O pequeno crucifixo pendia frente ao corpo. Assistido pelos administradores de Saint-Michel, Daniel sabia de uma coisa: quanto mais tempo perdessem com discussões, mais cansativo se tornaria aquele ritual, e mais perigoso seria para o frei que estava desacordado. Não sabia o que ocorrera antes de chegarem ali, tampouco como o homem fora arremessado naquela parede, mas o certo é que se a silhueta com o rosto coberto permanecesse sem ser examinada, poderia estar correndo riscos. Precisava trabalhar com prioridades.
— Ei? Não ouse dar um passo sem meu consentimento — Marlon retrucou franzindo o cenho e Daniel recuou, engolindo em seco — Eu não terei piedade de você padre, assim como você não teve piedade daqueles que entraram em seu caminho.
— Ameaças não resolverão muita coisa neste momento rapaz, apenas a colaboração. O frei caído às suas costas nada tem a ver com o problema, então, deixe-nos retirá-lo.
— E quem não tem envolvimento com este problema? — Houve um momento de silêncio, e Marlon umedeceu os lábios — Sua autoconfiança é tão grande assim? — fixou seu olhar, sentindo a fúria queimando por dentro — Pensa mesmo que pode lidar comigo como lidou com os demais? Pensa que Saint-Michel é um lugar como todos os outros?
Daniel fixava-o sentindo a boca amargar, buscando autocontrole. De fato, liderar um exorcismo em sua própria casa era uma novidade.
— Você sabe que não pode continuar com isso por muito tempo. Sabe que diante do Arcanjo não há forças para que resista.
— Oh, como estou com medo do Arcanjo — Gayler zombou, dando um passo para próximo da cama — O santo protetor dos freis palentinos — olhou para o bispo e para o diretor, em seguida para Alex Cotton que o observava com olhar furioso — Diga-me uma coisa padre, você acredita mesmo que o Arcanjo protege aqueles que são inimigos de Deus?
— Os inimigos de Deus são aqueles que não fazem sua vontade.
— E qual a vontade de Deus? — Marlon o interrompeu — Matar, roubar e destruir? Como vocês vêm fazendo há anos?
— Não confunda os personagens garoto — o exorcista o interrompeu incisivo, ainda assistido pelos administradores da colina — Estas são funções da escuridão.
— Errado — Gayler retrucou, os olhos cintilando deboche enquanto observava Cotton cerrar os punhos — Esta é a função destes que você diz serem protegidos pelo Arcanjo, não é mesmo monitor?
— Olhe como fala Gayler. Você está diante de autoridades.
Ele esboçou um sorriso debochado, percebendo a fúria no olhar de Alex Cotton, porém, antes que falasse alguma coisa, foi interrompido pelo bispo que dera um passo para mais próximo.
— Meu filho, por favor — olhou para o frei desacordado, então tornou a ele — Eu não entendo o que está havendo aqui, mas... peço que nos dê uma chance de ajudá-lo. Eu, como representante desta ordem, não quero o mal de ninguém, apenas o bem. Por favor, ajude-nos para que tudo termine em paz.
— Paz? Quando se pode ter paz quando aquele que deveria zelar por ela não passa de um representante cego e hipócrita? — Gayler rebateu, franzindo o cenho — Ora bispo. O senhor é cego quando se nega a ver o que acontece debaixo do próprio nariz, e hipócrita por ignorar os sussurros que chegam aos seus ouvidos — olhou para o diretor, e este o fixava ansioso, então tornou ao velho — Como pode conviver com sua própria consciência? Como pode aceitar as desculpas que lhe são dadas assim, de forma tão passiva? Se o cargo lhe é pesado, não é arrogância manter-se nele apenas por conveniência?
O bispo demonstrou-se desconfortável e deu um passo para trás. Desde que assumira a administração dos monastérios, sabia que muitas irregularidades eram praticadas, mas ainda assim, era preferível fingir não saber. Escândalos era tudo o que a igreja vinha evitando há séculos, desde o fracasso com a santa inquisição.
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O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]
Romance"Internado contra a vontade em um colégio religioso liderado por freis, Marlon Gayler precisará unir-se a Dan Mason se quiser fugir. Dan é um rapaz igualmente problemático, arrogante e envolto por mistérios. É no curso do plano de fuga que um sentim...