[PRÓLOGO] Pecados do Passado

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Monastério Saint-Michel. Outono de 1995.

O vento zumbia farfalhando as folhas no jardim. A lua infiltrava pelos vidros da janela, banhando a cama forrada com lençóis amarrotados. A claridade atenuava a escuridão, eram as primeiras horas da madrugada e ouvia-se o sibilar dos insetos nos campos ao redor. Corujas espreitavam pousadas sobre os altos portões à frente da propriedade e silvavam sempre que o vento fazia as dobradiças rangerem, anunciando a chegada do inverno.

O garoto mantinha-se apreensivo, temendo que algo errado houvesse acontecido. Parado rente ao peitoril, ele observava a noite enquanto estalava a junta dos dedos, de forma a não fazer ruídos.

Nervoso, ele se virava vez por outra, atento a qualquer movimento além da porta, aguardando algum sinal no corredor, algum zunido que denunciasse ter alguém parado ali.

Seu coração pulsava acelerado, a adrenalina causava tremor, deixando a garganta seca, a língua petrificada, sentia-se sufocar.

Caminhou até lá, lutando com as pernas que não paravam de tremer. Trajando o uniforme impecável, tornou-se um vulto que deslizava de um canto para o outro no aposento escuro. Vez por outra fazia uma pausa a conferir as horas, e então, voltava a esfregar as mãos, até que ouviu as três batidinhas ecoarem no ambiente. Era ele.

Dirigiu-se à porta, e aflito girou a chave, pressionando a maçaneta a fim de dar-lhe passagem. A figura encapuzada deslizou para dentro, apressado, e antes que pudesse se explicar, tomou-lhe os lábios em um beijo que roubara a respiração.

As mãos suaves deslizaram pelas curvas de seu pescoço, acariciando-o por detrás das orelhas, afagando as mechas de cabelo, o que fez o capuz negro cair. Então se afastou.

— Eu, pensei que não viria mais — hesitou, observando-o com o coração disparado — O que eu disse... eu, quero que fique comigo. Agora e para sempre.

Houve uma pausa, o vento sussurrava lá fora.

— Então promete — o visitante o encarou, dando um passo para trás — Promete para mim que ficaremos juntos, que não vamos nos separar.

— Sim, é claro que eu prometo — Ele retrucou buscando por suas mãos, acolhendo-as aos dedos frios — Por esta noite — beijou seus lábios, acariciando vagarosamente sua face — e por todas as outras que virão.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora