Capítulo 39 - Uma noite movimentada

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No topo da torre leste o padre-diretor procurava manter o jogo de cintura diante do clérigo que o observava fixamente, aguardando respostas. Fizera de tudo para evitar chegar àquele ponto, mas novamente, após tantos anos, estava em uma situação complicada com o representante da igreja. No entanto, sabia desde o início que hora ou outra chegariam àquele ponto, primeiro devido à carta enviada em seu nome, coisa que ele não tinha feito, e segundo porque em tão pouco tempo vários sussurros sobre o passado haviam voltado a aparecer.

Enquanto fixava o trepidar da lareira, questionava se Alex Cotton seguira suas ordens e destruíra a fotografia e o medalhão, mas por algum motivo, arrepios que envolviam a nuca diziam que não, que os malditos objetos ainda estavam por ali, a fim de atormentá-lo.

Ele recobrou a atenção, e virou-se para Europeus:

— O garoto quis assim, não havia como mantê-lo sob nossos cuidados uma vez que sabia de nossas regras, e como o senhor bem as conhece, dizem que não podemos obrigar órfãos a permanecerem conosco após a maior idade.

Houve um instante de silêncio. O bispo estava sentado na poltrona e o encarava, as mãos cruzadas frente ao corpo.

— Não foi isso que chegou a meus ouvidos padre — retrucou para desconforto do homem — Comentam que o rapaz tem um irmão adoentado. Será que ele realmente iria querer deixar o monastério em uma época tão fria, sabendo que o irmão não poderia segui-lo?

— Jeremy está ótimo — virou-se para o homem, esboçando seu melhor sorriso — O senhor mesmo poderá vê-lo caso deseje, e o garoto confirmará tudo o que foi dito nesta sala. O irmão, pelo contrário, é problemático, sempre foi insubmisso, e quando teve a oportunidade de deixar a colina não pensou duas vezes.

— Jeremy? — o homem retrucou, ajeitando as roupas.

— Sim. Este é o nome dele. Esteve acamado até a noite do incidente com as aves, mas milagrosamente se recuperou. Chegamos a levantar a hipótese de que nunca estivera realmente doente, e sim permaneceu fingindo inconsciência para não ir às aulas.

— Pelos céus. Como uma criança fingiria algo do tipo por tanto tempo?

— O senhor não sabe do que os Mason são capazes bispo. Eu lido com eles há anos.

De repente o padre sentiu que falara demais, e Europeus pegara o sobrenome no ar.

— Espere um minuto. O senhor se refere a...

— Sim — não o deixou completar, não queria que aquele assunto rendesse mais que o necessário — Estão sob nossos cuidados desde invernos anteriores, desde bem, o incidente com os pais.

— Pelos céus. Acompanhamos as notícias em Palência, mas, não imaginávamos que as crianças seriam acolhidas na colina. Por que, não nos enviou carta avisando que haviam sido transferidos para cá, diretor?

— Ora, não pensei que fosse importante — o velho retrucou, caminhando até sua mesa — Admissão e demissão de internos é algo tão corriqueiro, que não sabia que Palência fazia questão de receber relatórios — Umedeceu os lábios — E bem, tudo foi devidamente acertado.

Houve uma pausa, Europeus observava o trepidar da lareira.

— Bem, o senhor está certo. Este foi um ato muito nobre, acolhê-los sob a guarda de Deus. Confesso que me impressionei com a história transmitida nos telejornais. Não sei que julgamento posso fazer, já que nem mesmo a polícia chegou a um veredicto sobre o caso.

— Portanto compreende o que falo sobre o garoto mais velho — o padre limpou a garganta, sentando-se um momento — Dan Mason é muito rebelde, não me estranharia ter sido o real culpado pelo acidente.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora