Capítulo 14 - Uma mente atormentada

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Ela estava vívida e bastante verdinha vista lá de cima. Suas agulhas apontavam para todos os lados e as bolinhas coloridas conferiam o aspecto festivo que há muito, em especial os freis, não apreciavam naquele lugar. Fora cortada mais cedo pelo frei Mamute, ajeitada em um belo vaso de barro, e colocada próxima à porta que dava frente à escadaria do hall.

Quem montava o mediano pinheiro era o frei responsável pelas turmas de garotos mais novos, e tinha consigo dois deles como auxiliares, ambos desconhecidos por Gayler, porém o mais jovem, com a voz semelhante à do garoto que ajudara Beterrabas mais cedo no subsolo.

Gayler sentia a sensação do banho quente que acabara de tomar. Empacotado em agasalhos, aguardava a chamada para o jantar, assim como faziam os demais, espalhados pelos limites do monastério.

Encostado ao corrimão da escadaria, observava o movimento. As caixas antes guardadas no lugar empoeirado, agora se espalhavam por ali, e de dentro delas, os auxiliares do frei retiravam vários pequenos enfeitezinhos antigos, que penduravam na árvore exibindo largos sorrisos, empolgados por uma tarefa diferente acontecendo naquele lugar sem vida.

Todos precisavam daquilo, envolver-se com algo para aliviar o estresse do confinamento prolongado.

Desde que os ventos frios bateram à porta, completava aproximadamente uma semana que muitos sequer colocavam a cara do lado de fora. Contê-los aprisionados fora a forma encontrada pela diretoria para evitar um resfriado coletivo, e assim, gastos desnecessários com medicamentos e visitas médicas.

Ainda silencioso, ouvindo os sussurros de garotos parados logo ao lado, Marlon observou quando o frei envolveu a árvore em uma larga extensão de pisca-piscas coloridos. O homem plugou o conector à tomada e sorriu por um momento ao observar as luzinhas dançarem de um lado para o outro, falhando em seguida, quando se apagaram inesperadamente.

Era de se esperar, quinze anos guardadas no subsolo só poderia causar aquilo, o dano na funcionalidade do adereço. O mais triste é que o padre-diretor não autorizara a compra de enfeites novos. A ordem era organizar o lugar com aquilo que já possuíam, e enfeites natalinos era algo desnecessário já que a comemoração não durava por muito tempo.

Ainda observando os enfeites espalhados pelo pinheiro, Marlon pôs-se a recordar o diálogo de Beterrabas com o garoto no subsolo: "Não dê ouvidos ao que os outros dizem irmãozinho" — ele o repreendia — "Mason apenas possui o gênio impulsivo. Ele é um bom rapaz".

Tantas coisas no colega chamavam a atenção, tantas coisas nele o atraiam, e ao mesmo tempo, irritavam. Quanto mais os dias passavam, mais Marlon Gayler sentia necessidade de estar perto dele, de saber quais eram os seus planos, os mistérios que o envolviam.

O olhar permanecia imóvel no mesmo ponto, como se hipnotizado, como se não estivesse ali. E puderas, os pensamentos realmente não estavam. Diferente dos cochichos entre os garotos parados bem ao lado, e resmungos vindos do frei lá embaixo, Marlon estava outra vez perdido naquela escuridão subterrânea, as masmorras do lugar.

Questionava-se do porque todos sussurrarem sobre Mason ser perigoso, do porque Alex Cotton implicar com ele, do porque o garoto perder o controle e tentar agredi-lo. Tantas perguntas sem resposta, tantos questionamentos que precisava fazer na próxima vez que se encontrassem.

— Irmãozinho Gayler? — Marlon se assustou quando a voz meiga com toques de nervosismo soara bem ao lado. Beterrabas surgira de algum lugar além do corredor, e agora, posicionado próximo a ele, passara a observar a expressão abatida em seu rosto. — Está tudo bem com você?

Questionou como se pudesse sentir um toque de melancolia naquele olhar. E sem receber respostas, seguiu seu exemplo. Recostou-se ao corrimão e ficou a observar o movimento no saguão.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora