Havia discussão na sala administrativa. Homens caminhavam de um lado para o outro, dialogando, praguejando, e apenas os vultos eram visíveis. Logo ali a lareira estava acesa, e ele podia sentir o calor, enquanto ouvia zumbidos por todos os lados.
— Diga de uma vez diretor, o que está ocultando? O que a falecida Beauvoir tem a ver com isto, e por que o rapaz insiste dizer que é Charles Widmore?
— Europeus, por Deus, seja compreensível...
— Não percebe que ocultar as coisas só irá piorar a situação? Não percebe que ainda que tente, já se demonstrou incapaz de permanecer no cargo?
— Acredito que não seja para tanto bispo — foi Cotton a entrar no diálogo, sentindo-se furioso — Todos estes anos o padre demonstrou-se ser um excelente administrador. Se algo assim está acontecendo, é uma exceção.
— Exceção? — vociferou o representante de Palência, parando frente à janela a observar a neve cair intensamente — Há um garoto fora de si no andar dos estudantes, e agora, cinco homens feridos. É isso que descreve como um "excelente administrador"?
Os olhos de Daniel tomavam foco, e agora podia ver as silhuetas com perfeição. Alex Cotton estava sentado em uma poltrona, com o hábito completamente desalinhado, o padre-diretor atrás de sua mesa, visivelmente abatido, e o bispo de Palência caminhando de um lado a outro, com suas vestes escuras a varrer o tapete.
Havia também vários montinhos peludos espalhados pelos cantos, envoltos por poças avermelhadas, e quando Daniel deu por si com um bem próximo ao sofá, ergueu-se tateando o pescoço, procurando pelo crucifixo que sempre o acompanhara. Então sentiu a pontada na cabeça.
— Céus, o que houve aqui? — retrucou, umedecendo os lábios a se sentar. Os três presentes calaram-se a olhar o recém-desperto, e Europeus imediatamente caminhou até ele.
— Filho, se sente bem?
— O que aconteceu? — conferiu os arredores, observando os roedores mortos por toda parte — Sinto uma terrível dor de cabeça.
— Por pouco ele não fez coisa pior — o bispo fixou o padre-diretor, então voltou a ele — Não fique constrangido, sei que foi muito forte para você. Ninguém esperava aquela reação.
— Charles? — Daniel imediatamente recordou-se do diálogo no quarto do segundo andar, e empurrando-o para um lado, se ergueu, sentindo a sala girar. Fixou os olhos nos quadros espalhados, nas estantes cheias de livros e o estômago revirou — Céus. Aquilo no corpo de Marlon Gayler dizia ser Charles Widmore, mas, os mortos não voltam a este mundo, isto é uma loucura. — cedeu os lábios, respirando profundamente — Aquilo é o enganador, um demônio zombeteiro que deseja enlouquecer a todos nós.
— Tente explicar isto a Ele — Cotton resmungou indicando o bispo, levantando-se a jogar um pano umedecido sobre a mesa — Convença-o de que este é o objetivo do rapaz — encarou o superior, observando suas feições confusas — Pois pelo visto, o bispo parece mais inclinado a ouvir o diabo que aos servos de Deus.
Europeus engoliu em seco, não sabia o que pensar. O coração dizia que devia investigar aquela história a fundo, e nada tirava de sua cabeça que Alex Cotton e o padre-diretor tentavam encobrir algo.
— Não Cotton, ninguém nesta sala deve ser julgado diante desta situação — desviou o olhar, caminhando à lareira enquanto observava os vários roedores mortos — Uma possessão como a de Gayler confundiria o mais experiente exorcista — virou-se, e encarou os presentes — Nunca lidei com uma força tão... potente — meneou a cabeça — Ela não se submete às ordens, e a água abençoada sequer a feriu.
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O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]
Romance"Internado contra a vontade em um colégio religioso liderado por freis, Marlon Gayler precisará unir-se a Dan Mason se quiser fugir. Dan é um rapaz igualmente problemático, arrogante e envolto por mistérios. É no curso do plano de fuga que um sentim...