Capítulo 63 - O julgamento

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Dan deixou as celas ofegante, e às suas costas, Beterrabas sentia o frescor do ar puro que tinha a superfície. Eles pararam um momento para respirar, observando o pó que caía do teto, e a tintura das paredes desgastando. Então Dan virou-se para ele, muito cansado.

— Beterrabas. Eu vou subir para buscar Gayler e avisar ao bispo sobre o que está acontecendo — ofegou, sentindo-se imundo — Quanto a você, procure as lideranças e conte o que vimos, tente convencê-los a tomar os garotos, e fugir para o mais distante possível do monastério.

— Mas Dan, eles não vão me ouvir.

— Se não ouvirem, o peso deste sangue não estará sob nossas mãos. Você terá avisado. Agora, faça o que eu digo.

Beterrabas agitou a cabeça positivamente, e surpreso com a quantidade de pó que caía ali, acelerou a caminhada.

Dan projetou-se na cozinha, e então no salão comum, caminhando a passos apressados até o hall. Quando sua silhueta foi visível, e os que estavam ali o perceberam, imediatamente Margô em companhia de Gurkievicz e Gomes aproximaram-se a questionar o que estava havendo. Dan engoliu em seco, vendo Beterrabas caminhar até o aglomerado de freis.

— Margô... Meninos, prestem atenção, não temos tempo para explicações — ele estava ofegante, o coração acelerado — Saint-Michel está ruindo, as estruturas do monastério estão se fendendo e eu preciso que retirem o máximo de pessoas daqui, o quanto antes.

— Fendendo? — Gurkievicz questionou, trocando olhares com Gomes — Mas, isto é impossível. Este lugar existe a centenas de anos.

— Então olhe para os arredores seu idiota — Dan perdeu a paciência engolindo em seco, então procurou ser mais educado — Perdão, eu... só estou com a cabeça cheia — disse, umedecendo os lábios — Olhem ao redor, vocês alguma vez viram tanta poeira caindo das paredes?

A confusão não os deixara perceber, mas agora que o colega falara, repararam com maior atenção em como o chão e a escadaria estavam brancos. O pó caia lentamente, e as paredes pareciam criar pequenas fissuras entre as rochas.

— Mas, o que houve? — Gurkievicz questionou, assustado.

— Não importa o que houve, e sim o que acontecerá se não dermos o fora daqui em vinte minutos. Este lugar será soterrado.

— O quê? — Gomes arregalou os olhos, as pernas já trêmulas.

— Vamos. Se apressem.

Eles concordaram com a cabeça, e seguiram imediatamente na direção oposta.

Na roda de freis parecia haver discussões, mas Dan estava mais preocupado com quem estava nos andares acima.

— Margô, eu tenho outra tarefa para você.

— Dan, se for o frei Samuel, ele ainda não chegou — ela explicou, referindo-se ao frei Ratazanas.

— Sim, eu sei. Mas vai chegar — ele umedeceu os lábios — Até lá preciso que faça algo especial, Jeremy, eu preciso que suba ao quarto e traga meu irmão para baixo. Preciso que cuide do Jeremy até eu voltar, e acima de tudo, preciso que ele seja o primeiro a ser acomodado na caminhonete, longe do vento frio.

Assustada, a garota concordou com a cabeça, então o viu passar à frente.

— Dan — ela retrucou antes que saísse, e ele parou um momento antes de subir a escadaria. Percebendo a discussão acalorada entre Beterrabas e os mais velhos da ordem, virou-se para ela.

— Sim?

— E Marlon Gayler? — a garota retrucou.

— É isto que estou subindo para resolver — Dan engoliu em seco, confiante na palavra de Charles. Então ofegou — Se o Arcanjo nos ajudar, ele logo estará aqui. Temos que ter esperanças.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora