A carroça estava parada próxima às portas do monastério, aquecendo sob o sol da manhã. Alunos mais velhos a abasteciam com vários cestos pesados contendo legumes, verduras e hortaliças. Eles traziam os cestos de algum lugar na cozinha, e após descerem a escadinha procuravam acomodar a produção cautelosamente, de forma a não danificar as folhas.
O frei Isaac, também conhecido por frei Mamute, estava parado rente à carroça, conferindo o trabalho. Em silêncio, atava com firmeza um cabresto ao equino de pelugem castanho claro, que relinchava chicoteando o espesso rabo escuro.
Era manhã de sábado, e o sol refletia nas hortaliças distribuídas pelos cestos, cintilando as gotinhas de água que as mantinham frescas. Uma brisa soprava levemente pelos terrenos do monastério, e o delicioso farfalhar dos pinheiros era aproveitado pelos garotos que curtiam a folga das aulas, caminhando pelos jardins.
— Frei Beterrabas!
Ouviu-se então a voz do padre-diretor soar vinda da entrada. Ele estava parado a observar o trabalho.
Desajeitado, Beterrabas virou-se deixando cair um dos cestos, que espalhara várias cenouras pelo chão. Inquieto, tentava disfarçar o mau jeito com sorrisinhos sem graça, não sabendo se dava atenção ao padre, ou tentava abaixar-se para recolher as verduras.
— Está tudo bem frei? — O ancião questionou percebendo a estranheza.
— Sim... Sim padre — Beterrabas engasgou — Sim diretor — respirou tentando se recompor — o senhor, o senhor precisa de algo? — perguntou limpando as mãos nas laterais da túnica, evitando encarar o superior.
O padre-diretor permaneceu a fitá-lo por um instante com o olhar penetrante e desconfiado, mas avaliando melhor, deduzira que de todos os freis aquele sempre fora o mais desajeitado. Resolveu ignorar.
— Não se esqueça de trazer as correspondências quando retornar — o exortou.
Após sua retirada, Beterrabas se virou a agradecer alguns garotos que vieram auxiliá-lo com as verduras esparramadas, então, com ajuda do frei Isaac, acomodou-se no banquinho do condutor e deu leves chicoteadas no lombo do cavalo, que acostumado à rotina semanal, pôs-se a trotar para fora dos portões, rumando ao vilarejo que havia para lá da floresta de pinheiros. Era dia de feira.
— Esse frei das Beterrabas, é um barato.
Afastado, Dan comentara com o colega, fitando a silhueta da carroça deixando os portões.
Eles estavam sentados no gramado abaixo de alguns pinheiros, afastados da entrada do monastério, um ângulo que permitia boa visualização de todo o terreno. Foi dali que perceberam a aproximação de Marlon Gayler, vindo da porta distante.
Os rapazes então trocaram olhares confidentes, e sem nada dizer, o observaram subindo o declive em sua direção. Marlon parou frente a frente com eles.
— Precisamos conversar — ele disse ao chegar, ignorando a presença do segundo garoto, fitando apenas Dan Mason.
— Conversar? Sobre o quê? — Dan resmungou sem erguer os olhos, mais preocupado com um graveto que usava para cutucar o gramado — Não há nada para conversarmos Gayler — respondeu grosseiramente, voltando a observar o movimento dos freis que caminhavam por ali.
— Claro que há — o rapaz retrucou de igual forma ríspida, sem se fazer inferior — Você me deve uma explicação, sobre ontem à noite. — Então o percebeu finalmente erguer os olhos.
— Puts, mas como você é chato cara! Qual a parte do "não há o que conversarmos" tem dificuldade em entender? — Dan rebateu, e quebrando o graveto, passou a lançar os pedaços ao longe — E agora cai fora daqui, estamos ocupados.
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O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]
Romance"Internado contra a vontade em um colégio religioso liderado por freis, Marlon Gayler precisará unir-se a Dan Mason se quiser fugir. Dan é um rapaz igualmente problemático, arrogante e envolto por mistérios. É no curso do plano de fuga que um sentim...