. Por sorte estávamos hospedados perto os suficiente para que eu não precisasse pegar táxi. As flores estavam realmente lindas. Me sentei num banco à beira do caminho pensando que Minghao iria adorar ver aquilo. Era o tipo de coisa que o inspiraria um belo quadro.
Peguei o celular e capturei uma foto.

Fiquei sentado um bom tempo observando as flores, sentindo a brisa, olhando as pessoas... Muitos casais passavam de mãos dadas e fotografando beijos embaixo das árvores rosadas. Era estranho ver tanto amor e nunca ter vivido um. "Essas coisas só acontecem, Jun.", a voz de Seung Cheol ecoou na minha mente e me fez rir de mim mesmo. Era realmente algo que ele me diria se estivesse aqui.

Levantei e comecei a caminhar de volta. O vento frio bagunçava meus fios marsala enquanto eu dava passos largos, a fim de chegar logo no meu quarto quente e confortável. Minha cabeça vagava, viajando pelas pétalas cor-de-rosa caídas nos paralelepípedos do caminho. Quando o vento as tocava, as carregava para longe... tão longe que era impossível acompanhar.

Divagando estava e divagando trombei em alguém.

- Aí! - choramingou uma voz feminina.

- Oh! - entrei em pânico. Como era mesmo que se pedia desculpas em japonês? - Sorry! Sorry! Eu... andando... e...

Me confundi todo tentando me desculpar e toquei no braço da garota, querendo ver se ela estava bem. Os cabelos longos cobriam o rosto, que ficava um tanto mais baixo que eu. Ela levantou a cabeça de vagar e meu pânico aumentou gradativamente. Conforme sua face ficou clara e visível, meu estômago revirava e meu coração parecia ter esquecido como se batia.

- Ei! - ela disse em tom bravo - I don't speak English! - ela me olhou - Oh! Você é Wen...

- Mai Li!

Abracei a garota sem nem pensar duas vezes. Fui acometido de uma alegria inexplicável por rever um rosto conhecido em uma cidade enorme e desconhecida.

- O que está fazendo aqui? - perguntei surpreso.

- Jun! Que saudade! - ela me olhou depois de desfazermos o abraço - Eu vim com a minha tia, ela veio à negócios.

- Uaaa! - sorri - Depois de tanto tempo nos encontramos assim do nada!

- Pois é! Veio sozinho?

Without You (Kim Mingyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora